Blog PT_BR dez 10 - 2007-2012: 6 anos que
abalaram os bancos
BLOG ANO PORTUGAL BRASIL PORTUGAL – Dia 08 de dezembro
Notícias–Visões
e Cultura de Portugal – A Crise Econômica
ANO BRASIL
PORTUGAL-Acompanhe a programação neste site:
***
INDICE
INDICE
1.PORTUGAL-Visões
2.NOTÍCIAS
3. PORTUGAL E A CRISE - Memória e Análises
&&&
1–VISÕES:Biblioteca Digital
Contos de autores portugueses gratuitos com o DN
A iniciativa dá aos leitores a possibilidade de descarregarem para os seus
PC, tablet ou smartphone uma grande variedade de contos digitais de grandes
autores portugueses.
- Conto
explora a ideia de um homem livre
- Fernando
Alvim escreveu: "Amo-te para sempre"
- Conto
de Pedro Mexia já está disponível
- Dulce
Maria Cardoso fala dos encontros do dia-a-dia
- Mário
de Carvalho fala da violência e de pessoas violentas
- A
história de uma mulher absurdamente feia
- Inês
Pedrosa inspirou-se em duas histórias de amor reais
- Eduardo
Madeira investiga origem dos nomes dos rios
- Conto
de João Tordo já está disponível de forma gratuita
- 'Um
Romance' de Rui Zink gratuito com o DN
Biblioteca digital do DN
A
menina que queria ajudar todos
06 dezembro 2012
1
comentário
David Machado escreveu o único conto infantil que pertence a esta coleção
do DN, que conta também com ilustrações de Mafalda Milhões. "Acho que
posso ajudar" já está disponível na Biblioteca Digital gratuitamente.
2- NOTICIAS
Cândida Almeida"Ministério Público não viola o segredo de Justiça"
Hoje
A procuradora-geral adjunta Cândida
Almeida disse na segunda-feira, em Gaia, ser "um pouco esquizofrénica a
ideia de que é o Ministério Público (MP) que passa a informação",
violando assim o segredo...
|
Ministra da Justiça
A ministra da Justiça alertou hoje
para a necessidade de serem criados "mecanismos de
responsabilização" em matéria de escutas telefónicas e reiterou que há
órgãos de polícia criminal (OPC) "sem vocação"...
|
Garantia do Presidente francês
O Presidente francês, François
Hollande, afirmou hoje em Oslo que a crise na zona euro "ficou para
trás" e sublinhou todos os esforços para "resolver os
problemas".
|
Juiz conselheiro do Constitucional
O juiz conselheiro do Tribunal
Constitucional Guilherme da Fonseca afirmou hoje que a atuação policial de 14
de novembro e a recolha de imagens não editadas na RTP "são
ilegais" e "só podem explicar-se...
|
Dengue
O ministro da Saúde defendeu ontem
que "a Madeira é uma localidade onde se pode viajar sem
restrições", desvalorizando os receios em torno do surto de casos de
dengue no arquipélago, que atingiu 2000...
|
3-PORTUGAL
E A CRISE- MEMÓRIA E ANÁLISE
2007-2012: 6 anos que abalaram os bancos
O cenário repetiu-se pelo menos trinta vezes na
Europa e nos Estados Unidos desde 2008: os poderes públicos estiveram sempre (e
sistematicamente) ao serviço dos bancos privados, financiando o seu resgate
através do endividamento público. Primeira parte do artigo "Bancos contra
povos: os bastidores de um jogo manipulado!", de Eric Toussaint.
