segunda-feira, 10 de junho de 2013

10 de junho : DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA


BLOG ANO PORTUGAL BRASIL PORTUGAL 

Nota do Editor /Autor deste Blog em 10 de junho de 2013
Ao encerrar-se, nesta data, o ANO PORTUGAL BRASIL o Editor deste Blog encerra suas atividades  e agradece aos gentis leitores de várias partes do mundo. A idéia foi a de guardar as imagens, fatos e ideias que atravessaram este ano 2012/2013. Os posts diários serão consolidados em um arquivo único e postados em seu site pessoal. Oportunamente serão usados como fontes para um livro sobre PORTUGAL, VISÕES E CRISE.
                             www.paulotimm.com.br

Notícias–Visões e Cultura de Portugal – A Crise Econômica
Editor : Paulo Timm– www.paulotimm.com.brpaulotimm@gmail.com

ANO BRASIL PORTUGAL-Acompanhe a programação neste site:

                                                              ***
                                  INDICE
                                                               1.PORTUGAL-Visões
2.NOTÍCIAS
3. PORTUGAL E A CRISE - Memória e Análises
&&&
1–VISÕES – Paula Cabeçadas envia -


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A LETRA LIVRE participa da Feira do Livro de Lisboa e da Feira do Livro em Coimbra. Na Feira do livro de Lisboa, que decorre de 23 de Maio a 10 de Junho, estaremos no Stand D08 representado editoras como &ETC, Averno, Língua Morta, Mariposazual, Fahrenheit 451, Sistema Solar e Documenta, além dos livros usados, fundos e antigos. A Feira de Coimbra realiza-se no Parque Verde de Cidade de 24 de Maio da 2 de Junho. Venha visitar-nos, estaremos com boas promoções e novidades!
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Roseli Saes compartilhou a foto de Azulejos de Azeitao.
Painel Inspirado na azulejaria do sec XIX


Painel Inspirado na azulejaria do sec XIX


Rejane Xavier via LuizAfonso Costa de Medeiros
Não digo?http://static.ak.fbcdn.net/rsrc.php/v2/y4/r/-PAXP-deijE.gif

Salt of Portugal compartilhou um link.
Is it easy to drive in Lisbon and Oporto?
Que coisa linda! Descoberta da Vania Alves via Rejane Xavier

                                                  June 9, 2013 § Leave a Comment
Artists often quip that they have to die before they can make a living. The great 16th century poet Luis de Camões died poor. Here’s how the influential Encyclopedia of Diderot & d’Alembert, published in Paris in 1765, describes his life:
“The famous Camões has done eternal honor to his homeland with his epic poem the Lusíadas. His life and misfortune are well known. Born in Lisbon in 1524 or thereabouts, he took up arms and lost an eye in combat against the Moors. He traveled to the Indies in 1553, offended the Viceroy, and was exiled. He left Goa and took refuge in a deserted corner of the world on the Chinese border. It was there that he composed his poem; the subject is the discovery of a new land of which he himself had been a witness. […]
It is said that he nearly lost this fruit of his genius while traveling to Macau. His ship went down during the crossing, but Camões, imitating Caesar, had the presence of mind to preserve his manuscript by holding it in one hand above the water while he swam with the other. Upon return to Lisbon in 1569, he spent ten unhappy years and finished his life in a hospital in 1579. Such was the fate of the Portuguese Virgil.”
Camões knew from classical Greek literature that there are two choices: to live an ordinary life and be forgotten, or struggle for greatness and have a chance of immortality. The mythical Achilles sacrificed his life at Troy, but his fame lives forever.
Camões gave his life to the Portuguese language. Every year, on June 10, we celebrate his immortality.

OBSERV ATORIO DA LINGUA PORTUGUESA -Ligações
·         Sabia que ...

A MORADA DO SER
Paulo Timm - Editor do Blog
                                     
E a literatura, mais que avenida ou praça
por onde cavalga a glória, é um monumento,
sim, de dúbia estória: granito e rima,
alegoria ao vento, lugar onde carentes
e arrogantes
cravamos nosso nome de turista:
-estive aqui, desamado,
riscando a pedra e o tempo
expondo meu sangue e nome
com o coração trespassado. (
Affonso Romano de Sant'Anna in   Ferida Exposta ao Tempo - http://www.baciadasalmas.com/rubricas/girias-e-falares/)


Palavras sempre sabem o que querem” . (Adriana Falcão , Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento)

Parece que não temos saída. O Planeta voa em direção à sua auto-consumação. Resta-nos, entretanto, a ética da resistência ou a estética da existência através do discurso.
A propósito destas alternativas, dia 10 de junho celebra-se o Dia da Língua Portuguesa, data da morte de Luiz de Camões, “Pai da Língua”, autor de “Os Lusíadas”, em 1589. É com a língua que resistimos e existimos como espécie. E que nos diferenciamos na Babel de povos distintos. O próprio português do Brasil, distanciando-se do lusitano,  é um amálgama do poder colonial com  a malemolência tropical, obrigada, por duas vezes, a discriminar o tupi, amplamente falado no território até o final do século XVIII: Pelo Marquês do Pombal, em  17 de agosto de 1758,  e por Dom João VI, em 1808.  A língua é, de resto,  nossa primeira prisão, nas malhas da  razão que a própria razão desconhece; mas é também, nossa única possibilidade de alforria, pelo exercício da liberdade. 

Em 1968, por exemplo,  às vésperas do AI-5, uma canção, de Geraldo Vandré, sintetizou este poder da língua, ao ser interpretada nas eliminatórias por ele próprio no III Festival Internacional da Canção, transformando-se no maior hino de repúdio à ditadura militar: "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores" ou "Caminhando". Até hoje, para quem viveu, mesmo de longe, aqueles momentos, não há como sufocar  à forte emoção que evoca e que bem demonstra o importante papel da cultura, em seu vasto espectro, na redemocratização do país, independentemente do grande enigma que Vandré ainda representa em sua poética solidão.(É patética sua fala, mas digna de respeito, tanto pelo personagem humano, como pelo gênio artístico ineludível,  na recente entrevista concedida a Geneton de Moraes Neto, na GloboNews):

“Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora”

Lamentavelmente,  os comentaristas da grande mídia obnubilam a data da língua, preferindo as estatísticas da economia, no melhor estilo da velha tradição,   tão condenada pelos verdes: a maldição do PIB. Mas se a moeda forte nos mercados globais não é o real; se a tecnologia, até mesmo do provecto automóvel  “nacional” , vem de fora; e  se a economia está se desindustrializando, sob o fascínio da exportação de commodities que nos aferra à matriz colonial, tão condenada por Caio Prado Jr., desde seus primeiros escritos econômicos da década de 30 do século passado, o vernáculo é nosso.  Fernando Pessoa, Poeta Maior da língua, ia mais longe. A língua, para ele se confundia com a própria pátria, no melhor estilo heideggeriano, para quem a palavra é a morada do ser:

“As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie – nem sequer mental ou de sonho - , transmudou-se o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintática, me faz tremer como um ramos ao vento , num delírio passivo de coisa movida.         (...)
Não tenho sentimento político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a ortografia sem ípsilon, como o escarro direto que me enjoa independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da trasliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

