quarta-feira, 5 de junho de 2013

NUMA RUA DE LISBOA


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Notícias–Visões e Cultura de Portugal – A Crise Econômica
Editor : Paulo Timm– www.paulotimm.com.brpaulotimm@gmail.com

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                                                               1.PORTUGAL-Visões

2.NOTÍCIAS

3. PORTUGAL E A CRISE - Memória e Análises
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1–VISÕES – Paula Cabeçadas envia -


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A LETRA LIVRE participa da Feira do Livro de Lisboa e da Feira do Livro em Coimbra. Na Feira do livro de Lisboa, que decorre de 23 de Maio a 10 de Junho, estaremos no Stand D08 representado editoras como &ETC, Averno, Língua Morta, Mariposazual, Fahrenheit 451, Sistema Solar e Documenta, além dos livros usados, fundos e antigos. A Feira de Coimbra realiza-se no Parque Verde de Cidade de 24 de Maio da 2 de Junho. Venha visitar-nos, estaremos com boas promoções e novidades!


Rejane Xavier via LuizAfonso Costa de Medeiros
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Salt of Portugal compartilhou um link.
Is it easy to drive in Lisbon and Oporto?

Editorial
Numa rua de Lisboa
30/05/2013 | 00:00 | Dinheiro Vivo
Ardeu um prédio de oito andares na Avenida António Augusto Aguiar, em Lisboa, na madrugada de terça-feira. Oito andares, mesmo num prédio abandonado que ia ser recuperado, é muito andar e muito fogo: 51 bombeiros apoiados por 15 carros de socorro chegaram depressa e a apitar, toda a gente reconhece o silvo. O alerta foi dado às 3h38. Às 3h40, contam os jornais, já estavam em ação. Os dois prédios ao lado foram evacuados, chegou a proteção civil, algum tempo depois também uma nuvem de repórteres ensonados. Tiraram as primeiras imagens, entrevistaram quem andava por ali. O chefe dos bombeiros, 50 anos, talvez menos, logo que pôde fez o ponto da situação. Disse: está tudo controlado, embora ainda haja trabalho a fazer, o rescaldo tem de ser metódico, sem pressa. O bombeiro falava com clareza, livre de palavras retorcidas. Tinha um português límpido que dava gosto ouvir.
A reportagem da RTP, onde vi tudo, cortava a seguir para a senhora da proteção civil, que também já lá estava. Vestida com aqueles impermeáveis amarelo-fluoroscentes mostrava mais do que preparação: queria ser útil. Vinha bem equipada, com uma daquelas carrinhas tipo canivete suíço. Ventanias, convulsões, incêndios, tremores, gatos nas árvores, o que for - era reconfortante tê-la por ali. Além disso também se explicava sem enfeites. Que madrugada: todos ali falavam uma língua francamente sem pretensões.
A reportagem cortava a seguir para uma moradora de um dos prédios evacuados. Eram três e pouco da manhã quando ouviu barulhos esquisitos, insistentes. Não dava para dormir. Pensou: um assalto, um ladrão. Foi à janela e viu que era melhor sair dali. Não há fumo sem fogo, não é? Os vizinhos pensaram o mesmo e desceram todos pelas escadas, parece que ninguém se empurrou. Os bombeiros informaram: atenção, ia demorar algum tempo para ficar bem feito. Efetivamente, o rescaldo acabou às onze da manhã. Entretanto, a proteção civil deu cobertores, água, abrigou aquela gente despejada para a rua numa madrugada de maio, maio que parecia fevereiro, não fossem os jacarandás em flor noutras ruas acima. Correu tudo tão bem que parecia um treino, apesar do medo. O fogo é das coisas mais assustadoras que há. Os moradores ajudaram-se, bombeiros agiram. Bom mesmo.
Um prédio arde na António Augusto Aguiar, daqueles antigos, com a estrutura em madeira, alvenaria em pedra. Os arquitetos chamam-lhe gaiola pombalina, foi construída para resistir aos abalos de terra. Aquele prédio lambido em chamas no coração de Lisboa, dizia eu, podia acabar num pavor, mais um, outro. Podia - mas não acabou. Os bombeiros trabalharam sem heroísmos. A reportagem contou a história sem devaneios sociólogos, sem política, sem crise, sem nos cravejar de opiniões e diagnósticos. Já ninguém os aguenta, aos diagnósticos. O que fazer quando tudo arde? Isto. Talvez alguma coisa ainda possa dar certo por aqui.

