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–janeiro 21 – OS ERROS DA AUSTERIDADE
BLOG ANO PORTUGAL BRASIL PORTUGAL – Dia 21 de janeiro
2013
Notícias–Visões
e Cultura de Portugal – A Crise Econômica
ANO BRASIL
PORTUGAL-Acompanhe a programação neste site:
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INDICE
INDICE
1.PORTUGAL-Visões
2.NOTÍCIAS
3. PORTUGAL E A CRISE - Memória e Análises
&&&
1–VISÕES :
Melancolia lusitana
Drauzio Varella
Contou uma história de sua infância, que parecia extraída das páginas de Tchekhov
FOLHA
DE SP - 12/01
Entrei no táxi, dei o endereço e desejei bom-dia ao motorista.
- E pode havê-lo para algum cristão, com a crise que estamos a passar?
Era um senhor com mais de 70 anos, baixo e atarracado como meu avô materno. Vestia calça mescla, malha grossa, paletó de lã e o boné típico dos portugueses mais velhos. Respondeu com tamanho mau humor que resolvi ser genérico:
- Saiu o sol. Esquentou um pouco em Lisboa.
- Que adianta? Amanhã chove e esfria tanto que não se pode pôr a cara na rua.
Dei o caso por perdido, e fiquei quieto.
Poucos quarteirões à frente, uma passeata mais barulhenta do que numerosa, com apitos, tambores e bandeiras, interrompeu nossa passagem. Eram membros de um sindicato de empregados do setor de diversões. Uma das faixas dizia: "Veja no que deu. Salazar volte, estás perdoado".
Virei-me para o taxista:
- O senhor viveu nos tempos de Salazar. Um país fechado, sem liberdade, não era pior?
- Depende. Metiam-se muito na vida das pessoas, de fato. Na rua, para acender um cigarro com isqueiro havia de se ter uma autorização por escrito. Mas, faziam-no por quê? Para proteger as fábricas de fósforos, que eram do Estado. Dentro de casa, podíamos acender do jeito que entendêssemos.
Em seguida, contou uma história de sua infância, que parecia extraída das páginas de Tchékhov.
Aos sete anos, ele vivia com a família numa pequena aldeia de Trás-os-Montes, no norte do país, sem energia elétrica nem saneamento; a água precisava ser recolhida de um poço na vizinhança, com corda e manivela. Menino magrinho, era ele o escalado para limpar o poço, o que significava entrar na caçamba e descer ao fundo para executar a tarefa, enquanto o pai manejava a engrenagem.
O problema é que, à medida que o balde descia, o menino era tomado por uma crise de pânico que o fazia tremer de medo de nunca mais sair daquele buraco escuro. Enquanto o pai não o içava de volta, não chegava ao fim o desespero.
Perguntei se, na mesma aldeia, o povo não começou a viver melhor depois da Comunidade Europeia. Respondeu que sim, mas:
- Aos sete anos eu nada tinha, no entanto nada devia. Hoje, meu neto mora numa casa com água, luz e telefone, mas aos três anos já deve 40 mil euros, que é o valor da dívida per capita neste país.
Em seguida, perguntou se havia cabimento conviver com uma taxa de desemprego de 16%; número que chega a 39% na população abaixo de 25 anos. E acrescentou:
- Com um desemprego desses, eu nunca poderia ter me mudado para Lisboa aos 20 anos.
- Sua vida era boa naquela época?
- Diziam que eu era um rapaz bonito. Solteiro, com trabalho e sem responsabilidade, eu vivia para copos e putas.
Passamos por um largo repleto de senhores de idade, baixos, de boné e paletó de lã, como réplicas do meu interlocutor. Conversavam em voz baixa e jogavam baralho; um ou outro mais exaltado talvez falasse de política.
O taxista quis saber se eu conhecia aquele lugar. Eu disse que não.
- Podes ver, há ali uma placa colocada em 1992: "Jardim das Pichas Murchas".
O nome insólito foi dado por um tal Carlos Vinagre, frequentador da "leitaria do Zé, o Patudo", assim batizada em homenagem às dimensões do pé do proprietário.