(Fernando Pessoa -  Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Lisboa, Ática, 1982)
Mauro Santayana, decano do jornalismo brasileiro, não vai tão longe. Mas defende a língua escrita como  fundamento da soberania e tem uma posição de defesa intransigente da pureza do idioma:
“Demolir a linguagem é demolir o homem. Quando se trata de política de Estado, é crime contra o povo.”
(Mauro Santayana, Linguagem e Soberania – www.maurosantayana.com)
Mais do que         morada, pátria e essência da soberania de um povo:  A linguagem escrita é um momento do processo civilizatório que potencia a comunicação humana elevando-a culturalmente. A importância da Grécia Antiga consistiu precisamente no fato de que foi a simplificação da sua escrita , de base fonética, mais avançada do que as paralelas,   que proporcionou uma  inédita sinergia  da inteligência da época naquela região, culminando no requinte do helenismo.   E, mesmo sucumbindo ao poder de Roma, foi esta cultura que forjou os valores fundamentais da cultura ocidental, demonstrando o poder da palavra trasliterada na “última flor do Lácio”:
Língua portuguesa
Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
            ( "Poesias", Livraria Francisco Alves - Rio de Janeiro, 1964, pág. 262)

É pelas palavras escritas e pela língua falada que nos identificamos como um povo no seu cotidiano. Por elas  nos eternizaremos como cultura, sendo, portanto nossa maior riqueza, aquela que se projeta como mito. Podemos não comer palavras, no sentido literal, nem chegar com elas, literalmente, às estrelas. Para tanto, farse-ão indispensáveis a boa matemática, a física e a tecnologia. Mas pela palavra dizemos do nosso espanto e descobrimos o logon da  fina teia de Ariadne. E pela palavra cantamos nossos sentimentos, suportando a dor e revalorizando a existência. E quando a palavra corta, abre-se o silêncio que grita:
“A última palavra é a palavra do poeta; a última palavra é a que fica.
A última palavra de Hamlet:
O resto é silêncio.
A última palavra de Júlio César:
Até tu, Brutus?
A última palavra de Jesus Cristo:
Meu pai, meu pai, por que me abandonaste?
A última palavra de Goethe:
Mais luz!
A última palavra de Booth, assassino de Lincoln:
Inútil, inútil…
E a última palavra de Prometeu:
Resisto!”

(José Antonio Küller  - Liberdade, Liberdade - http://josekuller.wordpress.com/3-liberdade-liberdade/)

JUNHO 10 – DIA DA LÍNGUA

Observatorio da Língua Portuguesa: Editorial


UMA IDENTIDADE ABERTA E PLURAL
Por Guilherme d’Oliveira Martins*
«A identidade nacional, tal como existe hoje, resulta de um processo histórico que passou por diversas fases até atingir a expressão que atualmente conhecemos» - disse José Mattoso, por certo o mais lúcido analista da identidade portuguesa.
E a verdade é que a permanência do território europeu e das suas fronteiras, ao longo dos séculos, bem como a importância de uma língua antiga, com projeção intercontinental, falada por mais de duzentos milhões de falantes constituem duas características importantes que devemos lembrar.
Temos as fronteiras estáveis mais antigas da Europa, somos a terceira língua europeia mais falada no mundo e o idioma mais usado no hemisfério sul. No entanto, como tem sido salientado pelos estudiosos da questão portuguesa, a nossa identidade tem-se afirmado ao longo dos tempos, desde o século XII, a partir da sua capacidade de se enriquecer através do contacto com outras identidades e outras culturas.
A cultura portuguesa sempre se tornou mais rica, abrindo-se, dando e recebendo. Formámo-nos como um cadinho de diversas influências – a partir dos vários povos que foram chegando à finisterra peninsular e se misturaram. E essa qualidade de receber e de se relacionar permitiu, a partir do século XV, a gesta de ir à descoberta de outras terras e outras gentes.
Há, assim, um enigma bem presente, que é o de tentar saber por que motivo fomos mar adiante – a «dar novos mundos ao mundo». E se Eduardo Lourenço fala de uma superidentidade, di-lo como uma espécie de compensação, de quem vive dividido entre a recordação histórica de velhas glórias e a consciência presente de dificuldades e limitações.
Por isso, os nossos mitos tornam-se importantes, não para explicar, mas para cuidar da sua crítica para obter a respetiva superação.
Jaime Cortesão falou do «nosso» humanismo universalista de fundo franciscano, para significar que a dignidade humana está no centro da nossa «aventura».
S. Teotónio, companheiro de D. Afonso Henriques e alma dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, de Santa Cruz de Coimbra, criou um centro erudito, animado pelo riquíssimo diálogo mediterrânico, renovador do pensamento europeu.
Santo António de Lisboa, discípulo de Santa Cruz e companheiro do Pobre de Assis contribuiu decisivamente para renovação teológica e cultural do franciscanismo na Europa e no mundo.
Gil Vicente, Sá de Miranda e Camões usaram o tempo e o espírito para pôr a tónica nesse universalismo de ideias e valores. E o Padre António Vieira tornou as «Trovas» de Bandarra uma chamada a um desejo vivo e não morto, transformando a lembrança funesta de Alcácer Quibir num apelo de renascimento e restauração.
No entanto, era mais fácil a invocação de um encoberto morto, com raízes fundo celta, trazido da noite dos tempos do ciclo bretão e dos cavaleiros da tábua redonda.
Daí a ciclotimia que ainda nos distingue – entre momentos altos e baixos, entre o mistério da história e a dura tomada de consciência das fragilidades, que Alexandre O’Neill resumiu: «Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, / golpe até ao osso, fome sem entretém, / perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes, / rocim engraxado, / feira cabisbaixa, / meu remorso, / meu remorso de todos nós».
O atual tempo de crise leva-nos a lembrar uma ancestralidade, que obriga a superar o «país sonâmbulo», que Miguel Real recorda, bem como o prefaciador da obra, José Eduardo Franco: a história antiga; o amor-próprio; a sede arreigada de independência; os nove séculos de dificuldades e de vontade; a capacidade de manter uma identidade aberta; a recusa do fatalismo da mediocridade; o sentido crítico que permite ir à luta e não desistir; a consciência dos defeitos e a tentação do ilusório sonho; a contradição de nos acharmos os melhores ou os piores e o sentido trágico que leva à permanência, apesar de tudo.
No entanto, estes elementos têm de ser vistos num percurso lento e complexo. Fernão Lopes retrata os alvores da realidade dos portugueses como projeto próprio de autonomia e emancipação, para além do reino político.
João de Barros, nas «Décadas», encontra pela primeira vez os portugueses no mundo.
«Os Lusíadas» e Camões apresentam a nossa história como uma epopeia digna dos clássicos.
Fernão Mendes Pinto ligou a aventura e o drama, o picaresco e a história.
A restauração de 1640 obrigou a consolidar a herança histórica própria. O quinto império abriu caminho à consideração do universalismo da dignidade humana, até que os últimos séculos foram afinando a «arte de ser português», agora, mais uma vez em encruzilhada decisiva. E a vontade, como afirmou Alexandre Herculano, tem tido um papel decisivo. «Somos porque queremos». Eis um motivo de esperança e de sentido crítico.
«Se a Europa é o lugar natural de Portugal, o seu lugar histórico é, hoje, a lusofonia (…). Os Descobrimentos fizeram-nos, constituíram o nosso tempo de adultos históricos, selaram a nossa identidade nacional. (…) Neste sentido, (continua Miguel Real) devemos sempre juntar ao nosso lugar natural (a Europa) o nosso lugar histórico (a lusofonia), este atualmente mais importante do que aquele, porque conquistado e realizado com sucesso».
E diga-se, em abono da verdade, que o europeísmo de que Eduardo Lourenço tem falado e cuja crise profundamente o preocupa não é concebido doutro modo – Portugal é Europa e é universalismo.
Lorenzo Natali sempre afirmou que Portugal na Europa traria sempre a sua história, e o cosmopolitismo somar-se-ia ao universalismo. «Deste modo, o máximo de recursos possíveis dos países lusófonos deve ser vazado na educação e na cultura, pondo a tecnologia ao serviço destas e não o contrário, como a Europa tem feito, desenraizando de valores comunitários o atual homem europeu, um homem tecno-burocrata».
E, em síntese: «finalmente, a comunidade lusófona deve constituir um espaço de paz absoluta sob tripla garantia: a da inexistência de guerra entre os seus membros; a da inexistência de guerra no interior do território de cada membro e a da defesa comum, caso um dos seus membros seja atacado.
Neste sentido, o regime democrático, por mais imperfeito que seja, deve ser considerado a configuração política constitucional do Estado entre todos os membros da comunidade, obstando à substituição do poder por via militar» (M. Real).
A reflexão obriga, no fundo, a ligar uma identidade aberta e uma ligação generosa de caminhos independentes e complementares, sem paternalismos nem saudosismos.
A lusofonia é uma teia complexa de diferenças. E, como disse Vieira na sua «Clavis Prophetarum» é uma prefiguração do respeito inteiro pela eminente dignidade de todas as pessoas.