 

 

 

Contra a doxa neoliberal dominante, ousar pensar

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2 de junho de 2013 por as minhas leituras deixe um comentário
Andre FreireSeja na arena política, seja nos media, seja nas altas esferas da política europeia, a doxa (“crença comum ou opinião popular”) do pensamento neoliberal dominante é composta de várias ideias chave que, mesmo provando-se muitas vezes a sua fraca adesão à realidade, continuam a informar e a enformar os discursos, as ações e as políticas dos atores sociopolíticos. Algumas dessas ideias são a noção de que o nosso endividamento (como país) resultou de “vivermos acima das nossas possibilidades”; de que “precisamos de trabalhar mais” e “receber menos” para sermos mais competitivos; de que “temos uma legislação do trabalho demasiado rígida”; de que temos de aplicar rigorosas políticas de austeridade para pagar as nossas dívidas; de que “há um regime de privilégio no sector público”. Vale a pena desmontar algumas destas ideias feitas.
Sob a égide de um governo que sempre quis ser “mais troikista do que a troika” empreendeu-se a mais profunda desregulação no mercado de trabalho de que há memória em Portugal: liberalização dos despedimentos; redução profunda das compensações por despedimento; aumento da jornada de trabalho (banco de horas, redução de feriados, redução de férias, etc.); redução das remunerações dos assalariados, sobretudo no setor público. Tudo isto foi “vendido” aos portugueses como concorrendo para estimular uma maior criação de emprego, por um lado, e tornar mais competitiva a economia, por outro. Mas quais foram os resultados? A mais elevada taxa de desemprego de sempre na história da democracia (17,4% em Fevereiro de 2013; estimativa de 18,2% para o final do ano); uma economia em forte recessão desde que estamos sob a troika. Mais, desde que “as medidas milagrosas” são aplicadas, tais elementos negativos não se aliviaram sequer, agravaram-se. Acresce que os pressupostos de que “é preciso trabalhar mais” e “é preciso empobrecer” são falsos. É sabido das estatísticas comparativas que os salários médios dos portugueses são relativamente baixos (18.º lugar em 27 segundo a Visão, 2013) e que trabalhamos mais horas que a média europeia, seja na administração pública (AP), seja no setor privado (Office of National Statistics do Reino Unido, 2010).
Outra bête noire da troika e do Governo é a AP. Supostamente há aí “um regime de privilégio” (horários, remunerações, reformas, etc.) e é preciso acabar com ele a bem de uma alegada equidade. Quanto às reformas, por um lado, as poucas diferenças no método de cálculo que ainda subsistem são só para os funcionários que entraram há mais tempo na AP: mudar isso agora só com leis retroativas, ou seja, abandonando 200 anos de liberalismo político/de Estado de direito. Por outro lado, o peso das qualificações superiores na AP é muito maior do que no privado: é lógico que, em termos agregados, a pensão média seja muito maior. Quanto às remunerações, é preciso não esquecer, por um lado, que os servidores públicos (e os pensionistas) têm sido dos mais atingidos com as perdas de rendimento. Por outro lado, vários estudos têm demonstrado que é sobretudo na base da estrutura que as diferenças são mais favoráveis ao setor público. Mas isso é positivo: reduz as disparidades salariais! Além disso, as pessoas esquecem muitas vezes que os níveis de exigência são muito superiores na AP. Vejamos o exemplo do ensino superior (ES). O dr. Relvas era professor do ES privado, apesar de ser só “licenciado”. Se virem os quadros das universidades privadas, verão que tal défice de qualificações é moeda corrente. Seja à entrada, seja na progressão (doutoramentos, agregações, publicações, investigação, etc.), os níveis de exigência são muito maiores na AP do que no privado. Quanto aos horários, por um lado, vale a pena referir que adécalage público versus privado, favorável ao primeiro, é a norma na Europa e Portugal está abaixo da média (Office of National Statistics do Reino Unido, 2010). Por outro lado, como se disse atrás, em Portugal trabalha-se mais horas do que na Europa (em média), o problema é que a produtividade é baixa. Mas neste domínio o que conta é a qualidade do trabalho (qualificações da mão-de-obra, tecnologia, organização) e aqui, em geral, a AP bate o privado. Vejamos o exemplo do ES: os professores do privado podem até dar mais horas de aulas, mas a universidade afirma- -se em larga medida pela investigação, pelas publicações: aqui o público bate esmagadoramente o privado. Mais: a investigação e as publicações, sine qua non de uma universidade de qualidade, podem ficar em causa, se, porventura, se aumentarem as horas de aulas. Finalmente, o aumento do horário de trabalho e o congelamento das admissões concorrem para criar mais desemprego e menos oportunidades para os jovens; tudo isto destrói a sustentabilidade do Estado social. É por isso que precisamos de nos bater por menos horas de trabalho para todos, e não por mais, como defende a doxa dominante.