Como no largo em frente se juntavam os mais velhos das redondezas, o espírito comunitário de Carlos conseguiu que lá instalassem algumas mesas para distrai-los com o dominó e a sueca.
Quando chegávamos ao destino, perguntei se a crise diminuiu o movimento dos táxis.
- Todos dizem que caiu 70%, mas para mim foram 75%. E mais seria, não fosse o turismo.
Os turistas eram os responsáveis pela mudança de seu horário de trabalho. Rodava até mais tarde para transportar o pessoal que vai às casas noturnas. Citou o nome das três mais famosas: uma delas especializada em stripteases e as outras duas em "moças cheias de más intenções". Segundo ele, o movimento da primeira era bem menor:
- Quem quer ver mulheres a tirar a roupa, sem poder tocar-lhes?
Entrei no táxi, dei o endereço e desejei bom-dia ao motorista.
- E pode havê-lo para algum cristão, com a crise que estamos a passar?
Era um senhor com mais de 70 anos, baixo e atarracado como meu avô materno. Vestia calça mescla, malha grossa, paletó de lã e o boné típico dos portugueses mais velhos. Respondeu com tamanho mau humor que resolvi ser genérico:
- Saiu o sol. Esquentou um pouco em Lisboa.
- Que adianta? Amanhã chove e esfria tanto que não se pode pôr a cara na rua.
Dei o caso por perdido, e fiquei quieto.
Poucos quarteirões à frente, uma passeata mais barulhenta do que numerosa, com apitos, tambores e bandeiras, interrompeu nossa passagem. Eram membros de um sindicato de empregados do setor de diversões. Uma das faixas dizia: "Veja no que deu. Salazar volte, estás perdoado".
Virei-me para o taxista:
- O senhor viveu nos tempos de Salazar. Um país fechado, sem liberdade, não era pior?
- Depende. Metiam-se muito na vida das pessoas, de fato. Na rua, para acender um cigarro com isqueiro havia de se ter uma autorização por escrito. Mas, faziam-no por quê? Para proteger as fábricas de fósforos, que eram do Estado. Dentro de casa, podíamos acender do jeito que entendêssemos.
Em seguida, contou uma história de sua infância, que parecia extraída das páginas de Tchékhov.
Aos sete anos, ele vivia com a família numa pequena aldeia de Trás-os-Montes, no norte do país, sem energia elétrica nem saneamento; a água precisava ser recolhida de um poço na vizinhança, com corda e manivela. Menino magrinho, era ele o escalado para limpar o poço, o que significava entrar na caçamba e descer ao fundo para executar a tarefa, enquanto o pai manejava a engrenagem.
O problema é que, à medida que o balde descia, o menino era tomado por uma crise de pânico que o fazia tremer de medo de nunca mais sair daquele buraco escuro. Enquanto o pai não o içava de volta, não chegava ao fim o desespero.
Perguntei se, na mesma aldeia, o povo não começou a viver melhor depois da Comunidade Europeia. Respondeu que sim, mas:
- Aos sete anos eu nada tinha, no entanto nada devia. Hoje, meu neto mora numa casa com água, luz e telefone, mas aos três anos já deve 40 mil euros, que é o valor da dívida per capita neste país.
Em seguida, perguntou se havia cabimento conviver com uma taxa de desemprego de 16%; número que chega a 39% na população abaixo de 25 anos. E acrescentou:
- Com um desemprego desses, eu nunca poderia ter me mudado para Lisboa aos 20 anos.
- Sua vida era boa naquela época?
- Diziam que eu era um rapaz bonito. Solteiro, com trabalho e sem responsabilidade, eu vivia para copos e putas.
Passamos por um largo repleto de senhores de idade, baixos, de boné e paletó de lã, como réplicas do meu interlocutor. Conversavam em voz baixa e jogavam baralho; um ou outro mais exaltado talvez falasse de política.
O taxista quis saber se eu conhecia aquele lugar. Eu disse que não.
- Podes ver, há ali uma placa colocada em 1992: "Jardim das Pichas Murchas".
O nome insólito foi dado por um tal Carlos Vinagre, frequentador da "leitaria do Zé, o Patudo", assim batizada em homenagem às dimensões do pé do proprietário.