Falar da identidade e da língua é invocar, antes de tudo, a responsabilidade da cidadania. Não há cultura viva sem o envolvimento dos cidadãos.
Daí a importância da mobilização de todos em torno do estudo, da investigação, da divulgação, da cooperação científica e académica, da partilha de informações, da proteção do património cultural e da utilização adequada de recursos materiais e imateriais com vista à afirmação da identidade e da língua, numa perspetiva aberta e fecunda.
Um mundo global obriga à preservação das diferenças e ao suscitar das trocas e complementaridades. Daí a importância do Observatório da Língua Portuguesa – espaço de cooperação e de partilha, numa lógica em que a Língua seja um espaço de várias culturas e em que a cultura salvaguarde a vitalidade das línguas, como realidades vivas de inovação e criatividade.

* Presidente da Mesa da Assembleia Geral do OLP-Observatório da Língua Portuguesa


LUÍS DE CAMÕES - POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS

http://virtualiaomanifesto.blogspot.com.br/2009/04/luis-de-camoes-por-mares-nunca-dantes.html



No final do século XV Portugal tornou-se uma nação voltada para as grandes navegações que expandiriam o mapa do mundo, descobrindo novas terras e continentes. Dividiu o mundo novo com a Espanha, através do Tratado de Tordesilhas, em 1494, tornando-se uma das mais poderosas nações. O apogeu viria com o rei Dom Manuel I, que viu em seu reinado a saga de Vasco da Gama, que chegou a Calicute, na Índia, em 1498; e, Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil em 1500. A saga portuguesa pela conquista dos mares findaria em 1578, quando o rei Dom Sebastião morreu em Alcácer-Quibir, norte da África, sem deixar descendentes. Em 1580 Portugal passaria a ser governado pelos reis da Espanha, também eles descendentes de reis portugueses. A saga chegara ao fim.
Luís de Camões, maior poeta da língua portuguesa, viveu neste período glorioso da história do seu país e morreu com ele. Sua vida é obscura, com poucos registros históricos, sendo o pouco que se conta ou que se sabe, muitas vezes de veracidade duvidosa, às vezes beirando à lenda. Entretanto a sua obra é conhecida no mundo inteiro. O épico “Os Lusíadas” faz parte da galeria de obras universais, tendo a sua tradução para diversas línguas, sendo admirada pelos maiores escritores do mundo e pelos amantes da literatura.
Camões, dono de uma erudição grandiosa, descreveu a saga do seu povo, mesclando figuras mitológicas com personagens seculares, transformando mitos gregos em personagens lusitanos, como o Adamastor, versão do Poseidon (Netuno), senhor dos mares; ou as Tágides, ninfas do Tejo, rio símbolo de Portugal, que deságua em Lisboa, foi porto de partida para as grandes navegações.
Luís de Camões é o símbolo do orgulho lusitano, da sua força e da coragem desbravadora. Viveu intensamente, em diversos lugares, como Macau, Goa e Moçambique, na sua intensidade poética, teve uma vida de grandes dificuldades econômicas, que lhe fez chegar à beira da miséria. Após percorrer as terras da expansão lusitana, voltou a Portugal, para lançar, em 1572, a maior obra da literatura portuguesa, “Os Lusíadas”. Morreu poucos anos depois, em 1580, esquecido e sem que se lhe desse a devida importância, vítima da peste que assolava Lisboa. Com a sua morte, também o apogeu português morreu, só sendo revivido e contado nas páginas do seu poema épico. O dia 10 de junho, data da sua morte, tornou-se o dia de Portugal.

Um Poema

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais
E, se torna, não tornam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto são iguais,
Nem sempre são conforme as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado
Que quase é outra cousa; porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento são espias.

Erudição em Coimbra
O ano de nascimento de Luís Vaz de Camões é incerto, sendo considerado entre 1524 e 1525, provavelmente em Lisboa. Também a sua filiação é tida como duvidosa, tendo como versão mais aceita a de que era descendente de uma família de pequena nobreza de Chaves, norte de Portugal, tendo como pai o fidalgo Simão Vaz de Camões e Ana de Sá Macedo, como mãe.
Provavelmente Camões passou a infância em Coimbra, o maior centro cultural de Portugal da época, com as suas Escolas Gerais (universidade), tendo ali, a orientação do seu tio, dom Bento de Camões, prior do convento de Santa Cruz e docente da universidade. É aceito por historiadores, que o poeta teria freqüentado o Estudo Geral da Universidade de Coimbra, o que explicaria a sua imensa erudição e conhecimentos de humanísticas, das obras de Petrarca, de Dante, dos filósofos gregos e dos poetas latinos. Mas nenhum registro dessa passagem consta nos arquivos da universidade.
Ainda em Coimbra, reza a tradição que muito jovem, era um ardoroso conquistador, tomando para si os corações de diversas mulheres, das plebéias às damas mais belas da nobreza, tornando-se alvo da inveja dos ricos fidalgos. Sua juventude foi presenteada aos livros, aos prazeres do espírito e do corpo.
A necessidade visceral que Camões tinha de desbravar os lugares mais eruditos, provavelmente levou-o a abandonar Coimbra antes de concluir os estudos, assim, o jovem poeta partiu para Lisboa, sendo aceito na corte de dom João III, devido à influência da sua ascendência fidalga. Camões exalaria a sua fama de poeta por toda Lisboa, perpetuando-se como a principal personagem da história da cidade.

