quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A DEMOCRACIA ANTE O ABISMO


Blog PT_BR –janeiro 30 - A DEMOCRACIA ANTE O ABISMO

 

BLOG ANO PORTUGAL BRASIL PORTUGAL – Dia 30 de janeiro 2013

Notícias–Visões e Cultura de Portugal – A Crise Econômica


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                                  INDICE

                                                               1.PORTUGAL-Visões

2.NOTÍCIAS

3. PORTUGAL E A CRISE - Memória e Análises

&&&

1–VISÕES :




Adriana Varejão fala sobre sua obra e suas inspirações criativas



2-  NOTICIAS

 

Portugal sem passaporte – O POVO






Posted: 28 Jan 2013 01:39 PM PST
O escritor portugues José Saramago – premio Nobel da Literatura -vai ser homenageado na localidade espanhola de Tías, na ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias, com uma escultura, anunciou hoje a sua Fundação em Lisboa.
A escultura “de quase cinco metros em aço, a colocar na rotunda que dá acesso ao complexo da Casa e da Biblioteca do escritor, em Tías […], representa uma oliveira feita com as letras iniciais de José Saramago – o tronco é um jota, os ramos são esses”, explica a Fundação em comunicado.
A escultura, a inaugurar no dia 18 de março, quando se assinala o segundo aniversário da abertura daquele espaço ao público, é de autoria de José Perdomo e foi feita a partir de um desenho de Esther Viña, ambos os criadores de Lanzarote.
José Samarago, distinguido em 1998 com o Prémio Nobel da Literatura, instalou-se em Tias em 1993 e, segundo a Fundação, “foi em Lanzarote que escreveu o ‘Ensaio sobre a Cegueira’ (1995) e todas as obras que se seguiram”.
O Nobel português faleceu nesta localidade da ilha espanhola, a 18 de junho de 2010.
Posted: 28 Jan 2013 07:42 AM PST
 
Francisco Sá Carneiro faleceu na noite de 4 de Dezembro de 1980, em circunstâncias trágicas, muito suspeitas e nunca completamente esclarecidas, quando o avião no qual seguia se despenhou em Camarate, pouco depois da descolagem do aeroporto de Lisboa, quando se dirigia ao Porto para participar num comício de apoio ao candidato presidencial da coligação, o General António Soares Carneiro
O PSD e o CDS-PP vão propor, nesta terça-feira, a audição do ex-líder social-democrata Marcelo Rebelo de Sousa e dos ex-ministros Freitas do Amaral e Júlio Castro Caldas na 10ª comissão de inquérito à tragédia de Camarate.
O requerimento conjunto da maioria propõe ainda a audição do eurodeputado Nuno Melo, do CDS, que presidiu à VIII comissão de inquérito, em 2002, sendo as quatro audições apenas um “primeiro bloco para o arranque dos trabalhos”, disse o coordenador dos deputados sociais-democratas na comissão de inquérito, Miguel Santos.
O ex-líder social-democrata Marcelo Rebelo de Sousa foi representante de familiares de algumas das vítimas e os ex-ministros Freitas do Amaral e Júlio Castro Caldas “tiveram contacto com o processo em vários momentos” justificou o deputado do CDS-PP José Ribeiro e Castro.
A ordem de trabalhos da reunião de terça-feira inclui a aprovação do regulamento da comissão de inquérito, a marcação de audições e agendamento de outras diligências.
A 10ª comissão de inquérito ao caso Camarate vai prosseguir os trabalhos da anterior, que visava averiguar as “causas e circunstâncias em que, no dia 4 de Dezembro de 1980, ocorreu a morte do primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, do ministro da Defesa Nacional, Adelino Amaro da Costa, e dos seus acompanhantes”.
A anterior comissão de inquérito avançou para duas linhas de investigação que devem ser agora retomadas: o comércio e exportação de material militar e a extinção do fundo de Defesa Militar do Ultramar
CDS e PSD acordaram criar a 10ª comissão parlamentar de inquérito sobre a queda do avião que, em 1980, causou a morte do então primeiro-ministro, Sá Carneiro, devendo formalizar a proposta nos próximos dias, disse um deputado à agência Lusa.

“Há consenso sobre o texto da proposta já há algumas semanas”, acrescentou o parlamentar, que pediu para não ser identificado.

Os dois partidos que formam a maioria parlamentar de direita que apoia o actual Governo já haviam manifestado disponibilidade para criar uma nova comissão de inquérito e o PS, segundo maior partido, afirmara que não se oporia a qualquer iniciativa nesse sentido.