 

 

2-  NOTICIASPortugal sem passaporte – o povo



Posted: 31 May 2013 04:40 AM PDT

António Crispim, assador de leitões, revela alguns segredos do manjar mítico da Bairrada
Se a crise tem as costas largas, o leitão tem costelas estreitas, caras e deliciosas. É a mais consensual das nossas sete maravilhas gastronómicas. E o tempo de aperto afasta coisas más e constrói coisas boas.
Bairrada e leitão são indissociáveis, mas nem sempre é fácil estar na Bairrada e falar de leitão. Não se conta tudo, parece que ninguém quer criar inimizades e que o rastilho, nestes assuntos, pode ser muito curto. Mesmo assim, dá para perceber que a crise, sentida como em qualquer sítio, pode vir a ter efeitos positivos: afastar os animais de proveniências duvidosas, que proliferam com o aumento da procura, e puxar pela criatividade dos empresários.
Se perguntamos a alguém sobre restaurantes onde os leitões são cozidos antes de assados, para garantir despacho ao arrepio da qualidade, respondem-nos sempre que “todos os leitões são cosidos”. No caso, uma letra faz toda a diferença, trocadilho que na oralidade é impercetível. É uma resposta bem humorada que encerra o assunto.
Embora haja quem diga que continuam a aparecer nos restaurantes vendedores de aberrações (do ponto de vista bairradino) como leitões congelados ou embalados em vácuo, idos de Espanha, ou contentores de produtos similares chegados de França, parece claro que essa realidade já foi muito mais intensa.
É a crise. José Vidal, gerente do mítico restaurante que lhe leva o apelido, em Águeda, admite as quebras de faturação, mas insiste na qualidade. Se alguém chegar a um restaurante e ouvir que já não há leitão, tal deve ser considerado um bom sinal, e isso acontece por ali. Já José Pires, dono da Quinta dos Três Pinheiros, que presidiu durante 17 anos à Associação de Restauração e Hotelaria do Centro, está a investir, e apostou forte no bom leitão: “Temos condições para ter sucesso, meios humanos e uma gastronomia única. Se metemos a crise na cabeça, é um problema”. E no Rei dos Leitões criou-se um conceito para gente endinheirada. “Não quisemos expulsar os outros, mas chamar estes”, diz Pedro Rodrigues.
Como lembra José Vidal, “há três maneiras de comer leitão: quente, morno ou frio”. Nem pensar em reaquecê-lo. Já o negócio pode ser reaquecido, relançado, repensado. Portagens e preços dos combustíveis têm afastado muita gente, e alguns restaurantes fecham portas. Os bons, porém, são os que sabem dar a volta.
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Posted: 31 May 2013 03:53 AM PDT