Como no largo em frente se juntavam os mais velhos das redondezas, o espírito comunitário de Carlos conseguiu que lá instalassem algumas mesas para distrai-los com o dominó e a sueca.
Quando chegávamos ao destino, perguntei se a crise diminuiu o movimento dos táxis.
- Todos dizem que caiu 70%, mas para mim foram 75%. E mais seria, não fosse o turismo.
Os turistas eram os responsáveis pela mudança de seu horário de trabalho. Rodava até mais tarde para transportar o pessoal que vai às casas noturnas. Citou o nome das três mais famosas: uma delas especializada em stripteases e as outras duas em "moças cheias de más intenções". Segundo ele, o movimento da primeira era bem menor:
- Quem quer ver mulheres a tirar a roupa, sem poder tocar-lhes?
2- NOTICIAS
Posted: 18 Jan 2013 04:18 AM
PST
Europa
ocidental, Angola, Moçambique e Brasil são apontados como os locais de eleição
para fugir à crise e a grande aposta das empresas nacionais
Os números não mentem. Desde 1998 que
Portugal tem sentido o efeito da emigração. Nestes últimos anos já saíram do
país mais de um milhão de portugueses – só em 2011 o número aumentou
85% em relação a 2010, sendo a faixa etária entre os 25 e os 29 anos a mais
atingida. A crise, associada à precariedade terá potenciado estas decisões,
principalmente entre os muitos jovens qualificados que se vêem obrigados a procurar
emprego noutro país face à elevada taxa de desemprego.
De acordo com os últimos dados do Eurostat, o
desemprego aumentou 0,1 pontos percentuais, passando para os 16,3%, o que
inclui Portugal no grupo dos países com as maiores subidas no desemprego em relação
a 2011. Só entre os jovens a taxa ronda os 38,7%. No entanto, trata-se de uma
realidade à escala global. Os últimos dados divulgados no decurso da
Conferência de Emprego da International Finance Corporation (IFC), membro do
Grupo Banco Mundial, em Washington, revelam que a maioria dos mais de 200
milhões de desempregados que existem no mundo são jovens.
O i fez uma ronda entre alguns portugueses
que procuram melhores condições longe do nosso país para falarem das suas
experiências, dos desafios que enfrentam e também para desabafarem. Manuel
Luiz, principal consultor na Boston Consulting Group, na América Latina,
situada no Rio de Janeiro, garante que a “a impossibilidade de progredir na
carreira profissional a um ritmo condizente com a sua ambição” foi o que o
motivou a começar uma carreira no estrangeiro, revelou no âmbito da iniciativa
Alumni Abroad: Sharing Experiences, organizado pela Católica do Porto.
Se por um lado há quem se aventure em busca de
novas oportunidades, outros têm a sorte do seu lado. É o caso de Rui Gomes
Araújo, presidente-executivo da BABE, no Brasil: “A oportunidade de liderar a
internacionalização de uma empresa portuguesa e a vontade de descobrir Portugal
no mundo” foi o que originou a sua saída.
ANALISAR ANTES DE EMBARCAR O descontentamento
pode levar a tomar decisões erradas e precipitadas. “Não embarquem na jornada
se não tiverem uma oportunidade concreta”, alerta Manuel Luiz, referindo que é
fundamental “tomar decisões ponderadas e racionais”. “Testar, garantir e
avaliar. E não deixar que a emoção associada a uma eventual vontade ou
necessidade de fugir de Portugal condicione uma racional avaliação das
qualidades e oportunidades do país de destino”, aconselha Rui Gomes Araújo.
As razões da emigração são muitas e nunca fáceis. E
a chegada também não é melhor. São muitas as diferenças encontradas no meio
empresarial, como explica ao i António Yü Gaspar, regional manager da
Unicer na Suíça. “Trabalhar os mercados internacionais envolve a alteração de
processos e mentalidades dentro das empresas, que muitas vezes estão mais
vocacionadas para trabalhar no mercado doméstico”, sustentando que “a quebra de
dogmas” é fundamental para se aproveitar as oportunidades internacionais. A
opinião é partilhada por Rui Gomes Araújo, que refere “o contraste entre a
burocracia do Estado e a informalidade nos negócios” como uma das grandes
diferenças no mercado empresarial.