Fonte da bancada socialista confirmou esta sexta-feira que mantém essa posição e não vai inviabilizar a iniciativa do PSD e do CDS.

Depois de entregue, a proposta conjunta de centristas e sociais-democratas deverá ser votada em plenário do prazo de 15 dias.

Já a entrada em funcionamento da comissão não deverá ocorrer antes de Setembro, acrescentou a mesma fonte.

A 10ª comissão de Camarate, atendendo às regras que vigoram no Parlamento, deverá ser presidida por um eleito do PSD.

A anterior Comissão de Inquérito a Camarate, presidida por Ricardo Rodrigues e tendo como relator José Ribeiro e Castro, foi interrompida no ano passado, com a dissolução da Assembleia da República.

Em Abril passado, Farinha Simões, que afirma ter sido um quadro da agência de espionagem norte-americana CIA até 1989, divulgou um texto a que chamou confissão no qual diz ter organizado o atentado em que morreu Francisco Sá Carneiro.
O então primeiro-ministro faleceu na noite de 4 de Dezembro de 1980, quando o avião em que seguia se despenhou em Camarate, pouco depois da descolagem do aeroporto de Lisboa. Também perderam a vida o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, e Snu Abecassis, companheira de Sá Carneiro
Posted: 28 Jan 2013 06:55 AM PST
 
O general Jaime Neves, que morreu hoje aos 76 anos, foi um dos operacionais decisivos no 25 de Novembro de 1975, movimento militar que acabou com o processo revolucionário e abriu caminho à normalização da democracia portuguesa.
Morreu este domingo de manhã o Major General Jaime Neves, responsável pelo 25 de Novembro e um dos mais medalhados comandos do Exército português. Estava reformado desde os anos 80 e tinha 76 de idade.
Jaime Alberto Gonçalves das Neves participou na Revolução do 25 de Abril de 1974 e desempenhou depois um papel decisivo nas operações que levaram ao fim do Processo Revolucionário em Curso (PREC), a 25 de Novembro de 1975, operação em que chefiou o regimento de comandos.
Em Julho de 1995, o então Presidente da República Mário Soares agraciou Jaime Neves com a Ordem de Torre e Espada.
Já em 2009, por proposta do antigo chefe de Estado Ramalho Eanes e do general Rocha Vieira foi promovido a General pelo Presidente da República Cavaco Silva.
Em declarações à Renascença, o General Loureiro dos Santos recorda Jaime Neves como um militar excepcional, que lutava pelos seus oficiais.
O funeral do Major General, que faleceu ontem por volta das 6h00 no Hospital Militar, em Lisboa, realiza-se nesta segunda-feira ao início da tarde, no cemitério do Alto de São João, após uma missa na Academia Militar, pelas 14h00

     Portugal e a União Europeia
Uma amiga me mandou e eu repasso:

RELEMBRAR
Aqui está textualmente o que disse António Costa, em menos de 3 minutos, no programa "quadratura do círculo". (transcrito manualmente):

(...) A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir.

E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.

Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer? podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!

A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.

Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.

Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.

Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."

o    Opções

Miguel Cardina

«Na morte de Jaime Neves, vários órgãos de comunicação social referiram-se ao “militar de Abril e de Novembro”, sugerindo uma relação directa entre ambos os momentos. A chamada de capa feita hoje pela Público ia mais longe: “Morreu o comando que manteve Abril no 25 de Novembro de 1975”. Esse “Novembro que mantém Abril” sugere que ali se repôs a natureza de uma ruptura cuja essência, a dado momento, teria sido corrompida (logo nas horas a seguir ao golpe?). Independentemente das interpretações que possamos ter acerca do que foi e do que representou o 25 de Novembro, essa continuidade imaginada é sintoma da persistente incapacidade em pensar o biénio revolucionário no que ele revelou ser: uma inaudita irrupção popular, de natureza socializante, com múltiplas e por vezes contraditórias formas, e que em vários momentos ultrapassou as dinâmicas militares e partidárias então em disputa. Uma irrupção popular que reverteu formas antiquíssimas de opressão no país, levando a que muita gente se sentisse gente pela primeira vez (mais: que fosse convocada a definir por si própria o que é isso de “ser gente”). (...)»