Artigo | 5 Dezembro, 2012 - 15:54 | Por Eric Toussaint
http://www.esquerda.net/artigo/2007-2012-6-anos-que-abalaram-os-bancos/25794
Foto URBAN ARTefakte/Flickr
Desde 2007-2008, os grandes bancos centrais (BCE,
Banco da Inglaterra, a Fed nos EUA, o Banco da Suíça) têm como prioridade
absoluta tentar evitar o colapso do sistema bancário privado. Contrariamente ao
discurso dominante, a principal ameaça para os bancos não é a suspensão do
pagamento da dívida soberana pelo Estado |1| soberano. Desde 2007, nenhuma das
falências bancárias foi causada por essa falta de pagamento. Nenhum dos
resgates bancários levados a cabo pelos Estados teve como causa a suspensão de
pagamentos por parte de Estados sobreendividados. Desde 2007 o que ameaça os
bancos são as dívidas privadas que os bancos foram gradualmente fomentando
devido à grande desregulação iniciada em finais dos anos setenta e concluída
nos anos noventa. Os balanços dos bancos privados estão sempre contaminados por
ativos |2| duvidosos: desde ativos tóxicos que são bombas ao retardador até
ativos ilíquidos (que não podem ser vendidos, nem passados, nos mercados
financeiros), passando por ativos cujo valor é bastante superestimado nos
balanços bancários. A venda e a depreciação de ativos que os bancos têm
inserido nas suas contas, com o objectivo de reduzirem o peso desses ativos
explosivos, não são suficientes. Uma parte significativa desses ativos depende
de um financiamento a curto prazo (concedido ou garantido pelos poderes
públicos, com base no dinheiro dos contribuintes) para se manter à tona |3| e
para fazer face às dívidas de curto prazo. Foi o que aconteceu com o banco
franco-belga Dexia, um verdadeiro hedge fund de grande dimensão, que, em
quatro anos, esteve três vezes à beira da falência: em outubro de 2008, em
outubro de 2011 |4| e em outubro de 2012 |5|. Durante o episódio mais recente,
que teve início em novembro de 2012, os estados francês e belga concederam uma
ajuda de 5,5 mil milhões (53% do valor foi garantido pela Bélgica) para
recapitalizar o Dexia SA, sociedade financeira moribunda, que viu desaparecer
os seus próprios fundos. De acordo com Le Soir: «os capitais próprios do
Dexia-casa-mãe passaram de 19,2 mil milhões para 2,7 mil milhões de euros entre
o final de 2010 e o final de 2011. E a nível de grupo, o total dos fundos
próprios foi negativo (-2,3 mil milhões em 30 de junho de 2012)» |6|. No final
de 2011, as dívidas a exigir de imediato ao Dexia SA ascendiam a 413 mil
milhões de euros e os montantes devidos em termos de contratos de derivados
eram superiores a 461 mil milhões de euros. A soma desses dois valores era
superior a mais de duas vezes e meia o PIB da Bélgica! No entanto, os
dirigentes do Dexia, o belga vice-primeiro-ministro Didier Reynders e os
principais meios de comunicação social ainda alegam que o problema do Dexia SA
é em grande parte causado pela crise da dívida soberana no sul da zona do euro.
A verdade é que os créditos do Dexia SA em relação à Grécia não excediam 2 mil
milhões de euros em Outubro de 2011, ou seja, duzentas vezes menos do que a
dívida a pagar de imediato. Em outubro de 2012, as ações do Dexia valiam cerca
de 0,18 euros ou 100 vezes menos do que em setembro de 2008. Apesar de tudo, os
estados francês e belga decidiram, mais uma vez, salvar esse « mau banco»,
aumentando de repente a dívida pública dos seus países. Em Espanha, a quase
falência do Bankia foi também causada por acordos financeiros duvidosos e não
por qualquer tipo de incumprimento por parte do Estado. O cenário repetiu-se
pelo menos trinta vezes na Europa e nos Estados Unidos desde 2008: os poderes
públicos estiveram sempre (e sistematicamente) ao serviço dos bancos privados,
financiando o seu resgate através do endividamento público.
De volta ao início da crise em 2007
A construção gigantesca de dívidas privadas começou
a ruir com a explosão da bolha especulativa no mercado imobiliário dos Estados
Unidos (seguido pelo mercado imobiliário da Irlanda, do Reino Unido e de
Espanha,...). A bolha imobiliária explodiu nos Estados Unidos quando o preço
das habitações construídas em grandes quantidades começou a cair, porque cada
vez mais as casas não tinham compradores.
