Blog PT_BR
–janeiro 30 - A DEMOCRACIA ANTE O ABISMO
BLOG ANO PORTUGAL BRASIL PORTUGAL – Dia 30 de janeiro
2013
Notícias–Visões
e Cultura de Portugal – A Crise Econômica
ANO BRASIL
PORTUGAL-Acompanhe a programação neste site:
***
INDICE
INDICE
1.PORTUGAL-Visões
2.NOTÍCIAS
3. PORTUGAL E A CRISE - Memória e Análises
&&&
Adriana Varejão fala sobre sua obra e
suas inspirações criativas
2- NOTICIAS
Portugal sem passaporte –
O POVO
|
- Lanzarote
ergue escultura em homenagem a José Saramago
- PSD e CDS
querem ouvir Marcelo Rebelo de Sousa sobre Camarate
- Morreu o
Major General Jaime Neves responsável pelo “25 de Novembro”
Uma amiga me mandou e eu repasso:
RELEMBRAR
Aqui está textualmente o que disse António Costa, em menos de 3 minutos, no programa "quadratura do círculo". (transcrito manualmente):
(...) A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir.
E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.
Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer? podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."
Miguel Cardina
«Na morte de Jaime Neves, vários
órgãos de comunicação social referiram-se ao “militar de Abril e de Novembro”,
sugerindo uma relação directa entre ambos os momentos. A chamada de capa feita
hoje pela Público ia mais longe: “Morreu o comando que manteve Abril no 25 de
Novembro de 1975”. Esse “Novembro que mantém Abril” sugere que ali se repôs a
natureza de uma ruptura cuja essência, a dado momento, teria sido corrompida
(logo nas horas a seguir ao golpe?). Independentemente das interpretações que
possamos ter acerca do que foi e do que representou o 25 de Novembro, essa
continuidade imaginada é sintoma da persistente incapacidade em pensar o biénio
revolucionário no que ele revelou ser: uma inaudita irrupção popular, de
natureza socializante, com múltiplas e por vezes contraditórias formas, e que
em vários momentos ultrapassou as dinâmicas militares e partidárias então em
disputa. Uma irrupção popular que reverteu formas antiquíssimas de opressão no
país, levando a que muita gente se sentisse gente pela primeira vez (mais: que
fosse convocada a definir por si própria o que é isso de “ser gente”). (...)»
3-PORTUGAL E A CRISE- MEMÓRIA E
ANÁLISE
A DEMOCRACIA ANTE O ABISMO
Boaventura de Sousa
Santos
No contexto de crise em Portugal, o combate contra o fascismo social de
que se fala neste texto exige um novo entendimento entre as forças
democráticas. A situação não é a mesma que justificou as frentes antifascistas
na Europa dos anos 1930, que permitiram alianças no seio de um vasto espectro
político, incluindo comunistas e democratas cristãos, mas tem com esta algumas
semelhanças perturbadoras.
Esperar sem esperança é a pior maldição que pode cair sobre um povo. A
esperança não se inventa, constrói-se com alternativas à situação presente, a
partir de diagnósticos que habilitem os agentes sociais e políticos a ser
convincentes no seu inconformismo e realistas nas alternativas que propõem.
Se o desmantelamento do Estado do Bem-Estar Social e certas privatizações
(a da água) ocorrerem, estaremos a entrar numa sociedade politicamente
democrática, mas socialmente fascista, na medida em que as classes sociais mais
vulneráveis verão as suas expectativas de vida dependerem da benevolência e,
portanto, do direito de veto de grupos sociais minoritários, mas poderosos.
O fascismo que emerge não é político, é social e coexiste com uma
democracia de baixíssima intensidade. A direita que está no poder não é
homogênea, mas nela domina a facção para quem a democracia, longe de ser um
valor inestimável, é um custo econômico e o fascismo social é um estado normal.
A construção de alternativas assenta em duas distinções: entre a direita
da democracia-como-custo e a direita da democracia-como-valor; e entre esta
última e as esquerdas (no espectro político atual, não há uma esquerda para
quem a democracia seja um custo). As alternativas democráticas hão de surgir
desta última distinção.
Os democratas portugueses, de esquerda e de direita, terão de ter
presente tanto o que os une como o que os divide. O que os une é a ideia de que
a democracia não se sustenta sem as condições que a tornem credível ante a
maioria da população. Tal credibilidade assenta na representatividade efetiva
de quem representa, no desempenho de quem governa, no mínimo de ética política
e de equidade para que o cidadão não o seja apenas quando vota, mas, também,
quando trabalha, quando adoece, quando vai à escola, quando se diverte e
cultiva, quando envelhece.
Esse menor denominador comum é hoje mais importante do que nunca, mas,
ao contrário do que pode parecer, as divergências que a partir dele existem são
igualmente mais importantes do que nunca. São elas que vão dominar a vida
política nas próximas décadas.
Primeiro, para a esquerda, a democracia representativa de raiz liberal é
hoje incapaz de garantir, por si, as condições da sua sustentabilidade. O poder
econômico e financeiro está de tal modo concentrado e globalizado, que o seu
músculo consegue sequestrar com facilidade os representantes e os governantes
(por que há dinheiro para resgatar bancos e não há dinheiro para resgatar
famílias?). Daí a necessidade de complementar a democracia representativa com a
democracia participativa (orçamentos participativos, conselhos de cidadãos).
Segundo, crescimento só é desenvolvimento quando for ecologicamente
sustentável e quando contribuir para democratizar as relações sociais em todos
os domínios da vida coletiva (na empresa, na rua, na escola, no campo, na
família, no acesso ao direito). Democracia é todo o processo de transformação
de relações de poder desigual em relações da autoridade partilhada. O
socialismo é a democracia sem fim.
Terceiro, só o Estado do Bem-Estar Social forte torna possível a
sociedade do bem-estar forte (pais reformados com pensões cortadas deixam de
poder ajudar os filhos desempregados, tal como filhos desempregados deixam de
poder ajudar os pais idosos ou doentes). A filantropia e a caridade são
politicamente reacionárias quando, em vez de complementar os direitos sociais,
se substituem a eles.
Quarto, a diversidade cultural, sexual, racial e religiosa deve ser
celebrada e não apenas tolerada.
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, sociólogo português, é diretor do Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra (Portugal)
Nenhum comentário:
Postar um comentário