3-PORTUGAL E A CRISE- MEMÓRIA E ANÁLISE

A DEMOCRACIA ANTE O ABISMO

Boaventura de Sousa Santos

No contexto de crise em Portugal, o combate contra o fascismo social de que se fala neste texto exige um novo entendimento entre as forças democráticas. A situação não é a mesma que justificou as frentes antifascistas na Europa dos anos 1930, que permitiram alianças no seio de um vasto espectro político, incluindo comunistas e democratas cristãos, mas tem com esta algumas semelhanças perturbadoras.

Esperar sem esperança é a pior maldição que pode cair sobre um povo. A esperança não se inventa, constrói-se com alternativas à situação presente, a partir de diagnósticos que habilitem os agentes sociais e políticos a ser convincentes no seu inconformismo e realistas nas alternativas que propõem.

Se o desmantelamento do Estado do Bem-Estar Social e certas privatizações (a da água) ocorrerem, estaremos a entrar numa sociedade politicamente democrática, mas socialmente fascista, na medida em que as classes sociais mais vulneráveis verão as suas expectativas de vida dependerem da benevolência e, portanto, do direito de veto de grupos sociais minoritários, mas poderosos.

O fascismo que emerge não é político, é social e coexiste com uma democracia de baixíssima intensidade. A direita que está no poder não é homogênea, mas nela domina a facção para quem a democracia, longe de ser um valor inestimável, é um custo econômico e o fascismo social é um estado normal.

A construção de alternativas assenta em duas distinções: entre a direita da democracia-como-custo e a direita da democracia-como-valor; e entre esta última e as esquerdas (no espectro político atual, não há uma esquerda para quem a democracia seja um custo). As alternativas democráticas hão de surgir desta última distinção.

Os democratas portugueses, de esquerda e de direita, terão de ter presente tanto o que os une como o que os divide. O que os une é a ideia de que a democracia não se sustenta sem as condições que a tornem credível ante a maioria da população. Tal credibilidade assenta na representatividade efetiva de quem representa, no desempenho de quem governa, no mínimo de ética política e de equidade para que o cidadão não o seja apenas quando vota, mas, também, quando trabalha, quando adoece, quando vai à escola, quando se diverte e cultiva, quando envelhece.

Esse menor denominador comum é hoje mais importante do que nunca, mas, ao contrário do que pode parecer, as divergências que a partir dele existem são igualmente mais importantes do que nunca. São elas que vão dominar a vida política nas próximas décadas.

Primeiro, para a esquerda, a democracia representativa de raiz liberal é hoje incapaz de garantir, por si, as condições da sua sustentabilidade. O poder econômico e financeiro está de tal modo concentrado e globalizado, que o seu músculo consegue sequestrar com facilidade os representantes e os governantes (por que há dinheiro para resgatar bancos e não há dinheiro para resgatar famílias?). Daí a necessidade de complementar a democracia representativa com a democracia participativa (orçamentos participativos, conselhos de cidadãos).

Segundo, crescimento só é desenvolvimento quando for ecologicamente sustentável e quando contribuir para democratizar as relações sociais em todos os domínios da vida coletiva (na empresa, na rua, na escola, no campo, na família, no acesso ao direito). Democracia é todo o processo de transformação de relações de poder desigual em relações da autoridade partilhada. O socialismo é a democracia sem fim.

Terceiro, só o Estado do Bem-Estar Social forte torna possível a sociedade do bem-estar forte (pais reformados com pensões cortadas deixam de poder ajudar os filhos desempregados, tal como filhos desempregados deixam de poder ajudar os pais idosos ou doentes). A filantropia e a caridade são politicamente reacionárias quando, em vez de complementar os direitos sociais, se substituem a eles.

Quarto, a diversidade cultural, sexual, racial e religiosa deve ser celebrada e não apenas tolerada.

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, sociólogo português, é diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

PARA ACABAR DE VEZ COM A LUSOFONIA


BLOG PT_BR jan 28- Para acabar de vez com a Lusofonia


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                                   3. PORTUGAL E A CRISE - Memória e Análises

1–VISÕES : 

Para acabar de vez com a Lusofonia

http://www.buala.org/pt/a-ler/para-acabar-de-vez-com-a-lusofonia


A lusofonia é a última marca de um império que já não existe. E o último impedimento a um trabalho adulto sobre as múltiplas identidades dos países que falam português

Lusofonia é um conceito vago, demasiado vago - e uma versão kitsch de uma boa relação de Portugal com os países que foram colónias, que são ex-colónias. Alimentada pela esquerda mais retrógrada e pela direita mais nacionalista e nostálgica do império, a lusofonia tem uma história, balizada por alguns acontecimentos.