As explicações truncadas e enganadoras sobre a
crise que eclodiu nos Estados Unidos em 2007, que teve um enorme efeito de
contágio principalmente na Europa Ocidental, prevaleceram nas explicações dadas
pelos principais meios de comunicação social. Com regularidade, em 2007 e
durante boa parte de 2008, explicou-se à opinião pública que a crise tinha
começado nos Estados Unidos, porque os pobres estavam muito endividados por
terem comprado casas que não eram capazes de pagar. O comportamento irracional
dos pobres foi apontado como tendo sido o causador da crise. A partir de finais
de setembro de 2008, após a falência do Lehman Brothers, o discurso dominante
mudou e começou-se a apontar o dedo às ovelhas negras que no mundo das finanças
tinham pervertido o funcionamento virtuoso do capitalismo. Mas mantêm-se as
mentiras ou as explicações truncadas, que continuaram a circular. Passou-se dos
pobres responsáveis pela crise para as maçãs podres da classe capitalista:
Bernard Madoff, que montou um golpe 50 mil milhões de dólares, ou Richard Fuld,
o patrão do Lehman Brothers.
As premissas da crise remontam a 2006, quando se
inicia nos Estados Unidos a queda dos preços do imobiliário, causada pela
superprodução que foi provocada pela bolha especulativa, que, inflacionando os
preços do imobiliário, levou o sector da construção a aumentar exageradamente a
sua actividade em relação à procura existente. Foi a queda dos preços do
imobiliário que levou a um aumento do número de famílias incapazes de pagarem
as mensalidades das suas hipotecas subprimes. De facto, nos Estados Unidos, as
famílias têm a oportunidade e o costume, quando os preços dos imóveis sobem, de
refinanciar as suas hipotecas, após dois ou três anos, a fim de obterem
condições mais favoráveis (em particular no sector subprime, a taxa inicial a
dois ou três anos é baixa e fixa e ronda os 3%, mas depois dispara e torna-se
variável no terceiro ou quarto ano). Dado que os preços do imobiliário
começaram a cair em 2006, as famílias que utilizaram empréstimos subprime
deixaram de ser capazes de refinanciar a sua hipoteca favoravelmente. Os
incumprimentos começaram a aumentar de forma acentuada a partir do início de
2007, o que provocou a falência de 84 empresas de hipotecas nos Estados Unidos,
entre janeiro e agosto de 2007.
Apesar de a crise ser explicada com frequência de
forma simplista pela explosão de uma bolha especulativa, na realidade, a causa
deve ser procurada tanto no sector produtivo como ao nível da especulação
financeira. É certo que o facto de a bolha ter sido criada, e de acabar por
rebentar, apenas multiplica os efeitos da crise que começou no sector
produtivo. Todos os empréstimos subprime e produtos estruturados, criados desde
meados dos anos noventa, entraram em colapso, o que teve efeitos terríveis
sobre a produção em vários sectores da economia real. As políticas de
austeridade ampliaram ainda mais o fenómeno que gera depois o período
depressivo e de recessão, que se arrasta e mantém como refém a economia dos
países industrializados.
A crise do imobiliário nos Estados Unidos e a crise
bancária que se lhe seguiu provocaram um enorme efeito de contágio a nível
internacional, levando muitos bancos europeus a investirem de forma massiva em
produtos estruturados e derivados norte-americanos. Desde os anos noventa, o
crescimento dos Estados Unidos e de várias economias europeias foi apoiado por
uma hipertrofia do sector financeiro privado e um aumento muito grande das
dívidas privadas: endividamento das famílias |7|, dívida das empresas
financeiras e não-financeiras. Ao contrário, as dívidas públicas tenderam a
diminuir entre a segunda metade dos anos noventa e os anos de 2007-2008.
Hipertrofia do sector financeiro privado, portanto.
O volume de ativos dos bancos privados europeus, em relação ao produto interno
bruto, cresceu de maneira exponencial a partir da década de noventa, atingindo,
na União Europeia, três vezes e meia o PIB dos 27 países membros da UE em 2011
|8|. Na Irlanda, em 2011, os ativos dos bancos representavam oito vezes o
produto interno bruto do país.
As dívidas dos bancos privados |9| da zona euro
representam também três vezes e meia o PIB da zona. As dívidas do sector
financeiro britânico atingem máximos em relação ao PIB: chegam a ser onze vezes
superiores, representando a dívida pública cerca de 80% do PIB.