Não são apenas estas diferenças que os três
empresários realçam. Se neste momento “contenção” é a palavra de ordem em
Portugal, noutros países “crescimento” é tabu. “Quando saí de Portugal os
projectos tinham um foco significativo em racionalização, eficiência, corte de
custo. No Brasil o foco é mais uma estratégia de crescimento, investimento e
aquisição”, referiu Manuel Luiz.
Já Rui Gomes Araújo destaca a “dinâmica de mercado
interno e a qualidade da elite empresarial” como dois factores de grande
diferenciação. Não quer isto dizer que Portugal não tenha boas referências no
mercado, pelo menos é o que explica Yü Gaspar. “Existem bons profissionais num
quadro de oportunidades limitado”, acrescentando que “não pensamos que existem
muito melhores profissionais que em Portugal… Há bons e maus profissionais em
qualquer parte do mundo. O grande problema do mercado nacional está relacionado
com o facto de ser pequeno e pouco competitivo, com problemas na qualidade da
oferta e na qualidade da procura”, sustenta Rui Gomes Araújo.
Mão-de-obra qualificada Esta
procura por maiores oportunidades pode estar a criar entraves ao crescimento da
própria economia portuguesa. Para alguns, a emigração, associada à falta de
oportunidades de emprego, poderá ser um obstáculo ao crescimento económico,
para outros o impacto torna-se positivo. “Todos os estudos sobre a emigração
mostram que toda a gente ganha com ela – o país de onde se emigra, o país que
recebe, e normalmente a pessoa que emigra também”, referiu à Lusa João César das
Neves. Aliás, é o que defende Pedro Ferraz, presidente da Alumni Abroad da
Católica Porto.
“Ir lá para fora é bom para o trabalhador, que
acaba por enriquecer a sua experiência, sendo no futuro valorizada, quer fique
no estrangeiro quer opte por regressar”, sustentou. Pedro Ferraz defende ainda
que “estar no estrangeiro” transmite uma ideia positiva do país de origem,
facilitando também a entrada no mercado externo das empresas portuguesas. “As
próprias empresas portuguesas estão a abrir oportunidades no estrangeiro. No
actual contexto há menos oportunidades no mercado doméstico e por isso as
empresas estão a virar-se para os mercados externos. Faz parte da estratégia de
internacionalização”, afirmou.
Por esta razão, e porque faz parte da globalização,
a maioria das universidades tem programas para facilitar o intercâmbio. “Há
muitos alunos que vão estudar para outros países, no âmbito dos seus cursos,
das suas licenciaturas e vice–versa”, explica o responsável. António Yü Gaspar
refere que “o Erasmus feito em França contribuiu para abrir horizontes e ter a
verdadeira percepção das culturas e distâncias dentro do espaço europeu”.
Europa ocidental, Angola, Moçambique e Brasil são
apontados como os locais de eleição para fugir à crise e também são estes os
locais em que as empresas nacionais apostam.
“No caso da Alumni, temos muitas pessoas a ir para
a Europa ocidental, pois é aí que ficam os países mais próximos. Depois há
mercados em que existe uma grande afinidade cultural. Os casos do Brasil, de
Angola e Moçambique, que levam as empresas portuguesas a apostar nesses
mercados”, explica o presidente da Alumni Abroad.
El tertuliano perfecto era falso
Un
expresidiario portugués se paseó por foros y platós como experto economista de
la ONU
Baptista da Silva. / Reinaldo Rodrigues (Global Images)
Artur Baptista da Silva, de 61 años, un tipo algo
calvo, de mirada seria, gestos concentrados y pico de oro, condenado varias
veces por falsificar documentos y cheques, tras salir de la cárcel de Lisboa en 2011, logró, con una
habilidad insuperable, hacerse pasar en Portugal durante meses por un
economista experto de la ONU con la
misión de elaborar un informe sobre la salida de la crisis de los países de
Europa del sur. Cobró una fulminante celebridad a base de dar conferencias en
locales exclusivos lisboetas y entrevistas en influyentes medios de
comunicación donde, en el fondo, con palabras claras y el teórico (y espurio)
respaldo de las Naciones Unidas, decía lo que la gente está deseando oír: que
la austeridad ahoga al país y lo lleva al desastre. Ahora, tras ser descubierto
en Navidad, Baptista da Silva se ha volatilizado de Portugal, nadie sabe dónde
está, y la Fiscalía acaba de enviar el asunto a la Policía Criminal a fin de
que investigue los posibles delitos de este impostor disfrazado de economista global.