Dilma Rousseff estará em Lisboa com Passos Coelho, no dia 10, para encerrar o Ano do Brasil em Portugal e anunciar o interesse do Brasil em adquirir a TAP e os CTT
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, vai a Portugal a 10 de junho para o encerramento do Ano do Brasil em Portugal,  mas leva dois dossiers importantes na bagagem: interesse nas privatizações da TAP e dos CTT. 
Os brasileiros já revelaram interesse na companhia aérea portuguesa  e nos Correios e a presidente vai aproveitar a visita no Dia de Portugal – que assinala o fim do Ano Brasil Portugal, uma das maiores campanhas de promoção do País no estrangeiro – para olhar com atenção para os dois negócios. 
A viagem ainda não consta, oficialmente, das agendas da Presidente do Brasil e de Pedro Passos Coelho, mas já é dada como muito provável e se isso se confirmar, será a oportunidade para a realização de uma cimeira luso-brasileira. O encontro já esteve marcado, recorde-se, para o Setembro do ano passado, mas Dilma acabou por pedir o cancelamento do encontro, o que, na altura, foi recebido com surpresa pela diplomacia portuguesa, porque foi anulado em cima da hora. A cimeira tinha a particularidade de se realizar no início do ano Portugal/Brasil e, agora, a confirmar-se, acabará por coincidir com o fim desta iniciativa, marcada precisamente para o 10 de Junho.
O interesse dos Correios do Brasil nos CTT foi conhecido há uma semana, tendo o presidente do BESI, José Maria Ricciardi, revelado que o banco que lidera vai aproximar os investidores. “Se não formos escolhidos pelo Governo, participaremos pelo lado do comprador”, disse o banqueiro ao Dinheiro Vivo.
Quanto a TAP, Germán Efromovich continua interessado mas tem concorrência. Além do empresário brasileiro-colombiano outras companhias – maioritariamente não europeias, onde se notam melhorias em passageiros transportados e receitas – já enviaram pedidos formais de informação ao Governo, informa hoje  o “Dinheiro Vivo”. O que permite antecipar melhores condições para esta segunda tentativa de venda. 
O processo está ainda em fase de avaliação do mercado, mantendo-se a possibilidade de a VEM, empresa de manutenção da TAP no Brasil na qual a maioria dos investidores não se tem mostrado interessada, ficar de fora. 

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 3. A CRISE\

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Krugman, Passos e as Vinhas da Ira
Paulo Gaião  - 8:00 Terça, 28 de Maio de 2013


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Portugal vive um período semelhante ao da Grande Depressão americana dos anos 30, como diz Paul Krugman?  
Na verdade, há muitas semelhanças.  
Herbert Hoover chegou à Casa Branca em 1928 com ideias febris em torno da eficiência, inspirado no taylorismo e no combate ao desperdício. 
Como Passos Coelho chegou, obcecado com estas políticas, sem ver mais nada à frente. 
Hoover era um defensor acérrimo das boas práticas.  
Como Passos Coellho é do empreendedorismo, achando que se basta por si.  
Hoover acreditava piamente nos esquemas voluntaristas no seio da sociedade como sucedâneos dos apoios sociais  públicos.  
Como Passos acredita nos esquemas caritativos e no  envolvimento das empresas e milionários na função social, compensando a redução do Estado Providência.  
Hoover era um crente nas vantagens dos Orçamentos equilibrados, à custa da não aprovação ou redução dos programas sociais.  
Passos é um serviçal dos fundamentalistas em Berlim e Bruxelas dos défices mínimos.   
A poucos meses da crise de 1929, Hoover dizia: "Estamos hoje mais perto de acabar com a pobreza do que alguma vez na história da América"  
Como Passos garante hoje a Terra Prometida. E, no entanto, só se vê breu e mais breu ao fundo do túnel.          
Hoover engoliu o que disse.  Em 1931, o PIB norte-americano tinha caído 2/3. Em 1932, milhares de empresas faliram e o o desemprego chegava aos 25%.   
Para combater o desemprego, Hoover repatriou 500 mil mexicanos.  
Passos manda os jovens licenciados emigrarem ou dedicarem-se à agricultura.   
A política que Hoover elegeu em 1932 para combater a crise passou pelo maior aumento de impostos dos EUA em tempos de paz (até hoje). O IRS subiu até 63% para os rendimentos mais elevados.  
Tal como Passos fez o maior aumento de impostos de sempre em Portugal, fugindo de reformar verdadeiramente o país, sector a sector.   
A política fiscal de Hoover levou a uma maior recessão, à Grande Depressão, às Vinhas da Ira que Steinbeck havia de retratar.
Passos também já as semeou.   