A dívida bruta dos Estados da zona do euro
representava 86% do PIB dos 17 países em 2011 |10|. A dívida pública grega
representava 162% do PIB grego em 2011. Por seu turno, as dívidas do sector
financeiro representam 311% do PIB, ou seja, o dobro. A dívida pública
espanhola atingiu 62% do PIB em 2011. No entanto, as dívidas do sector
financeiro atingiram 203%, ou seja, o triplo da dívida pública.
Um pouco de história: a criação de uma regulação
financeira rigorosa, na sequência da crise de 1930
O colapso de Wall Street em outubro de 1929, a
enorme crise bancária de 1933 e o prolongado período de crise económica nos
Estados Unidos e na Europa, na década de trinta, levaram o presidente Franklin
Roosevelt, e de seguida a Europa, a regular fortemente o sector financeiro para
evitarem a repetição de graves crises bolsistas e bancárias. Consequência:
durante os 30 anos que seguiram a Segunda Guerra Mundial, o número de crises
bancárias foi mínimo. É o que mostram dois economistas neoliberais
norte-americanos, Carmen M. Reinhart e Kenneth S. Rogoff, num livro publicado
em 2009, intitulado Desta Vez É Diferente. Oito Séculos de Loucura
Financeira. Kenneth Rogoff foi economista-chefe do FMI e Reinhart Carmen,
professor universitário, é conselheiro do FMI e do Banco Mundial. De acordo com
esses dois economistas, que são tudo menos favoráveis a questionar o
capitalismo, a quantidade muito reduzida de crises bancárias explica-se
principalmente «pela repressão dos mercados financeiros nacionais (em
diferentes níveis), e por um recurso massivo ao controlo de capitais, durante
os anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial» |11|.
Uma das medidas fortes tomadas por Roosevelt e
pelos governos da Europa (nomeadamente sob a pressão de mobilizações populares
na Europa, que surgiram após a libertação) consistiu em limitar e regular, de
forma estrita, o uso que os bancos podiam fazer do dinheiro das pessoas. Esse
princípio de protecção dos depósitos levou à distinção entre bancos comerciais
e bancos de investimento, criados pela lei norte-americana Glass-Steagall
Act, que foi a mais conhecida, tendo sido aplicada, com algumas variações,
nos países europeus.
Devido a essa separação, só os bancos comerciais
podiam receber depósitos do público, que beneficiavam de uma garantia do
Estado. Paralelamente, o seu campo de atividade tinha ficado limitado à
concessão de empréstimos a particulares e a empresas e excluía a emissão de
títulos, de ações e de outros instrumentos financeiros. Os bancos de
investimento deviam, por sua vez, ir buscar os seus recursos aos mercados
financeiros, para poderem emitir títulos, ações e outros instrumentos
financeiros.
A desregulação financeira e a viragem neoliberal
A viragem neoliberal de finais da década de setenta
pôs em causa essas regulações. Após cerca de vinte anos, a desregulação
bancária e financeira ficou concluída. Como revelam Kenneth Rogoff e Reinhart
Carmen, as crises bancárias e bolsistas multiplicaram-se a partir dos anos
oitenta e atingiram níveis cada vez mais preocupantes.
Segundo o modelo tradicional, herdado do período em
que existia regulação, os bancos avaliam e assumem o risco, ou seja, analisam
os pedidos de crédito, decidem ou não satisfazê-los e, uma vez os empréstimos
concedidos, registam-nos nos seus balanços até ao final do prazo do empréstimo
(estamos a falar do modelo originate and hold – «originar e manter»).
Aproveitando a tendência de profunda desregulação,
os bancos abandonaram o modelo «originar para manter» com o objectivo de
aumentarem o rendimento dos fundos próprios. Nesse sentido, os bancos
inventaram novos procedimentos, em especial, a titularização, que significa
transformar os créditos bancários em títulos financeiros. A finalidade era
simples: consistia em não registar nas contas dos bancos os créditos e os
respectivos riscos. Os bancos transformaram esses créditos em títulos, os
denominados produtos financeiros estruturados, que vendiam a outros bancos e a
outras instituições financeiras privadas. Estamos falar de um novo modelo
bancário designado originate to distribute, «originar para distribuir»,
também chamado originate repackage and sell, que consiste em conceder o
crédito, titularizá-lo e vendê-lo. Para o banco, a vantagem é dupla: reduz o
risco porque os créditos concedidos baseiam-se em ativos e, por outro lado,
dispõe de meios suplementares para poder especular.