Todo empezó, como en esas historias de Mortadelo
y Filemón de hace años, en la Academia do Bacalhau, en Lisboa. A este
lugar desembarcó armado con su labia de tertuliano perfecto, su talento de
anguila para zigzaguear, un taco de tarjetas falsas de visita y un tocho
económico robado a un especialista francés de la Unesco
que languidecía en Internet y con el que el falso experto aseguraba haber
ganado un premio internacional. “Era una persona muy educada, parecía muy
preparada, jamás pensamos que no podía ser cierto lo que decía”, explicaba en
la emisora TSF Mário Nunes, presidente de la Academia do Bacalhau. En esta
institución, Baptista regaló algunas charlas, se dio a conocer, esgrimió un
currículo más falso que las victorias ciclistas de Lance Armstrong y acertó al
deslizar la tarjeta al hombre adecuado. Meses después, el conocido
Internacional Club de Lisboa le invitaba para dar una conferencia sobre su tema
favorito (y el del país): la crisis. Y el 4 de diciembre alcanzaba la cumbre de
un conferenciante profesional lisboeta al impartir, durante una cena, una
solemne charla en el exclusivo y elitista Grémio Literário titulada La
crisis europea. La utopía de la UE y la pesadilla del euro. ¿Qué salida digna
le queda a Portugal? Se presentaba como doctor en Economía Social por la
Milton Wisconsin University, universidad que no existe desde 1983. La cena
costaba treinta euros por asistente. Como acostumbraba, acertó a decir lo que
los oyentes querían oír sobre una
economía gripada que estrangula a Portugal, y recibió una cerrada ovación
al terminar, con algunos de los comensales puestos en pie.
Fue
ovacionado en una cena que costaba 30 euros por asistente. Acertaba a decir lo
que los oyentes querían oír sobre la crisis
De ahí a escalar a los medios de comunicación había un paso. Y
Baptista da Silva lo dio. El prestigioso semanario Expresso publicaba
el 15 de diciembre una larga entrevista con el falso consultor de la ONU a
doble página, acompañada de una gran fotografía en la que aparecía muy serio,
enfundado en un elegante abrigo oscuro y mirando al horizonte, con una carpeta
de papeles bajo el brazo que, seguramente, contenía el informe económico
mangado de Internet. El titular era contundente: “Si Portugal no negocia ahora
[los intereses de la deuda], lo hará en seis meses de rodillas”, decía el
expresidiario. Tras esto, fue convocado después por emisoras importantes como
la TSF, periódicos de referencia como el Diário de
Notícias y cadenas de televisión como la SIC, donde compareció
en su programa estrella de debate el 21 de diciembre, flanqueado por los
habituales —y verdaderos— economistas, políticos y periodistas. Allí, con su
facilidad tranquila para la exposición contundente y el desparpajo algo pedante
marca de la casa, juntaba los dedos de las dos manos como un cardenal y soltaba
(por ejemplo): “En Naciones Unidas estamos muy preocupados por las
consecuencias sociales de las medidas de austeridad. Tenemos que salir de esta
crisis. Ya les hemos preguntado a las autoridades europeas si no van a otorgar
las mismas condiciones a los portugueses que les han dado a los griegos”.