Um ardil da razão internacionalista

– O presente artigo é uma resposta à crítica de Jacques Sapir ao livro En finir avec l'Europe, obra colectiva dirigida pelo autor. Posteriormente resistir.info publicará a tréplica de Sapir.

por Cédric Durand
A resenha minuciosa e estimulante que Jacques Sapir propõe da obra colectiva En finir avec l'Europe revela numerosos pontos de convergência quanto à apreciação da conjuntura. A União Europeia é hoje o lugar onde se impulsiona a radicalização das políticas neoliberais; um espaço de tomada de decisão onde a influência da vontade popular é sistematicamente mantida à distância. Além disso, a criação do euro no quadro da união económica e monetária alimentou desequilíbrios insustentáveis que não podem ser reabsorvidos de modo duradouro, seja ao preço de um ajustamento brutal em baixa dos salários, de uma alta dos impostos indirectos e de uma deterioração drástica dos serviços públicos como se observa nos países da periferia. 

Esta constatação comum conduz a uma apreciação compartilhada: a União Europeia e, mais especificamente, a união económica e monetária são dispositivos de poder hostis aos interesses da maioria da população europeia e devem ser designados e combatidos como tais pela esquerda. Não há salvação portanto no grande salto em frente hoje apresentado pelos comentaristas europeus como a única saída para a crise. Bem pelo contrário. Enquanto as classes dominantes estão poderosamente organizadas e coordenadas à escala europeia (e, mais amplamente, à escala internacional), os movimentos sociais e as organizações de esquerda permanecem fragmentados geograficamente, profundamente ancorados nos ritmos dos seus espaços nacionais. Não dispondo de alavancas institucionais para investir no campo estratégico europeu, os assalariados não influem de maneira alguma na agenda integracionista que não pode senão lhes ser desfavorável. É preciso portanto procurar uma forma de ruptura com a UE o que implica, mecanicamente, vir a uma recentragem – pelo menos temporária – num espaço nacional de definição das políticas económicas e sociais. 

É sobre a apreciação desta recentragem que há divergência. A que título deve ela ser procurada? Retornemos ao fragmento que Sapir qualifica de "mais desastroso": "A Europa não é a questão principal para as esquerdas sociais e políticas. Seu problema não é cuidar de uma solução para a UE. O essencial é responder ao que está em primeiro lugar na crise económica – o desemprego em massa". O que há de escandaloso nesta afirmação. Trata-se com efeito de uma recusa a adoptar uma posição de princípio sobre a questão europeia. Isso conduz, por um lado, a recusar a prescrição ministrada aos adversários da Europa neoliberal de encontrarem uma solução europeia e de rejeitar o pretexto europeu avançado de quando em quando para justificar o alinhamento neoliberal disto que outrora foi social-democracia. Mas, por outro lado, o posicionamento que se defende não faz do Estado-nação uma tábua de salvação. Se a estruturação dos movimentos sociais e das esquerdas políticas ao nível europeu é insuficiente, suas acções no seio do espaço nacional, se bem que mais articuladas, permanecem num registo fundamentalmente antagónico. 

É aqui que a analogia sedutora feita por Sapir com a situação da burguesia descrita por Guizot parece profundamente errónea. Naturalmente, como também o sublinham Marx e Engels: "Cada etapa de desenvolvimento da burguesia acompanhava-se de um progresso político correspondente. Corpo social oprimido pelo despotismo feudal, associação armada a administrar-se ela própria na comuna, aqui república urbana independente, ali terceiro estado à mercê da monarquia, depois, durante o período manufactureiro contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, pedra angular das grandes monarquias, a burguesia, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado, mundial, apoderou-se finalmente da soberania política exclusiva no Estado representativo moderno". 

A libertação das comunas corresponde com efeito exactamente a uma etapa essencial na acumulação espacial de recursos institucionais para esta força social. Mas esta acumulação repousa ela própria numa acumulação de recursos económicos. Ora, nada disso se passa para os assalariados. Como diz um refrão muito conhecido, "não somos nada, sejamos tudo" é o problema exclusivo dos assalariados, mas este nunca foi o da burguesia. 