Um trabalhador chinês faz uma pausa durante uma jornada de trabalho em Viana, perto de Luanda @Público

Num primeiro momento, surge a ilusão de unir o Atlântico ao Índico, Angola a Moçambique, através de um projecto político que reforçava a necessidade de encontrar recursos económicos extraordinários no momento em que começavam a sentir-se no país os efeitos da revolução industrial. (Note-se que hoje é novamente com este argumento, agora usando a terminologia do investimento empresarial e da cooperação económica, que se evoca a lusofonia.) O projecto foi apresentado no Congresso de Berlim (1884-85) e fundamentava-se no direito de ocupação daqueles territórios, direito esse que na verdade era falso - à época, nenhuma potência colonial ocupava mais do que franjas do território africano. Este projecto, designado como Mapa Cor-de-Rosa, foi inteiramente rejeitado pelos países que traçaram as fronteiras africanas, nomeadamente pela Inglaterra (que impôs o Ultimato de 1890).

Num segundo momento, dá-se a apropriação salazarista da tese do luso-tropicalismo do brasileiro Gilberto Freyre (1900-1987), tese essa que está presente na defesa política e diplomática do colonialismo, em particular entre 1933 e 1961: “A primeira data corresponde ao ano da publicação deCasa-grande & Senzala, obra em que são lançados os fundamentos da doutrina luso-tropicalista; a última, ao ano da publicação de O Luso e o Trópico, livro em que a doutrina surge em “estado acabado”” (O modo português de estar no mundo, Cláudia Castelo). O luso-tropicalismo, que se configurou como a essência da identidade dos portugueses, passou a ter como objectivo criar as bases de um império mítico construído sobre os afectos e o multi-racialismo (no qual o autor nunca vira sinais de tensão). Sem bases históricas, baseando a sua teoria na origem, também ela “mestiça”, do português face à influência de judeus e árabes, na sua capacidade de adaptação aos trópicos e no seu humanismo cristão, Gilberto Freyre, sociólogo com prestígio internacional, deu à sua tese uma cientificidade que assegurou a política do Estado (a partir da segunda metade dos anos 50) e produziu, no campo cultural, um conjunto vastíssimo de miríades que acabaram por estruturar o campo das mentalidades.

Benguela, fotografias rodagem Eu Sou África, 2010

Depois do 25 de Abril, muito do trauma e do luto pela perda das últimas colónias foi feito através de uma relativização da violência dos portugueses sobre os africanos - a guerra colonial portuguesa teria sido mais branda do que as de outros países colonizadores. Como se os massacres das tropas portuguesas em Wiriyamu e Mihinjo não fossem a expressão da barbárie… Impôs-se aquilo que seria uma cultura comum, cuja matriz era a portuguesa - e para a qual a confusão entre língua e cultura era oportuna e baseada na relativização das dores.

Perdido o que restava do império, a crise da identidade nacional não foi superada por um trabalho de revisão das narrativas identitárias nem por um trabalho colectivo sobre as memórias na educação, na política, nas actividades culturais e artísticas. Demorou mais de 20 anos a aparecer uma literatura; algumas, muito poucas, artes performativas abeiraram-se do problema, e só a geração de cineastas que começou a filmar na década de 90 se confrontou com as narrativas míticas e com o presente das ex-colónias. “As contas a ajustar com as imagens que a nossa aventura colonizadora suscitou na consciência nacional são largas e de trama complexa demais. A urgência política só na aparência suprimiu uma questão que também na aparência o país parece não se ter posto. Mas ele existe. Querendo-o ou não, somos agora outros, embora como é natural continuemos não só a pensar-nos como os mesmos, mas até a fabricar novos mitos para assegurar uma identidade que, se persiste, mudou de forma, estrutura e consistência” (Eduardo Lourenço).

Porém, a lusofonia, no logro de ser uma pátria de uma língua comum, uma forma torpe de neo-colonialismo, é também a prova da incapacidade de construção de um país pós-colonial que não consegue olhar as suas ex-colónias numa relação de confronto de interesses e de respeito pelas identidades que cada um desses países pretende construir. Com tudo isto há, por parte da esquerda conservadora, uma pretensa relação, baseada nos afectos e nos negócios; e, na direita, uma relação que se baseia na nostalgia, nos negócios e na defesa do uso da língua conforme à sua matriz lusitana.