Sus compañeros presidiarios se quedaron
estupefactos al verlo perorar en una tertulia de sesudos. Ricardo Sá Fernandes,
un viejo compañero del instituto ahora abogado y que se encontró con Baptista
años atrás en una visita rutinaria en la cárcel, al descubrirle trajeado dando
una lección de economía mundial aplicada pensó para sí mismo, según ha relatado
la revista Visão: “Hay que ver este tío cómo ha sabido darle la vuelta
a la tortilla”. Según este mismo semanario, su propio hijo, a pesar de lo mucho
que Baptista da Silva les había mentido a lo largo de su vida, dudó de que el
padre “no hubiera llegado realmente a ser un importante empleado de la ONU”. Y
Rosa Adanjo, profesora de portugués y adicta a los programas de política
portuguesa, creyendo que era en verdad un experto de la ONU, comentó al oírle
hablar de la crisis: “Por fin un economista que dice lo que yo pienso”. Incluso
hubo columnistas de prensa que, como Adanjo, alabaron su intervención y se
quejaron públicamente de que sus palabras no acarrearan ninguna reacción por
parte del Gobierno. Tras esto, Baptista se reunió, entre otras personalidades
de la política portuguesa, con el secretario general del segundo sindicato más
importante del país, la UGT, al que instruyó sobre las recetas necesarias para
burlar la recesión.
Al
saberse descubierto, el impostor envió un escrito a la agencia Lusa en el que
denunciaba "linchamiento mediático"
Pero poco antes de Navidad comenzaron las dudas. La
cadena de televisión TVI no picó el anzuelo y tras contactar con la ONU supo
que Baptista no trabajaba allí. Días más tarde, la misma ONU emitía un
comunicado para dejar claro que ese tipo que andaba por Lisboa adoctrinando a
sus compatriotas no era consultor de este organismo. La prensa portuguesa se
lanzó a investigar el resbaladizo pasado de Baptista da Silva, en el que hay
muchas lagunas y del que poco se sabe con certeza, excepto sus varias condenas
por falsificación de documentos y por atropello. Nadie sabe a ciencia cierta,
por ejemplo, si de verdad estudió Gestión de Empresas como él asegura o qué
beneficio económico ha sacado de esta aventura (las charlas no las cobraba).
Paralelamente, claro, se convertía en una mezcla de bufón y héroe en Facebook,
donde aparecía (y aparece) en todo tipo de chistes y fotomontajes, desde
personaje del año en la revista Time
hasta guitarrista de fado en una tasca.
Él, al saberse descubierto, huyó de su casa,
desconectó los teléfonos móviles y se esfumó, no sin antes —genio y figura—
enviar un escrito a la agencia Lusa en la que denunciaba el “linchamiento
mediático” del que se sentía víctima. Mientras, los portugueses, algo huérfanos
de economistas afines y un poco demagogos, han vuelto, qué remedio, a oír cómo
los de costumbre comentan la crisis de todos los días.
3-PORTUGAL E A CRISE- MEMÓRIA E ANÁLISE
Os erros da austeridade
– As medidas bárbaras
pretendidas pelo governo português foram plasmadas pelo FMI no documento Portugal:
Rethinking the State – Selected Expenditure Reform Options , divulgado em 09/Janeiro/2013. Esta
peça delirante já está a provocar uma revolta nacional. Trata-se de um balão de
ensaio daquilo que deseja este governo de traição nacional. Como se verifica no
artigo abaixo, nem mesmo técnicos superiores do próprio FMI acreditam na
bondade de tais receitas.
Portanto foi interessante que o economista chefe do FMI, Olivier Blanchard, juntamente com o seu colega Daniel Leigh, fizessem num documento recente a confissão de que "Aqueles que fazem previsões subestimam significativamente o aumento no desemprego e o declínio na procura interna associada à consolidação orçamental". Em Outubro último eles já procuravam puxar o tapete debaixo da própria organização que o empregava, discordando da escola ortodoxa de austeridade. Os cálculos a partir dos quais foram infligidas medidas de austeridade sobre países como a Grécia foram considerados inexactos.
Tanto Blanchard como Leigh receberam críticas pela sua posição, tornando necessária, do seu ponto de vista, uma "nova visita" à sua abordagem e resultados. As suas opinião foram, no entanto, afirmadas também por Victoria Chick e Ann Pettifor, os quais argumentaram na PRIME, examinando a [sua] investigação em macroeconomia, que "Consolidação orçamental não 'corta' a dívida, mas contribui para ela". Ao escrever em 6 de Janeilro na Prime, Pettifor observou que um corpo dotado de 1100 economistas profissionais com um orçamento geral de US$800 milhões "fracassou na emissão do apelo correcto".