Os assalariados não exercem em parte alguma um poder económico autónomo do capital, a sua acção é um poder antagónico, de auto-defesa. Certamente, uma guerra social de longo prazo permitiu contestar "a soberania política exclusiva" à burguesia. Os direitos políticos, económicos e sociais adquiridos com grandes lutas cristalizam relações de força; entretanto, apesar destes avanços parciais sedimentados ao longo da história das democracias ocidentais, os assalariados jamais chegaram a romper com a sua posição subordinada nas relações sociais capitalistas. De maneira muito diferente, os socialismos realmente existentes, os regimes bolivarianos na América Latina, as contra-sociedades comunistas em França e na Itália no após-guerra, as Zonas de Autonomia Temporária dos anarquistas contemporâneos, a economia social e solidária ou ainda as instituições do Estado social conseguiram preservar parcialmente e/ou temporariamente das experiências de vida dos imperativos da reprodução do capital. Isto evidentemente é muito, mas certamente não basta para se libertarem da incorporação (subsomption) real ao capital, ou seja, da incorporação à própria existência da população no movimento geral e global da acumulação do capital. 

Dito de outra forma, sugerir que a libertação do Estado-nação dos contrangimentos neoliberais da UE e da UEM possa representar para os assalariados o mesmo tipo de ascensão em poder que a emancipação das comunas para a burguesia é perfeitamente abusivo. A hegemonia no seio do Estado-Nação na Europa foi organizada em torno das forças do capital e assim permanece até hoje, inclusive naturalmente fora da UEM (pensemos na Grã-Bretanha onde o governo corta até o osso na questão da austeridade) ou mesmo da UE (a Noruega ou a Suíça). Também é preciso lembrar que o cesarismo burocrático europeu que corresponde à crise contemporânea não é uma invenção da UE. Jan-Werner Müller sublinha com razão que "manter à distância pressões populares e, mais geralmente, uma profunda desconfiança da soberania popular subentende não só os inícios da integração europeia como também a reconstrução política em geral da Europa ocidental após 1945". Convencidas de que os "totalitarismos" gémeos – nazismo e estalinismo – eram o produtos dos "excessos" da democracia, as elites europeias então optaram conscientemente por uma concepção restritiva da democracia. 

A libertação do Estado-nação do colete de força neoliberal da UE não trás portanto, enquanto tal, nenhuma garantia de política económica progressista. Entretanto, considero que é realmente urgente que a esquerda assuma uma ruptura clara com a construção europeia. É aqui que se vê que o processo em neoclassicismo instruído por Jacques Sapir não repousa sobre nada. O debate não se refere de forma alguma ao carácter sequencial dos processos económicos, políticos e sociais, mas antes à sequência que convém desencadear. 

Para Sapir, a ruptura com o euro está em primeiro lugar. Ela é não só uma condição de possibilidade de uma política económica autenticamente de esquerda como até antecede a definição do conteúdo desta. Os efeitos políticos que implicam a ruptura europeia são portanto em grande medida indeterminados, o que deixa perigosamente a possibilidade de fazer actuar as molas nacionalistas. 

Considero, ao contrário, que é preciso primeiro definir as políticas económicas que correspondam à urgência da situação, a saber 1) contra o desemprego, uma política de financiamento público do emprego público em último recurso e 2) contra a predação e o controle social exercidos pela finança, a socialização das instituições de crédito. Não é senão em torno de tais proposições que identidades de classe fragmentadas podem se coligar e dar um conteúdo de classe à ruptura com as instituições europeias. Jacques Sapir tem razão quando afirma que "é preciso pensar a aliança dos grupos sociais (ou o "bloco histórico") que poder trazer uma alternativa política na Europa. Esta aliança deve ser suficientemente inclusiva para ser capaz de resistir às pressões, tanto internas como externas, que se manifestarão aquando da execução desta alternativa. Isso implica pensar esta aliança para além das fronteiras das camadas interiores dos assalariados (operários e empregados) mesmo que sejam elas que devem dar o tom desta aliança". Mas se se deseja efectivamente que as camadas populares exerçam a liderança deste novo bloco histórico, ou seja, que o bloco histórico em vias de constituição se homogeinize à esquerda, é preciso naturalmente que ele se alimente de um conteúdo programático de esquerda! O projecto desta aliança não pode é claro ser aquele virado para o compromisso produtivista do passado, o "da reconstituição das margens de autonomia da economia francesa em torno da defesa das condições de reprodução ampliada do modelo social francês". Trata-se ao contrário de articular respostas imediatas na frente de batalha do emprego e contra a finança com, por um lado, os princípios de um novo modelo de desenvolvimento adaptado a um período que será marcado duradouramente por taxas de crescimento do PIB muito fracas e, por outro lado, perspectivas de organização espacial da economia combinando relocalização, inserção razoável nas cadeias globais de mercadorias e construção de [bases] imateriais globais comuns. 