Luanda, fotografias rodagem Eu Sou África 20010

Ora, para que esta pretensão neo-colonial exista, a RTP África, a RTP Internacional - e, de uma forma mais naïf, o JL- são os instrumentos adequados. Já o Acordo Ortográfico, por sua vez, é, sobretudo pela forma como foi feito, uma tentativa de resistir ao estilhaço da lusofonia. No entanto, também não saem bem aqueles que acusam o referido Acordo de cedência da língua a outros países - como se ela fosse uma propriedade dos portugueses. E não deixa de ser paradoxal que um Governo que tanto exige da lusofonia, como se ela fosse o campo ideal de negócios - e como se alguma vez o capital tivesse um país -, tenha feito desaparecer a cultura da missão do Instituto Camões na última Lei orgânica - e não tenha, neste momento, nenhum conselheiro cultural em nenhum dos países africanos de língua oficial portuguesa.

Colonizar ou neo-colonizar e civilizar sempre estiveram juntos; por isso é recorrente encontrar, sob a forma de cooperação, a imposição de um assistencialismo em língua portuguesa que civilize sem “lhes” perguntar (a eles) - como reclama Appadurai - o que querem (o que quer o outro) e como querem (como quer esse outro) a cooperação.

Neste processo de reconstrução de identidades, o Brasil há muito começou com a investigação e a construção de narrativas das suas memórias - pese embora o trabalho sobre o passado índio ser muito menos relevante do que o africano -, e até se conseguiu construir como um país de glamour e terra de oportunidades, mito que o liberta definitivamente de Portugal e o transforma numa pátria de oportunidades míticas tanto para os europeus como para os chineses, para os antilhenses ou para os africanos. A responsabilidade desta construção mítica e aparentemente glamorosa não é, naturalmente, dos historiadores nem dos estudioso da cultura.Mais: em África, muitos africanos começaram também os seus trabalhos de reconstrução da identidade - de si mesmos enquanto sujeitos históricos e num dado contexto, e dos seus países. Disso são prova os trabalhos dos angolanos Victor Barros e António Tomás, dos moçambicanos Mia Couto e Eliso Macamo e, em Portugal, os pertinentes estudos de Joaquim Valentim, Cláudia Castelo, ou o trabalho da revista/sítio webBuala, entre outros. De facto, “se a lusofonia se mantém como um princípio organizador das representações sociais dos portugueses, não há concordância entre os portugueses e africanos a esse respeito: os portugueses valorizam-na, os africanos rejeitam-na. Dito de outro modo, a este nível, a valorização da lusofonia não encontra correspondência da parte dos africanos que são, em boa medida, interlocutores por excelência dessa lusofonia. Mais ainda, os africanos não só manifestam uma posição contrária à dos portugueses em relação à lusofonia, como a importância que atribuem à sua identidade étnico-nacional se encontra associada negativamente à valorização da dimensão lusófona nas representações das semelhanças dos portugueses com outros povos”. (Joaquim Valentim, Identidade e Lusofonia nas Representações Sociais de Portugueses e de Africanos).

Dombe Grande, fotografias rodagem Eu Sou África 2010

É compreensível. E se é possível criar uma comunidade de países que têm como língua oficial o português, com todas as suas variantes, e cujo uso pelas populações pode ir dos 100% (em Portugal) aos 4% (em Timor) ou aos 40% (em Moçambique), não é possível entender uma pátria lusófona comum a países com outras diversidades linguísticas, economias tão diferentes, regimes políticos distinto e, em particular, histórias singulares.

Uma das maiores violências criadas pelo luso-tropicalismo não foi querer impor ao Brasil uma essência de ser luso. Foi, embora admitindo para o Brasil a herança índia e para Portugal a herança árabe, excluir das ex-colónias africanas a sua história pré-colonial. Ora, a expressão mais perversa da lusofonia é a amnésia sobre o passado pré-colonial dos países africanos ou de Timor e, de algum modo, a repetição dessa expressão do colonialismo que foi “a descoberta” destes povos - que só passaram a ter história no momento em que os “descobridores” os encontraram. A lusofonia é, pois, a última marca de um império que já não existe. É também um impedimento a um trabalho adulto sobre as múltiplas identidades de quem vive em Portugal.

Para lá dos seus contornos coloniais, a lusofonia tem o efeito de uma epistemologia negativa: impede que se entenda que a razão da criação de comunidades de países tem por base interesses políticos e económicos, bem como jogos de partilha territorial. É também assim com a francofonia, a Commonwealth, o G8 e o G20.