Perda do Olho Direito
Na corte lisboeta, o jovem poeta faz versos ardentes e apaixonados para uma dama loura e de olhos claros, cujo nome jamais será revelado. Alguns historiadores apontam o jovem Camões como preceptor do filho do conde de Linhares, linhagem da nobreza portuguesa que seriam protetores do poeta por toda a sua vida aventureira.
Seu vigor juvenil, sua fama de conquistador de damas e os seus conhecimentos infindáveis das letras, geraram inveja e intrigas, que ele próprio participou, corroborando para que crescessem. Aos 24 anos, as teias das intrigas levaram-no à vida aventureira e errante que o lançaria para a história do seu povo. Assim, vitimado pelas efervescências de Lisboa, resultante de um amor mal sucedido, Camões foi desterrado para Belver, interior de Portugal, no Alto Alentejo.
Algum tempo depois de deixar a vida no Paço, Camões recebeu um despacho real, que o enviou transferido de Belver para Ceuta, no norte da África, lugar que servia como base para deter o avanço dos mouros nas investidas contra a península Ibérica. Teria sido em Ceuta que ocorrera um fato que marcou para sempre a vida do poeta, num combate que tomou parte, perdeu o olho direito. Desde então, a imagem de Camões seria para sempre representada com esta deformidade, sendo os seus retratos marcados pela evidência do logro físico.

A Caminho da Índia
Ao retornar a Lisboa, o poeta já não encontrou a deferência das pessoas, ou mesmo a presença dos velhos amigos. Seu rosto, marcado pela perda do olho direito, já não atraía às belas damas da corte. Estava irremediavelmente sozinho.
Em 16 de junho de 1552, Luís de Camões envolveu-se em um incidente que lhe iria mudar a vida. Ao participar da procissão de Corpus Christi, o poeta desentendeu-se com um certo Gonçalo Borges, funcionário da Casa Real. Este é um dos poucos fatos da vida de Camões que está devidamente relatado por um documento histórico, a Carta do Perdão, de 1553. Não se sabe o motivo da desavença, a conseqüência foi o poeta a desferir um grave golpe de espada no pescoço do desafeto. Camões foi levado à prisão, onde ficou preso durante nove meses, enquanto Gonçalo Borges restabelecia-se do ferimento.
Em 1553, Camões foi indultado, mediante o pagamento de quatro mil réis exigidos pelo rei. Poucos dias após ter deixado a prisão, o poeta embarcou como simples soldado, na armada de Fernão Álvares Cabral, filho de Pedro Álvares Cabral, rumo a Goa, na Índia.
Ao embarcar para a Índia, Camões iniciava o processo de conhecimentos que seriam fundamentais para a criação do seu poema épico, “Os Lusíadas”. Os seis meses que passaria no mar, a caminho de Goa, levar-lhe-iam por terras ignotas, jamais imaginadas ou concebidas na imaginação de um poeta. Da calmaria das costas africanas, às tempestades marítimas do oceano Índico, Camões conheceu terras selvagens, civilizações exóticas ao seu mundo cristão, tudo a se mesclar com os clássicos gregos, formando na sua mente um imenso mosaico que quando foi transportado para o papel, tornar-se-ia a maior obra do povo português.

Lendas e Verdades na Composição de “Os Lusíadas
Ao contrário dos seus compatriotas contemporâneos, que construíram grandes fortunas nas possessões asiáticas portuguesas, Luís de Camões passou três anos em Goa a viver na mais completa miséria.
Em 1556, foi nomeado para o cargo de provedor-mor dos bens de defuntos e ausentes da China, partindo para Macau. É deste tempo a sua participação em refregas militares, com ataques aos nativos que combatiam os portugueses; batalhas contra os beduínos na Arábia e expedições a Malaca e ao Vietnã.
Seria durante o tempo que viveu em Macau que, conta a lenda, teria escrito o épico “Os Lusíadas”. A idéia do poema teria surgido em Lisboa, mas a composição dos seus dez cantos, é fruto incontestável das suas andanças pelo continente asiático.
A composição de “Os Lusíadas” perde-se da veracidade histórica e assimila a narrativa romântica da lenda. Teria sido escrita em Macau, numa gruta à beira mar, para onde o poeta dirigia-se todos os dias. Enquanto compunha verso a verso, era acompanhado da sua amada chinesa, Dinamente. A gruta atribuída à composição de “Os Lusíadas” é pequena, quase uma fenda na rocha, freqüentemente inundada pelas águas da maré alta, sendo impossível que se permaneça tanto tempo dentro dela.
A lenda e a história confundem-se em uma só. Ao retornar para Goa, em 1560, Camões naufragou no caminho, na foz do rio Meckong, salvando-se a nadar apenas com um braço, tendo o outro estendido acima das ondas, erguendo heroicamente “Os Lusíadas”, salvando o seu poema épico.

Publicação de “Os Lusíadas
À volta a Goa foi feita com o poeta mantido sob custódia, para ser julgado, acusado de não ter exercido plenamente a função de provedor-mor sobre os bens dos defuntos e ausentes em Macau, sendo destituído do cargo. Livra-se do julgamento pela intervenção de um amigo influente, conseguindo uma nomeação como feitor em Chaul.
Camões não chega a exercer a nova nomeação, pois é preso por dívidas, através de um requerimento de um certo Manuel Roriz. O poeta escreve um poema humorístico ao vice-rei, Francisco de Sousa Coutinho, o conde do Redondo, a pedir o seu auxílio, sendo por ele libertado.
Camões só deixaria a Índia em 1567, embarcando numa nau rumo a Moçambique, com a passagem sendo oferecida pelo capitão. Na África, o poeta pensava em recorrer à ajuda de um amigo, mas teve as esperanças frustradas, passando a viver ainda com maiores dificuldades.
Foi encontrado pelo historiador Diogo do Couto, em Moçambique, a viver na mais completa miséria, a comer do que lhe dava alguns amigos. O poeta retornaria para Lisboa com Diogo do Couto, que juntamente com outros companheiros embarcados, vestiu-lhe roupas para que pudesse viajar e chegar à corte com mais dignidade ante a miséria que se lhe abatera.
Ao regressar a Lisboa, em 1570, fica a saber da grande peste que assolou a cidade de 1568 a 1569. Já não possui qualquer acesso a corte. Empenha-se em publicar “Os Lusíadas”. Aperfeiçoa a obra, faz uma cópia especial para dedicar ao rei dom Sebastião. Sob a influência do amigo de juventude, dom Manuel de Portugal, o frade dominicano Bartolomeu Ferreira, responsável pela censura do Santo Ofício, não criou obstáculos para a publicação do épico, mesmo ela contendo a presença de divindades pagãs, o que era proibido pela Inquisição. Sobre as figuras pagãs, Bartolomeu Ferreira justificou no seu despacho inquisitorial: “Como isto é poesia e fingimento, e o autor, como poeta, não pretende mais que ornar o estilo poético, não tivemos por inconveniente ir esta fábula na obra. E por isto me parece o livro digno de se imprimir, e o autor mostra nele muito engenho e muita erudição nas ciências humanas”.
Assim, um alvará régio de setembro de 1571, concedeu a licença de publicação da obra, e garantiu os direitos de autor de Camões por dez anos. Em 1572 foi publicado, pela primeira vez, “Os Lusíadas”.