A desregulação permitiu ao sector financeiro
privado, nomeadamente aos bancos, acionar com frequência o chamado efeito de
alavancagem. Xavier Dupret descreve, com clareza, o fenómeno: «O mundo bancário
envididou-se muito, nos últimos anos, devido ao chamado efeito de alavancagem.
A alavancagem significa recorrer ao endividamento para aumentar a rentabilidade
sobre o capital próprio. E para funcionar, é necessário que a taxa de rentabilidade
do projeto selecionado seja superior às taxas de juro a pagar sobre o montante
que se pediu emprestado. Os efeitos de alavancagem tornaram-se cada vez mais
importantes ao longo do tempo. É evidente que isso gerou problemas. Na
primavera de 2008, os bancos de investimento de Wall Street desencaderam
efeitos de alavancagem que oscilavam entre 25 e 45 (para um dólar de fundos
próprios, pediam emprestado entre 25 e 45 dólares). O Merrill Lynch, por
exemplo, tinha um efeito de alavancagem de 40. Essa situação tornou-se
obviamente explosiva, porque uma instituição que tem uma alavancagem de 40 para
1 vê os seus fundos próprios caírem 2,5% (1/40) do valor dos ativos
adquiridos.» |12|
Devido à desregulação, os bancos puderam
desenvolver atividades que envolviam grandes volumes de financiamento (e,
portanto, de dívida), sem registarem isso nos seus balanços. As operações fora
do balanço atingiram tal dimensão que, em 2011, o volume da atividade em causa
excedia os 67 biliões de dólares (o que equivale aproximadamente à soma do PIB
de todos os países do mundo): é o que se chama sistema de bancos-sombra, o shadow
banking |13|. Quando as operações fora do balanço provocam perdas
avultadas, isso afeta, mais cedo ou mais tarde, a saúde dos bancos que levaram
a cabo essas operações. São, sobretudo, os grandes bancos que dominam essa
atividade sombra. A ameaça de falência leva os Estados a irem em seu socorro,
procedendo a recapitalizações. Apesar de os balanços oficiais dos bancos
registarem uma diminuição de volume, desde o início da crise em 2007-2008, o
volume das operações fora de balanço, o shadow banking, não seguiu a
mesma tendência. Depois de ter caído entre 2008 e 2010, voltou em 2011 e 2012
ao nível de 2006-2007, o que é um sintoma claro da perigosidade da situação das
finanças privadas mundiais. De repente, o raio de ação nacional e internacional
das instituições públicas, que têm a obrigação, para usar o vocabulário deles,
de levar a finança a assumir um comportamento mais responsável, é muito
limitado. Os reguladores não disponibilizam os meios necessários para que se
conheça a actividade real dos bancos que eles têm o dever de controlar.
O Conselho de Estabilidade Financeira (CEF), o
órgão instituído pelo G20 e encarregue de supervisionar a estabilidade financeira
mundial, divulgou os números de 2011. «A dimensão do shadow banking,
escapando a todo tipo de regulação, é de 67 biliões de dólares, de acordo com o
relatório que estuda 25 países (90% dos ativos financeiros mundiais). São mais
5-6 biliões do que em 2010. Esse sector “paralelo” equivale, por si só, a
metade do volume dos ativos totais dos bancos. Tomando por referência o Produto
Interno Bruto dos países, a banca sombra prospera em Hong Kong (520%), Holanda
(490%), Reino Unido (370%), Singapura (260%) e Suíça (210%). Mas, em termos
absolutos, os Estados Unidos continuam em primeiro lugar com um sector paralelo
de 23 biliões de ativos em 2011, seguido da zona euro (22 biliões) e do Reino
Unido (9 biliões).» |14|
Uma grande parte das transações financeiras escapa
totalmente ao controlo oficial. Como foi referido anteriormente, a dimensão da
actividade dos bancos sombra representa metade do volume dos ativos totais dos
bancos! É preciso também avaliar o mercado fora de bolsa (OTC*) – isto é, o
mercado que não é controlado pelas autoridades reguladoras dos mercados – os
produtos financeiros derivados. O volume de produtos derivados cresceu de forma
exponencial entre os anos noventa e os anos 2007-2008. Tendo diminuído
ligeiramente no início da crise, o valor nocional dos contratos de derivativos
no mercado fora de bolsa atingiu, em 2011, a soma astronómica de 650 biliões de
dólares (650 000 000 000 000 $), cerca de 10 vezes o PIB mundial. O volume do
segundo semestre de 2007 foi ultrapassado e o do primeiro semestre de 2008 está
em vias... os swaps de taxas de juros representam 74% do total, os derivados
sobre os mercados de divisas representam 8%, os Credit default swaps
(CDS) 5%, os derivados sobre os mercados de ações de 1%, o resto reparte-se por
múltiplos produtos.