Luanda, fotografias rodagem Eu Sou África 2010

Foi por causa desta realpolitik que Lula da Silva, enquanto Presidente do Brasil, estabeleceu parcerias económicas Sul-Sul com a maioria dos países subsarianos. Para esta estratégia, a lusofonia pouco importou: o argumento cultural foi a africanidade comum (outro mito, naturalmente).

Quanto aos outros países cuja língua oficial é o português, não nos resta se não admitir que produzem as suas pesquisas e trabalhos sobre as suas identidades. Se a presença dos estudos portugueses e da literatura é quase residual nas universidades destes países, isso não ocorre por falta de lusofonia mas sim por haver um excesso dessa caricatura da produção cultural portuguesa exportada que tem o nome de “Cultura Lusófona”.

Os portugueses não têm nenhum atributo de excepcionalidade mítica. Não precisamos de uma diplomacia lusófona; do que precisamos é de uma diplomacia de direitos e de igualdades. Este é o momento de conhecer e dar visibilidade às produções culturais e artísticas, às literaturas e aos trabalhos científicos destes países por aquilo que valem, por serem incontornáveis no mundo global, por conterem, até, uma estranheza que é, porventura, consequência da morte dessa mesma lusofonia.

artigo originalmente ppublicado no ipsílon, suplemento cultural do jornal Público (18/1)


 
2-  NOTICIAS

CITADOR - http://www.citador.pt/textos/







PLATAFORMA E COMUNICAÇÃO -http://www.ptjornal.com/  

AVENTAR - http://aventar.eu/category/a-escolher/politica-nacional/


ARQUIVOS -http://aventadores.files.wordpress.com/2012/02/pacheco-pereira.pdf


JORNAL DO FUNDAO - www.jornaldofundao.pt/



URBI ET ORBI - http://www.urbi.ubi.pt/





PARTIDOS

Partido Socialista - http://www.ps.pt/

Partido Comunista -http://www.pcpvalongo.org/

Bloco de Esquerda: www.bloco.org

Bloco de Esquerda no parlamento: http://www.beparlamento.net/

Portal Esquerda: www.esquerda.net

JORNAL POPULAR  “Mudar de Vida” - http://www.jornalmudardevida.net/?p=2994

 
                                                      ***

"Supertele brasileira" será portuguesa

Brasil 247 -   Assis Ribeiro

Demissão de Francisco Valim (centro) do comando da Oi pelos acionistas Carlos Jereissati (esq.) e Sérgio Andrade (dir.) é parte de um movimento mais amplo; operadora brasileira de telefonia, que recebeu montanhas de dinheiro do BNDES e dos fundos de pensão, será vendida para a Portugal Telecom e comandada pelo executivo Zeinal Bava; discurso nacionalista do governo será superado pelos interesses privados dos sócios que foram ao leilão de privatização sem dinheiro e embolsarão R$ 2 bilhões.

Em 1998, quando o governo FHC privatizou as telecomunicações, o consórcio liderado pelo empresário Carlos Jereissati, irmão do então senador tucano Tasso Jereissati, apresentou uma proposta pela antiga Telemar, que unia concessionárias no Rio de Janeiro e em vários estados do Nordeste, sem ter dinheiro para tanto. Ainda assim, aliado ao então presidente da Previ, Ricardo Sérgio de Oliveira, que ocupa papel de destaque no livro "Privataria Tucana", venceu o leilão e os fundos de pensão estatais montaram uma operação emergencial para financiar os compradores.

Dias depois, o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, que disputava espaço no governo FHC com Ricardo Sérgio batizou o consórcio Telemar como "telegangue" e comandou uma intervenção na empresa. Fez com que o BNDES comprasse 25% das ações e deu início a um novo processo de venda que deveria culminar com a entrada da Telecom Italia na empresa. Esse processo foi abortado quando as chamadas fitas do BNDES – grampos clandestinos publicados pela Folha – derrubaram Mendonça de Barros e permitiram que Jereissati e seu sócio Sergio Andrade, da empreiteira Andrade Gutierrez, continuassem à frente da Telemar.

No governo Lula, havia a expectativa de o governo montasse uma grande empresa brasileira de telecomunicações comandada por fundos de pensão, que eram acionistas tanto da Telemar, de Carlos Jereissati e Sérgio Andrade, como da Brasil Telecom, de Daniel Dantas. Fez-se uma fusão à força entre as duas empresas, que envolveu até ações de espionagem e operações da Polícia Federal, e governo usou montanhas de recursos tanto do BNDES como dos fundos de pensão para criar a chamada "supertele nacional" – uma empresa que teria a missão de enfrentar a espanhola Telefônica, dona da Vivo, a mexicana Telmex, dona da Claro e da Embratel, e a italiana TIM.