Em suma, a viragem nacional que implica a ruptura com a Europa é para mim sobretudo uma astúcia da razão internacionalista; um movimento estratégico, não um alinhamento à quimera da independência nacional. 

Esta viragem é imposta pelo carácter dessincronizado dos ritmos da luta das classes nos diferentes países europeus. Esta dessincronização não provém apenas – nem mesmo essencialmente – de heranças históricas distintas mas muito mais do carácter desigual do desenvolvimento capitalista que resulta de combinações produtivas idiossincráticas e alimenta dinâmicas sociais e políticas singulares. Na Europa, até à crise de 2007, pode-se assim distinguir pelo menos três regimes de acumulação complementares mas inteiramente distintos. Na periferia leste europeia, a lógica económica dominante é a de um regime de proletarização pelo qual as populações que viviam antes nas economias socialistas foram progressivamente inseridas nas redes capitalistas transnacionais, o que se traduz – uma vez passado o choque transicional e antes do da crise financeira – por ganhos de produtividade importantes e altas de salários. Na Alemanha, ao contrário, a pressão deste exército de reserva favoreceu uma grande derrota dos assalariados que se manifesta na estagnação dos salários e na brutal liberalização do mercado de trabalho pelos reformas Schröder (reformas hoje celebradas por François Hollande...). Nas periferias do Sul da Europa, a dinâmica totalmente diferente: os excedentes dos países do Norte foram reciclados sob a forma de fluxos financeiros que permitiram nomeadamente uma alta dos créditos ao consumo e dos créditos imobiliários, o que sustentou a actividade, o emprego e os salários sem que a produtividade a acompanhasse. Lá, as classes populares e médias puderam experimentar um breve período de melhoria do seu nível de vida pelo qual hoje pagam um preço pesadíssimo. 

Estas temporalidades distintas dão um carácter nacional às crises políticas subjacentes às relações de força entre as classes. Além disso, as dinâmicas nacionais, se bem que singulares, mais frequentemente não são discordantes. Ao contrário, da Primavera dos povos de 1848 às revoluções árabes de 2011, passando pelas mobilizações de 1968 e a vaga dos levantamentos europeus de 1917-1923, a história testemunha o facto de que a aspiração à liberdade e à igualdade é algo extremamente contagioso. Simetricamente, os períodos de recuo dos assalariados, a exemplo dos anos 1980, tendem a ser generalizados. 

É sobre esta subtil articulação entre dessincronização dos ritmos nacionais e experiência comum de um momento histórico que se funda a astúcia da razão internacionalista. Se toda experiência nacional é fortemente constrangida pelo regime internacional que a ela se sobrepõe, um acontecimento nacional ao mesmo tempo traz em si um potencial de contaminação susceptível de transformar o regime internacional. Assim, hoje, a questão de uma ruptura de esquerda com a União Europeia coloca-se de maneira incontornável por duas razões entrelaçadas: é, ao mesmo tempo, uma necessidade para por em xeque a inserção no capitalismo globalizado que defendem as classes dominantes de cada um dos países a expensas dos seus povos e um ponto de passagem obrigatório para abalar a ordem neoliberal europeia. A dinâmica de crise política e de inovação social associada a uma tal ruptura repercutir-se-ia inevitavelmente bem além do país que a iniciasse. Ela deveria certamente gerar para este dividendos económicos e sociais imediatos, nomeadamente devido ao abandono das políticas deflacionistas e de um melhor ajustamento das taxas de câmbio. Mas poderia sobretudo desempenhar um papel propulsor abrindo no cenário europeu e mundial novas perspectivas socialistas e ecologistas para o século XXI. 

31/Maio/2013

O original encontra-se em http://russeurope.hypotheses.org/1306 

Este artigo encontra-se em 
http://resistir.info/ .

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