Após 2008 os resgates bancários não geraram
comportamentos mais responsáveis
A crise financeira de 2007 viu os bancos, ainda que
culpados por má conduta e por assumirem posições arriscadas e imprudentes,
receberem injeções maciças de fundos por intermédio de vários e caros planos de
resgate. Num estudo bem documentado |15|, dois investigadores tentaram
verificar «se as operações públicas de resgate foram seguidas de uma maior
redução do risco na concessão de novos empréstimos pelos bancos resgatados,
comparativamente aos bancos que não foram resgatados». Com esse objectivo, os
autores analisaram os balanços e os empréstimos sindicalizados (trata-se de
créditos concedidos a uma empresa por vários bancos) relativos a 87 grandes
bancos comerciais internacionais. Os autores verificaram que «os bancos
ajudados continuaram a conceder empréstimos sindicalizados mantendo o risco»,
adiantando que «os empréstimos sindicalizados dos bancos que receberam ajuda
eram, depois do resgate, mais arriscados do que antes da crise, comparando com
as instituições que não receberam ajuda». Em vez de serem um remédio e uma
proteção eficaz contra os caprichos dos bancos, os planos de resgate dos
Estados tornaram-se, pelo contrário, muitos deles, um forte incentivo à continuação
e intensificação das práticas pecaminosas. Na verdade, «a perspectiva de um
apoio por parte do Estado pode constituir um álibi moral e pode levar os bancos
a aumentarem o risco». |16|
Em suma, a grave crise das dívidas privadas,
provocada pelo comportamento irresponsável dos grandes bancos, levou os
dirigentes norte-americanos e europeus a irem em seu socorro, utilizando fundos
públicos. A sirene lancinante da crise das dívidas soberanas pôde, então, ser
acionada para impor sacrifícios brutais aos povos. A desregulação financeira
dos anos noventa foi terreno fértil para esta crise com consequências sociais
dramáticas. Enquanto não regularem a finança internacional, os povos
continuarão subjugados. A luta deve ser intensificada o mais depressa possível.
Tradução Maria da Liberdade. Publicado na página do CADTM
O autor agradece a Patrick Saurin, Daniel
Munevar, Damien Millet e Virginie de Romanet pela ajuda que
deram na elaboração do artigo.
Notas
|1| A dívida soberana é
a dívida de um Estado e dos organismos públicos que lhe estão associados.
|2| Em geral o termo
«ativo» significa um bem que possui um valor realizável ou que pode gerar
rendimentos. Por outro lado, entende-se por «passivo» a parte do balanço que é
composta pelos recursos que uma empresa possui (capitais próprios gerados pelos
associados, provisões para riscos e encargos, dívidas).Ver:http://www.banque-info.com/lexique-....
|3| Muitos bancos
dependem de financiamento a curto prazo, porque têm grande dificuldade em
emprestar ao sector privado a custos sustentáveis (ou seja, o mais baixo
possível), em especial sob a forma de emissão de títulos de dívida. Como
veremos a seguir, a decisão do BCE de emprestar um pouco mais de um bilião de
euros a uma taxa de 1%, por um prazo de três anos, a mais de 800 bancos europeus
funcionou como tábua de salvação para muitos deles. Na sequência, devido a
esses empréstimos do BCE, os bancos mais sólidos tiveram de novo a oportunidade
de emitir títulos de dívida para se financiarem. Isto não teria sido possível,
caso o BCE não tivesse assumido o papel de credor de último recurso durante um
período de três anos.