Três anos depois da criação dessa empresa, no entanto, a Oi é a quarta do setor e não consegue apresentar bons resultados. Tanto que seu presidente, Francisco Valim, foi demitido por telefone na semana passada. Sua saída, no entanto, faz parte de um movimento mais amplo. Muito em breve, a "supertele brasileira" será uma empresa portuguesa. Isso porque Carlos Jereissati e Sérgio Andrade estão vendendo suas ações para a Portugal Telecom, numa operação conduzida pelo BTG Pactual, de André Esteves. O novo presidente da companhia deverá ser o português Zeinal Bava.

Leia, abaixo, nota de Lauro Jardim, que é muito próximo a Sérgio Andrade:

Uma megaoperação

Carlos Jereissati e Sérgio Andrade iniciaram negociações para a venda de suas participações na Oi – de 19,35% cada um – para a Portugal Telecom, que é dona de 12,07% da holding. O quase onipresente BTG Pactual é o banco que trabalha na operação. Na mesa, um negócio de 2 bilhões de reais, no total. Se a transação for fechada, marcará precocemente o fim da ambiciosa ideia do governo de criar uma supertele nacional. Tal como ela foi concebida, em 2008, Jereissati e Andrade contaram com o firme apoio do BNDES, quando a Oi comprou a Brasil Telecom. Mas o discurso do governo não se abala: a fundação dos funcionários da Oi (dona de 11,5% da holding), a Previ (9,7%), a Petros (7,5%) e o BNDES (13%) serão exibidos como sinais da forte presença brasileira na empresa.

Na verdade, o caso das telecomunicações mereceria um "Privataria 2


 
3-PORTUGAL E A CRISE- MEMÓRIA E ANÁLISE

Portugal 2013  


Miguel Urbano Rodrigues

Está em curso uma das mais ambiciosas operações de propaganda que o actual governo já levou a cabo. Quanto mais desastrosa é a situação do país, mais esta gente vem acenar com uma recuperação que ninguém vê. António Borges tem a desfaçatez de falar em "fim da austeridade". Essa "austeridade", que é o nome propagandístico da implacável política de saque que o governo leva a cabo, só terá fim quando esta política e as troikas que a apoiam forem efectivamente derrotadas.

Portugal oferece nestas semanas a estrangeiros recém-desembarcados a imagem de um país onde o absurdo e o irracional marcam o quotidiano, empurrando o povo para uma catástrofe social sem precedentes.

Os jornais e a televisão tornam públicas diariamente notícias que comprovam o agravamento de uma crise medonha. O desemprego aumenta a cada dia, atingindo já mais de um milhão de trabalhadores; as falências de empresas sucedem-se em cadeia; escolas, centros de saúde, serviços hospitalares, farmácias, restaurantes fecham as portas; centenas de famílias são desalojadas das casas onde residiam por não pagarem à banca as prestações do contrato; o custo das propinas força milhares de estudantes a abandonarem as universidades; a produção industrial e a agrícola diminuem; a fome alastra nas cidades e aldeias do País; mais de 40 mil portugueses emigraram no ano passado.

O Banco de Portugal informa que a quebra do PIB no ano corrente será quase o dobro da prevista no Orçamento do Estado; as receitas fiscais diminuem apesar do aumento dos impostos; as exportações também caem.

O panorama é assustador. Mas o chefe do Governo, o seu ministro das Finanças e demais membros do gabinete, proclamam monotonamente que a estratégia da coligação bicéfala é um êxito absoluto. E anunciam, eufóricos, que 2014 será um ano magnífico.

A agressão semântica complementa a social e económica. A política de saque imposta em nome da troika é qualificada de "austeridade". A desvergonha é tamanha que os governantes, ignorando gigantescos protestos populares e greves em série, elogiam os trabalhadores pelo estoicismo com que suportam os "sacrifícios", isto é, o roubo.

Enquanto se espera que o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre a inconstitucionalidade de medidas constantes do Orçamento de Estado, o país tomou conhecimento de um relatório do FMI – encomendado pelo governo – que considera insuficiente a "austeridade" em curso e sugere como indispensável um pacote que destruiria o que resta do Serviço Nacional de Saúde e da Segurança Social e golpearia mortalmente a Educação. Propõe nomeadamente o despedimento de 150 mil trabalhadores da Função Publica e de uns 50 mil professores.