Morte do Poeta e Fim da Autonomia de Portugal
Após a publicação de “Os Lusíadas”, dom Sebastião concedeu uma tença de quinze mil réis por ano a Luís de Camões, quantia pequena quando comparada a outras pensões concedidas na época. A pensão era paga com atraso, causando grandes transtornos ao poeta, que passou os últimos anos de vida preso às limitações financeiras.
Em 1578, o rei dom Sebastião desapareceu nas areias do deserto de Alcácer-Quibir, em meio a uma sangrenta batalha contra os mouros no norte da África, sem deixar descendentes, deflagrando uma grande crise sucessória no trono português.
De 1579 a 1581, Lisboa foi assolada por uma nova epidemia de peste, ceifando várias vidas. Camões contraiu a peste em 1580, sucumbindo em cinco dias, morrendo em 10 de junho.
No meio da epidemia, gerou-se um caos diante de tantos cadáveres acumulados para que fossem inumados. O corpo de Luís de Camões foi envolvido em uma mortalha e atirado, ao lado de outros mortos pela peste, na cripta da igreja de Santa Ana, em Lisboa. Permaneceu ali, até que o grande terremoto de 1755, que destruiu a cidade de Lisboa quase que por completo, derrubou o templo, misturando as ossadas que se encontravam ali. Em 1880, todas as ossadas que jaziam na igreja, foram levadas para o Panteão Nacional e para o Mosteiro dos Jerónimos, onde foram estabelecidos, nos dois locais, os túmulos oficias de Luís de Camões, embora não se saiba se aquelas ossadas pertençam realmente ao poeta.
Em 1580 Portugal perdia a sua autonomia, passando a ser governado pelo rei espanhol Filipe II (I de Portugal), descendente de dom Manuel I. Portugal perdia o esplendor alcançado, desaparecido com o seu maior poeta. Mas o reconhecimento do valor de Luís de Camões só viria muito tempo depois. “Os Lusíadas” passou a fazer parte da literatura universal, sendo admirado por pessoas do mundo inteiro. A data da morte do poeta, 10 de junho, passou a figurar como feriado e tido como dia da nação lusitana. A glória desta nação está para sempre registrada no poema épico de um escritor genial, com estilo cravado no classicismo e maneirismo, mas com pinceladas do barroco que despontava, nos paradoxos do famoso poema conhecido por “Amor é fogo que arde sem se ver”.

Outro Poema

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?


 


2-  NOTICIASPortugal sem passaporte – o povo




JB ON LINE – Brasil
Brasil e Portugal poderão cooperar em pesquisas na área de nanotecnologia
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10-Jun-2013
JB ONLINE

Lisboa - O governo federal vai lançar um edital para pesquisa e cooperação entre Brasil e Portugal na área de nanotecnologia, anunciou hoje (9) o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, em entrevista à imprensa, ao chegar à capital portuguesa. Mercadante informou que também está sendo preparado um edital para cooperação técnica nas áreas de biotecnologia e tecnologia de informação e comunicação.
O ministro falou também sobre o problema de trabalho dos engenheiros brasileiros em Portugal, garantindo que tudo está sendo resolvido pelo governo. "Haverá política de reciprocidade mais depressa do que ocorreu no caso dos dentistas", disse Mercadante. Ele se referia às dificuldades dos dentistas brasileiros em Portugal, que se arrastaram por toda a década de 90 do século passado, com os profissionais enfrentando obstáculos para instalar seus consultórios em território português.
Mercadante integra a comitiva oficial da presidenta Dilma Rousseff, que chegou hoje a Portugal. Durante a visita, também deve ser tratada a suspensão do edital para vinda de estudantes brasileiros a Portugal pelo Programa Ciência sem Fronteiras. A decisão de não enviar novos estudantes a Portugal e remanejar os selecionados nos editais de 2013 foi tomada em março.
Em maio, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (Crup) divulgou nota lamentando a decisão do governo brasileiro de suspender a concessão de bolsas de estudos para alunos de graduação do Ciência sem Fronteiras em instituições do país. O Crup equivale no Brasil à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Soares e Dilma concordaram "praticamente em tudo"

Após uma reunião com a Presidente brasileira, Mário Soares elogiou a inteligência de Dilma Rousseff e deixou uma mensagem: o Brasil pode ajudar, mas Portugal "tem de sair da crise pelos seus próprios meios" através da demissão do governo.

14:38 Segunda feira, 10 de junho de 2013Última atualização há 3 minutos

Tiago Miranda Soares disse ser "uma alegria" ter o Brasil na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
O antigo presidente da República Mário Soares defendeu hoje, após uma reunião com a presidente brasileira, que o Brasil poderá ajudar, mas Portugal tem de sair da crise pelos seus próprios meios, o que passa pela demissão do Governo.
"O Brasil pode sempre ter [um papel], mas nós vamos ter de sair da crise pelos nossos próprios meios e eu acho que uma boa maneira de sair da crise é que este Governo se demita", disse o ex-chefe de Estado, acrescentando que o executivo "já o devia ter feito".
Soares falava aos jornalistas à saída de um encontro com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, em visita de Estado a Portugal, proposto pelo próprio ex-presidente
Num balanço da reunião, o ex-presidente disse ter ficado "extremamente encantado" com Dilma, que não conhecia e considerou "superiormente inteligente" e "extremamente simpática".
"Somos camaradas, temos um pensamento muito próximo (...) somos ambos de esquerda, temos um pensamento muito claro acerca do que se está a passar e concordámos praticamente em tudo", disse Soares sobre a reunião, que demorou cerca de uma hora e decorreu num hotel de Lisboa.
Considerando-se um "brasilófilo, um grande amigo do Brasil", Soares disse ser "uma alegria" ter o Brasil na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ao contrário do que pensam os britânicos, que "sempre tiveram medo de meter a América na Commonwealth.
"O Brasil é um país irmão, um país que respeitamos muitíssimo e queremos que progrida como está a progredir", afirmou.
Na sua segunda visita oficial a Portugal, que coincide com o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a presidente brasileira estará na cerimónia de entrega do Prémio Camões a Mia Couto, no Palácio de Queluz.
Depois da cerimónia, Dilma Rousseff participará num jantar oferecido pelo Presidente Cavaco Silva, antes de seguir, ao fim da noite, de regresso ao Brasil.
Brasil reconhece cursos de engenharia e arquitetura portugueses
Lusa

14:57 Segunda feira, 10 de junho de 2013

Lisboa, 10 jun (Lusa) -- Os cursos de engenharia e arquitetura portugueses vão ser reconhecidos pelo Estado brasileiro que assina hoje à tarde no Ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa o acordo com Portugal, disse à Lusa fonte diplomática.
"O Brasil vai passar a reconhecer os cursos de arquitetura e engenharia, depois de um ano de intenso trabalho diplomático" disse à Lusa a fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
O acordo sobre o reconhecimento dos cursos põe fim a um longo processo e vai ser firmado no Palácio das Necessidades em Lisboa pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, pelo ministro das relações Exteriores do Brasil, António Patriota e conta com a presença dos ministros da Educação dos dois países.