|4| Sobre o episódio de
outubro de 2011, ver Eric Toussaint, «Krach de Dexia : un effet domino en route dans l’UE ?»,
4 de outubro de 2011
|5| Sobre o episódio de
outubro de 2012, que levou a um novo resgate sob a forma de recapitalização,
ver Eric Toussaint, «Fallait-il à nouveau injecter de l’argent dans Dexia ?»,
Le Soir, 2 de novembro de 2012; ver também: CADTM, «Pour sortir du piège des recapitalisations à répétition,
le CADTM demande l’annulation des garanties de l’Etat belge aux créanciers du
groupe Dexia», 31 de outubro de 2012; CADTM, «Pourquoi le CADTM introduit avec ATTAC un recours en
annulation de l’arrêté royal octroyant une garantie de 54 milliards d’euros
(avec en sus les intérêts et accessoires) à Dexia SA et Dexia Crédit Local SA»,
22 de dezembro de 2011
|6| Pierre-HenriThomas,
Bernard Demonty, Le Soir, edição de 31 de outubro de 2012, p. 19, http://archives.lesoir.be/dexia-ser...
|7| As dívidas das
famílias incluem as dívidas que os estudantes americanos contraíram para pagar
os seus estudos. As dívidas dos estudantes nos Estados Unidos atingiram o
montante colossal de um bilião de dólares, isto é, mais do que o total das
dívidas externas públicas da América Latina (460 mil milhões de dólares), de
África (263 mil milhões) e do Sul da Ásia (205 mil milhões). Para ver o
montante de dívida desses «continentes»: Les Chiffres de la dette 2012,
tabela 7, p. 9. Download
|8| Ver: Damien Millet,
Daniel Munevar, Eric Toussaint, Les Chiffres de la dette 2012, tabela
30, p. 23. A tabela baseia-se em dados fornecidos pela Federação europeia do
sector bancário, http://www.ebf-fbe.eu/index.php?pag....
Ver também Martin Wolf, «Liikanen is at least a step forward for EU banks», Financial
Times, edição de 5 de Outubro de 2012, p. 9.
|9| As dívidas dos
bancos não devem ser confundidas com os seus ativos. Elas fazem parte do seu
«passivo». Ver mais a cima a nota de rodapé sobre «ativo» e «passivo» dos
bancos.
|10| Ver Damien
Millet, Daniel Munevar, Eric Toussaint, Les Chiffres de la dette 2012,
tabela 24, p. 18. Na tabela utiliza-se a base de dados de Morgan Stanley, assim
como: http://www.ecb.int/stats/money/aggr...
e http://www.bankofgreece.gr/Pages/en...
|11| Carmen M. Reinhart,
Kenneth S. Rogoff, Cette fois, c’est différent. Huit
siècles de folie financière, Pearson,
Paris, 2010. A edição original foi publicada em 2009 pela Princeton University
Press.
|12| Xavier Dupret,
«Et si nous laissions les banques faire faillite ?», 22 de agosto de 2012, http://www.gresea.be/spip.php?artic...
|13| Ver: Daniel
Munevar, «Les risques du système bancaire de
l’ombre», 21 avril 2012, Ver também: Tracy Alloway, «Traditional
lenders shiver as shadow banking grows», Financial Times, 28 de dezembro
de 2011.
|14| Ver : Richard
Hiault, « Le monde bancaire « parallèle » pèse 67.000 milliards de dollars »,
Les Echos, edição de 18 de novembre de 2012, http://www.lesechos.fr/entreprises-...
*Nota de tradução: OTC ou Over the Counter em inglês.
|15| Michel Brei e Blaise
Gadanecz, “Have bailouts made banks’loan book safer ?”, Bis Quaterly Review,
setembro de 2012, pp. 61-72. As citações
deste parágrafo são tiradas deste artigo.
|16| Ibid.
Eric Toussaint,
professor na Universidade de Liège, é presidente do CADTM Bélgica (Comité para
a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo) e membro do conselho científico da
ATTAC França. Escreveu com Damien Millet, AAA. Audit Annulation Autre
politique, Seuil, Paris, 2012.
Sobre
o/a autor/a
Politólogo. Presidente do Comité para a Anulação da
Dívida do Terceiro Mundo
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