Reagindo ao coro de indignação nacional, o primeiro-ministro derramou elogios sobre esse documento, anunciador de uma intensificação da ofensiva contra o povo.

O PSD promoveu uma conferência "aberta à sociedade civil" para debater a "Reforma do Estado". Mas, a comunicação social não foi autorizada a acompanhar os debates.

Passos, Portas e ministros dirigem-se ao mundo e aos portugueses como personagens de Jarry e Ionesco em palco de teatro de absurdo.

O governo tudo leva à prática à revelia dos cidadãos e desconhecendo a existência de uma oposição. Mas o vice-presidente do PSD, Sr. Jorge Moreira da Silva, compareceu na SIC Noticias para afirmar que, devoto da democracia, o Executivo tem elevado o nível da participação popular e nada decide sem consulta ao povo.

A Comunicação Social, controlada hegemonicamente pelo grande capital, demonstra incapacidade para cumprir a sua função. Nos serviços noticiosos, políticos do sistema, membros do governo e medidas por ele impostas são alvo de críticas, por vezes severas. Mas as direções dos media permanecem vigilantes. Uma contradição antagónica favorece o objetivo prioritário: anestesiar a consciência social, impedir a ruptura dos mecanismos da alienação.

Os formadores de opinião, em programas de grande audiência, atacam o acessório, insurgem-se contra medidas, sugerem mudanças, defendem uma remodelação do governo, criticam, ocasionalmente com dureza, Passos, Portas e outros. Mas convergem em coro afinado na conclusão de que a "austeridade" é necessária, que o memorando com a troika, assinado por Sócrates e aprovado com entusiasmo por Passos & Portas, deve ser respeitado. Coincidem na opinião de que, afinal, a origem do mal está no estado Moloch, o monstro que deve ser desmontado, reconstruído. A linguagem dos comentadores não é a de Passos nem a do seu guru Gaspar. Eles criticam o governo com hipocrisia mas reconhecem, dolorosamente, que cortar milhares de milhões de euros nos gastos sociais é uma exigência indeclinável da História, uma necessidade imposta pela lógica da sobrevivência. Pouco falta para aderirem à tese de Passos sobre a "Refundação do Estado".

Entre outros formadores de opinião que criticam o acessório mas são solidários com o governo no fundamental, cito Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Sousa Tavares, José Manuel Fernandes, José Gomes Ferreira. Pacheco Pereira, o mais inteligente, é talvez o único comentador que, na hoste dos politólogos da burguesia, demonstra lucidez na crítica à escória humana que desgoverna Portugal.

Neste contexto com matizes de surrealismo, o discurso do primeiro-ministro e o do seu guru Gaspar vão merecer, no futuro, assim o espero, estudo acurado de psicólogos e psiquiatras.

Ambos, muito diferentes, merecem o qualificativo de avis rara.

Passos é uma inflorescência. Pouco dotado intelectualmente, ignorante, mas desconhecedor da sua incompatibilidade com a cultura, tenaz, mesmo firme na defesa do absurdo – acredita, admito, nos benefícios do seu projeto de destruição do país. As suas falas, arrogantes, sincopadas, são cada vez mais um amontoado de palavras sem nexo. Com frequência dá o dito por não dito. Recentemente aconselhou os jovens a emigrarem. Na semana passada, em Paris, desmentiu-se, afirmando que nunca sugeriu tal coisa.

O melífluo Gaspar, aritmeticamente sabedor, mas irracional na aplicação das leis da economia, é um discípulo atento do austríaco Friedrich Hayek e do americano Milton Friedman . Politicamente pouco inteligente, as suas arengas em defesa de decisões catastróficas, a sua teimosa insistência em mascarar de rotundos êxitos fracassos transparentes, a sua habilidade em exercer o comando do governo nos bastidores trazem-me à memória personagens desamadas do teatro de Molière e Shakespeare e do nosso Gil Vicente.

É compreensível que poucos estrangeiros consigam entender o Portugal do ano 2013.

Um dia, sem data previsível no calendário, a farsa dramática em palco findará, antes que, espero, desemboque em tragédia.

Será o povo nas ruas, na fidelidade a grandes rupturas da nossa história, serão as massas trabalhadoras a alavanca do fim do pesadelo.

Vila Nova de Gaia, 24/Janeiro/2013


O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=2751

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