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/brasil-reconhece-cursos-de-engenharia-e-arquitetura-portugueses=f813105#ixzz2Vp3S8q2u

3. A CRISE

RESISTIR -  http://resistir.info/
Por uma resposta socialista de combate: http://porumarespostasocialistadecombate.blogspot.com.br/
Congresso Alternativas - http://www.congressoalternativas.org
Esquerda Net : http://www.esquerda.net
MIL: MOVIMENTO INT LUSÓFONO:  www.movimentolusofono.org



FRANCISCO LOUÇÃ – Frente a frenta

Resolução
Basta de exploração e empobrecimento

GOVERNO RUA!

GREVE GERAL
27 Junho 2013


PS e PCP já valem 50 por cento juntos

Sondagem do mês de junho mostra nova subida de comunistas e socialistas na intenção de voto dos portugueses. - Martim Silva
12:21 Sexta feira, 7 de junho de 2013

  O PS e a CDU são as únicas forças políticas a subir na sondagem da Eurosondagem do mês de junho para o Expresso e a SIC, conseguindo mesmo o valor mais elevado dos últimos dois anos.
Na inversa, e na semana em que se assinalam os dois anos da vitória eleitoral de Passos Coelho, o PSD e o CDS/PP continuam a descer nas intenções de voto.
Quanto à popularidade dos líderes políticos, o cenário repete-se, com António José Seguro e Jerónimo de Sousa a melhorarem no indíce de aceitação dos portugueses quanto à sua actuação.
Cavaco Silva continua a sua queda, confirmando-se como o mais impopular Presidente da República do Portugal democrático.


Ficha técnica
Estudo de opinião efetuado pela Eurosondagem, S.A. para o Expresso e SIC, de 30 de maio a 4 de junho de 2013. Entrevistas telefónicas realizadas por entrevistadores selecionados e supervisionados. O universo é a população com 18 anos ou mais, residente em Portugal Continental e habitando lares com telefone da rede fixa. A amostra foi estratificada por região (Norte - 20,4%; A.M. do Porto - 14,4%; Centro - 29,2%; A.M. de Lisboa - 26,3%; Sul - 9,7%), num total de 1028 entrevistas validadas.Foram efetuadas 1233 tentativas de entrevistas e, destas, 205 (16,6%) não aceitaram colaborar no estudo de opinião. Foram validadas 1028 entrevistas, correspondendo a 83,4% das tentativas realizadas. A escolha do lar foi aleatória nas listas telefónicas e o entrevistado, em cada agregado familiar, o elemento que fez anos há menos tempo.Desta forma aleatória resultou, em termos de sexo (feminino - 51,4%; masculino - 48,6%), e, no que concerne à faixa etária (dos 18 aos 30 anos - 19,6%; dos 31 aos 59 - 48,4%; com 60 anos ou mais - 32,0%). O erro máximo da amostra é de 3,06%, para um grau de probabilidade de 95,0%. Um exemplar deste estudo de opinião está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Meu filho, deixa que te diga

7 de junho de 2013 por as minhas leituras deixe um comentário
Meu filho,
Chegaste a casa empolgado da manifestação, vieste com os olhos brilhantes a falar da mudança do sistema e do grande crime que as gerações mais velhas cometeram para com os da tua idade. Vieste a falar do “massacre geracional” e dos benefícios dos reformados que serão vocês que sustentam. Disseste até que são explorados hoje e que, quando for a vossa vez, não terão o dinheirinho da reforma à vossa espera. Pois, filho, deixa que te diga umas coisas para acrescentares à tua reflexão.
Eu e a tua mãe vivemos sempre do que pudemos ganhar com o nosso trabalho.Eu entrei para o Ministério como auxiliar de contabilidade, depois de tirar o curso à noite, a trabalhar de dia como vendedor, porque o meu pai, pobre agricultor, mal ganhava para o sustento dos meus irmãos mais pequenos. Nunca gostei de contabilidade, gostava era de vender, mas era uma profissão certa e eu tinha família para sustentar. A tua mãe ficou em casa, a cuidar de ti e da tua irmã, porque não havia escolas para os pequenitos e as vizinhas já não podiam tomar conta de mais crianças. Sempre sonhei montar o meu escritório de contabilista mas o que queres? Como funcionário teria direito à pensão para a qual descontava, a minha família beneficiava da ADSE, para a qual descontei, era a segurança da minha velhice e da tua mãe. Fiquei, fiquei 42 anos e reformei-me como chefe de repartição, a tua mãe com muito menos porque só descontou 20 anos como auxiliar numa escola. Com a velhice assegurada, ainda que modestamente, pagámos os teus estudos até tarde, já tinhas mais de 25 anos quando acabaste o curso na Universidade privada porque nunca tiraste média para ir para o ensino público. Foi com o meu salário que te compramos a mota, depois te demos a carta e o automóvel, foi porque pensámos que não precisaríamos de juntar para a velhice mais do que o que descontávamos que te pagámos os anos de inglês, o karaté, as viagens nas férias com os teus amigos. Sim filho, deixa que te diga, acusaste-me tantas vezes de ser conformado, de ir para a repartição e ter um salário modesto, querias que arriscasse, abrisse um negócio, como o pai da Elsa, a rapariga de quem estás divorciado, mas se eu deixasse tudo lá se ia a minha pensão e a protecção na saúde, teria que juntar para a minha velhice e da tua mãe e não poderia dar-te e à tua irmã o que tanto gostavam.
Comprámos a casa a crédito porque já não suportavas o bairro modesto, a casa alugada e velha, querias viver bem, a tua irmã dizia que tinha vergonha de levar lá os amigos do colégio, pagámos a casa mesmo a tempo de te ajudar a comprar a tua, quando casaste e o pai da Elsa já estava em sarilhos com os seus negócios. Ainda te disse para ficarem lá em casa, até endireitarem a vida, a tua irmã já estava a estudar fora, no Algarve, no curso que escolheu, com um esforço acomodavámo-nos todos, mas não quiseste, gritaste que eu era manga-de-alpaca, que nunca teria uma vida capaz, a prova é que nunca saí da repartição, a contar com a reforma e as pantufas. Pois é, filho, desculpa, pensei que podia gastar contigo e com a tua irmã o que os meus pais não puderam gastar comigo. Pensei que tinha uma reforma e por isso não precisava de proteger mais os meus anos de velho. O que eu não sabia era que te estava a explorar.
Agora gritas que me sustentas, e à minha reforma e eu não sei porquê mas talvez tenhas razão, eu devia ter sido mais prudente e guardar para mim e para a tua mãe o que te dei com tanto amor. A contar que não te seria pesado, que não terias que me sustentar como eu fiz com os meus pais e a tua mãe com os dela, lembras-te?, vieram viver cá para casa, admiraram-se com a nossa casa tão grande, com o nosso nível de vida, e dividimos com eles o que havia. Ainda bem que terei uma reforma, pensei tantas vezes, posso gastar com eles o que ganho, e com os meus filhos, talvez com os meus netos se precisarem. Nunca levei a tua mãe ao México, ou ao Brasil, nem sequer a Paris, gasta com os garotos, dizia ela, eles têm que viver o tempo deles, a gente não precisa. Tu foste, foste a tantos lados, ficavas 6 meses e mais, dizias que era dos estudos, depois voltavas cheio de ideias para comprar um computador novo, um plasma, uns sofás novos, pai, dizias, os tempos são outros, se tens dinheiro compra, para que te agarras ao dinheiro se vais ter uma reforma?
Desculpa, filho, acho que te estou a massacrar, e à tua geração Mas deixa que te diga que me preocupa muito a tua mãe, quando eu morrer ela só vai ficar com metade do que eu recebo, se ainda a deixarem receber isso, e não chega, não chega para te ajudar a pagar as pensões de alimentos aos meus netos, não chega, filho, não chega. Deixa que te diga que te dei tudo o que tinha, com orgulho e com amor. Hoje, filho, quando te ouço, penso quem me dera ter poupado para a minha velhice e da tua mãe, em vez de te ser tão pesado agora, com a minha pensão.
Um texto da Suzana Toscano de Setembro de 2012 que se mantem actual!