O documento do FMI Growth Forecast Errors and Fiscal Multipliers (Jan/2013) foi a resposta de Blanchard-Leigh, uma prenda do ano novo que os seus colegas economistas não queriam receber. Os autores têm a cautela de não morderem a mão que os alimenta, norma de protocolo a fim de garantir que os empregados não prestem atenção aos erros óbvios dos seus patrões. "Este documento de trabalho não deveria ser considerado como representativo dos pontos de vista do FMI... Documentos de trabalho descrevem investigações em progresso do(s) seu(s) autor(es) e são publicados para provocar comentários e promover debate".
É de pouco consolo portanto saber que tal "investigação" está divorciada da política e que a posição do FMI sobre o assunto pode não estar de acordo com os investigadores. Se bem que seja verdade que o actual FMI não seja a mesma organização que na década de 1990 disparava fogo à simples menção de afrouxar austeridade, escasso conforto pode ser encontrado no seu actual uniforme. A posição de Blanchard, contudo, foi considerada "moderada" e formidável (Businesseek, 09/Out/2012).
A observação da revista é que "multiplicadores orçamentais foram substancialmente mais altos do que implicitamente assumidos pelos que fizeram previsões". Isto deveu-se ao facto de que a consolidação orçamental que se verificou em economias avançadas "foi associada a crescimento mais baixo do que o esperado, sendo a relação particularmente forte, tanto estatisticamente como economicamente, pouco antes da crise".
Por que estes "multiplicadores" aumentaram? Os autores especulam sobre vários terrenos – políticas de taxa de juros e natureza do consumo, para citar apenas dois. Isto mais uma vez aponta para os modelos enviesados adoptados pelos que fazem previsões vudu. Para cada 1 ponto percentual de PIB ganho na previsão de consolidação orçamental para 2010-11, verificou-se uma perda de 1 ponto percentual de PIB real. "Uma interpretação natural desta descoberta é que multiplicadores implícitos nas previsões estavam, em média, estavam demasiado baixo em cerca de 1".
Assume-se agora que a Grécia está numa categoria em que, para utilizar o jargão padrão, os multiplicadores orçamentais são grandes e os seus efeitos consideravelmente maiores do que os cientistas financeiros tinham consciência. (Tais erros foram analogamente perpetrados sobre as economias de Portugal, Itália, Espanha e Irlanda:) Cortes nos gastos pode aumentar os rácios de dívida em relação ao produto interno bruto de modo severo.
Para dizer isto em termos simples, podar a árvore de modo demasiado severo provocará menos crescimento. Extremos aumentos de impostos e de cortes na despesa podem compensar os ganhos efectuados em qualquer consolidação orçamental. O resultado é uma criatura atrofiada. Tais resultados parecem inteiramente lógicos, embora a lógica tenda a ser extra-terrestre para grande parte da previsão económica.
Desde 2010, mais de 68 mil negócios gregos encerraram, um estonteante estado de coisas para ser contemplado por qualquer ministro das Finanças. O primeiro-ministro Antonis Samaras, à testa de uma precária coligação, está decidido a impor um novo corte nas despesas de US$17,45 mil milhões e a aumentar impostos. Dado que a economia grega já está no seu sexto ano de tratos, a árvore do crescimento económico está pronta para mais uma rodada de brutalidade inútil.
A ordem financeira certamente é desejável e não há dúvida de que o sistema financeiro da Europa está debilitado. Mas a loucura financeira, infectada pelo actual regime de austeridade, não está. Quando altos empregados do FMI a trabalharem sobre questões económicas chave apresentam pontos de vista que começam a aceitar diferentes ordens de razão, as reavaliações estão na ordem do dia. Está para ser visto se a receita de Blanchard alguma vez irá vingar.
09/Janeiro/2013
[*] Da
RMIT University, Melbourne. Email: bkampmark@gmail.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/2013/01/09/the-errors-of-austerity/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/2013/01/09/the-errors-of-austerity/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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