PS e PCP já valem 50 por cento juntos

Sondagem do mês de junho mostra nova subida de comunistas e socialistas na intenção de voto dos portugueses.
Martim Silva
12:21 Sexta feira, 7 de junho de 2013

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O PS e a CDU são as únicas forças políticas a subir na sondagem da Eurosondagem do mês de junho para o Expresso e a SIC, conseguindo mesmo o valor mais elevado dos últimos dois anos.
Na inversa, e na semana em que se assinalam os dois anos da vitória eleitoral de Passos Coelho, o PSD e o CDS/PP continuam a descer nas intenções de voto.
Quanto à popularidade dos líderes políticos, o cenário repete-se, com António José Seguro e Jerónimo de Sousa a melhorarem no indíce de aceitação dos portugueses quanto à sua actuação.
Cavaco Silva continua a sua queda, confirmando-se como o mais impopular Presidente da República do Portugal democrático.
 Ficha técnica
Estudo de opinião efetuado pela Eurosondagem, S.A. para o Expresso e SIC, de 30 de maio a 4 de junho de 2013. Entrevistas telefónicas realizadas por entrevistadores selecionados e supervisionados. O universo é a população com 18 anos ou mais, residente em Portugal Continental e habitando lares com telefone da rede fixa. A amostra foi estratificada por região (Norte - 20,4%; A.M. do Porto - 14,4%; Centro - 29,2%; A.M. de Lisboa - 26,3%; Sul - 9,7%), num total de 1028 entrevistas validadas.Foram efetuadas 1233 tentativas de entrevistas e, destas, 205 (16,6%) não aceitaram colaborar no estudo de opinião. Foram validadas 1028 entrevistas, correspondendo a 83,4% das tentativas realizadas. A escolha do lar foi aleatória nas listas telefónicas e o entrevistado, em cada agregado familiar, o elemento que fez anos há menos tempo.Desta forma aleatória resultou, em termos de sexo (feminino - 51,4%; masculino - 48,6%), e, no que concerne à faixa etária (dos 18 aos 30 anos - 19,6%; dos 31 aos 59 - 48,4%; com 60 anos ou mais - 32,0%). O erro máximo da amostra é de 3,06%, para um grau de probabilidade de 95,0%. Um exemplar deste estudo de opinião está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.


Opinião do lado de lá do Atlântico

Revolucionar é preciso: a crise portuguesa (e nós?)

por Marcelo Badaró Mattos [*]
Entre o Brasil e Portugal há laços históricos e, em muitas de nossas famílias, sanguíneos, que nos fazem ter uma sensação muito própria de proximidade. No entanto, não temos visto muito espaço na imprensa empresarial brasileira para notícias e análises da crise por que passa a sociedade portuguesa no momento atual. Nem mesmo a esquerda brasileira parece muito interessada em prestar atenção ao que acontece daquele lado do Atlântico. 

A direita, porém, está sempre atenta ao que lhe parece ameaçador. Faz alguns dias, Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, publicou em seu blog uma nota sobre um debate ocorrido dias antes na TV portuguesa, tendo por tema "Mudamos de país ou mudamos o país?", no qual, em determinado momento, uma das entrevistadas se envolveu em uma polêmica com um jovem da platéia [1] . Na versão de Azevedo, a debatedora é "a Marilena Chauí" de Portugal e o jovem um herói do "empreendedorismo", que aos 15 anos criou uma marca de roupas e está tendo sucesso em tempos difíceis, demonstrando que a iniciativa individual é a saída para a crise. Como o jovem respondeu à debatedora, que o questionava sobre o valor dos salários dos trabalhadores da indústria têxtil, dizendo que era melhor ganhar o salário mínimo do que ficar no desemprego, sendo aplaudido por parte dos presentes, esse take do programa foi reproduzido pelo colunista, com os comentários de praxe. Exaltou-se a perspicácia do garoto moderno e apontou-se o atraso da pesquisadora acadêmica. 

Não perderei tempo analisando Reinaldo Azevedo, a Veja, ou mesmo comentando a tal ideia do tipo é melhor comer só farinha que passar fome, exposta pelo raciocínio do rapaz, ao defender implicitamente o programa de redução salarial em curso em Portugal. Não merecem. Apenas preciso que a "Marilena Chauí" portuguesa é Raquel Varela, historiadora reconhecida internacionalmente por seus estudos sobre a Revolução dos Cravos e sobre os trabalhadores do setor da construção naval e militante política cada vez mais conhecida dos portugueses por suas intervenções em dezenas de debates públicos, em centros sociais, rádios e TVs. Neles tem demonstrado (ancorada em estudos sérios e pormenorizados) as falácias da argumentação dominante sobre os altos custos do Estado Social, empregadas para justificar os cortes em salários, aposentadorias e outros direitos dos trabalhadores. Já o jovem "empreendedor" é Martim Neves, cuja fala, devidamente editada, foi reproduzida imediatamente após o programa em páginas eletrônicas como a do "microcrédito" do banco Millenium BCP e as de editores de grandes jornais diários. Como se apurou pouco depois, o seu "empreendimento" resume-se a estampar a sua logomarca (cujo registro só foi requerido no dia seguinte ao programa) em camisetas e moletons simples. Mas é claro que a propaganda feita durante e após o debate o levou a um novo "patamar de vendas", conforme se depreende pelos pedidos não atendidos registrados no  facebook  do "empreendimento". 

O que estava em debate, entretanto, é algo mais importante. Para além do trecho recortado por Azevedo e pela direita portuguesa de forma geral, há uma resposta de Raquel Varela omitida na edição que circula na rede. Nela, a historiadora classifica o salário mínimo português (de 432 euros) como "uma vergonha", e demonstra como esse valor é insuficiente para sustentar dignamente os trabalhadores e trabalhadoras portugueses, assim como do resto do mundo, e lembra que tanto a redução da massa salarial interna quanto a imigração de portugueses que se quer hoje forçar visam simplesmente instalar uma arena de competitividade por baixos salários na Europa, de forma a ampliar a margem de lucro dos capitalistas que, desde 2008, têm se fartado de demitir, achatar salários e ainda assim serem prodigamente subsidiados pelo Estado. Defendendo a estatização dos bancos, a ruptura com a "troika" (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), o não pagamento da dívida e a ruptura com o euro, além de relembrar o 25 de abril para propor a atualidade da saída revolucionária, Raquel Varela realmente tem incomodado à classe dominante portuguesa. 

A referência que faço ao debate na TV e à replicação por aqui da grita da direita portuguesa contra a representante de uma proposta política radicalmente alternativa tem também um outro objetivo: chamar a atenção para o fato de que a sociedade portuguesa vive um momento de crise econômica, social e política. A taxa de desemprego atingiu 17,8% em abril, sendo da ordem de 42,5% o desemprego entre os jovens (segundo os dados da agência europeia Eurostat). Dados locais indicam 1 milhão e 400 mil desempregados em uma população economicamente ativa de 5,4 milhões de pessoas (no total de 10 milhões e meio de portugueses e portuguesas). Ao mesmo tempo, aposentadorias e salários do setor público foram cortados e 80% dos empregados ganham menos de 900 euros por mês. A precarização das relações de trabalho atinge boa parte desses que ainda não vivem o desemprego completo, numa força de trabalho que é relativamente jovem e altamente qualificada. São 1,3 milhão de graduados com nível superior e mais de 30 mil doutores formados pelas Universidades portuguesas. 

Momentos como esses abrem espaço para o acirramento dos conflitos sociais e é a isso que estamos assistindo em Portugal. Foram já cinco greves gerais nos últimos cinco anos. A próxima já está convocada para 27 deste mês de junho. Há manifestações todos os dias (não é exagero retórico) nas ruas portuguesas. E são, algumas delas, as maiores manifestações da história do país, como a de 2 de março último, que levou às ruas de dezenas de cidades portuguesas mais de 1 milhão e 500 mil pessoas. A luta, é certo, não é apenas portuguesa. No último dia 1 de junho, um chamado à mobilização continental reuniu manifestantes em centenas de cidades europeias, do sul "periférico" (Portugal, Espanha, Grécia) ao centro financeiro do euro, em Frankfurt. 

Mesmo com esse elevado nível de mobilização social, até aqui, o governo tem resistido. Nem mesmo o gabinete ministerial português caiu, apesar de todos os cartões vermelhos que a população acuada pelo desemprego e o avanço da miséria lhes apresenta. Tanto a direita declarada (PSD e CDS) no governo quanto os "socialistas" (PS) compartilham da mesma submissão aos desígnios da troika e o PS não parece querer se arriscar a ganhar eleições para se desgastar fazendo mais do mesmo. Já a oposição parlamentar de esquerda (especialmente o PCP e o Bloco de Esquerda), embora tenha sido progressivamente empurrada pelo povo nas ruas a uma posição de defesa da "demissão" do gabinete, não apresentou até aqui um projeto radicalmente distinto, propondo "renegociações", políticas compensatórias e medidas "soberanas", mas temendo sempre o "imponderável" da moratória ou da saída do euro [NR] . Nos sindicatos, a grande central – a CGTP –, dirigida principalmente pelos militantes do PCP, tende a limitar as mobilizações ao domínio econômico-corporativo da defesa dos salários e direitos do grupo cada vez mais reduzido de trabalhadores protegidos por contratos estáveis. 

O resultado dessa combinação entre mobilizações multitudinárias de descontentamento e ausência de alternativas programáticas das direções mais representativas tem sido, até aqui, a sobrevivência de um regime democrático em que o teatro das eleições referenda governos títeres do poder de fato, emanado dos organismos supranacionais do capital, a ditarem as regras do jogo contra os interesses das maiorias trabalhadoras. 

Pode uma situação dessa natureza se sustentar por muito tempo? Não há previsões infalíveis para o desenrolar da história. Podemos assistir na sequência à desmoralização completa das manifestações de massa. Afinal, como sustentar que milhões possam ir às ruas a cada mês, que diversas greves gerais se sucedam em poucos anos e que ainda assim nem um reles ministro caia de sua cadeira? Ou, de outro lado, é possível que se abra um período de inversão da correlação de forças a favor dos "de baixo"? 

A segunda hipótese não pode ser dada como certa, mas está no horizonte de possibilidades, especialmente porque falamos de um país que, há quase quarenta anos, viveu a última revolução social do Ocidente. Nele convivem uma geração de portugueses que protagonizou a Revolução dos Cravos e as gerações seguintes, que se beneficiaram das conquistas revolucionárias, mas são agora mais fortemente impactadas pelo retrocesso social pós-2008. Mesmo derrotada a revolução, seu legado de conquistas garantiu um Estado Social (como o chamam por lá), que permitiu aos que foram às ruas em 1974 ver seus filhos e netos completarem os estudos universitários num sistema público de educação, usufruírem de um sistema de saúde pública exemplar, se informarem através de um sistema de rádio e televisão públicos em que as telenovelas importadas do Brasil têm que competir em audiência com programas de debate político, como o citado no início deste texto, entre outras conquistas, sintetizadas pela transferência de rendimento de cerca de 15% do capital para o trabalho no período de 1974-1975. 

Essa geração está hoje, em grande medida, aposentada (reformada, como dizem por lá) e, apesar dos cortes em seus rendimentos, vem equilibrando orçamentos familiares em meio a filhos e netos precarizados e desempregados. A construção de uma unidade nas lutas entre os "reformados", com o aprendizado organizativo das jornadas de 1974-1975, os precarizados/desempregados – que começam a ir para as ruas na conjuntura atual desprovidos do aparato sindical dos trabalhadores formais – e os setores mais combativos da classe trabalhadora sindicalmente organizada, pode fazer a diferença e significar o ponto de inflexão na correlação de forças. Resta saber se os que propõem tal estratégia conseguirão representatividade em meio às organizações que surgiram do 25 de abril e às novas formas organizativas que emergem das lutas de hoje, e ainda se encontrarão eco social para suas propostas. 

De qualquer forma, olhando aqui do Brasil, não consigo deixar de pensar em algumas questões. Sou historiador e estou acostumado a ouvir falar sobre presumidas "heranças" portuguesas na ex-colônia das Américas, como a ideia de um "patrimonialismo ibérico", uma suposta confusão entre "público" e "privado", que de fato só existe na cabeça daqueles que se recusam a aceitar o fato de que o Estado (o "público") existe historicamente para sustentar os interesses – econômicos inclusive – das classes dominantes (o "privado"). Mais recentemente virou moda dizer que fomos aqui uma extensão territorial nos trópicos do "Antigo Regime" português, em chave explicativa que menospreza tanto o caráter escravista da sociedade que se desenvolveu nestas terras quanto o sentido de exploração que motivou a empreitada colonizadora. Queria eu, porém, ouvir falar de outras heranças e homologias entre Brasil e Portugal, num período mais recente. Preferiria, com certeza, ter assistido a algum tipo de influência mais direta da saída revolucionária de um regime ditatorial, como a de 1974 em Portugal, na chamada "transição democrática" brasileira. Assim como espero que o exemplo das mobilizações atuais daquele lado do Atlântico faça algum eco deste lado de cá.

[1] O programa chama-se "Prós e Contras", é transmitido pela RTP1 e, embora passe após as 22h, possui enorme audiência para os padrões portugueses. A edição comentada foi ao ar em 20 de maio último e pode ser assistida em http://www.rtp.pt/programa/tv/p29826/e15 06/Junho/2013 

[*] Professor da Universidade Federal Fluminense. 

[NR] O sublinhado é de resistir.info. 

O original encontra-se em www.correiocidadania.com.br/...