terça-feira, 30 de outubro de 2012

NUNO ROCHA , CINEASTA PORTUGUÊS PREMIADO


BLOG ANO PORTUGAL BRASIL PORTUGAL – Dia 30 de outubro de 2012

Notícias – Visões e Cultura de Portugal – A Crise Econômica


Editor : Paulo Timm – www.paulotimm.com.brpaulotimm@gmail.com

ANO BRASIL PORTUGAL - Acompanhe a programação neste site:

PORTUGAL – VISÕES :

NUNO ROCHA


Nuno Rocha foi premiado por “Momentos”e mostra “Vicky and Sam”em Itália

O realizador português Nuno Rocha viu a sua curta-metragem “Momentos” reconhecida com o Prémio do Público no Enfoque Film, em Porto Rico. A curta-metragem “Momentos”, produzida pela FilmesDaMente, foi realizada para a campanha “Lifes Good” da LG Portugal em 2010, e conta actualmente com trinta selecções para festivais e sete prémios dos quais se destacam o Peoples Choice no Naoussa Film Festival (Grécia), o Prémio do Público no Honfleur Film Festival (França), e agora o Prémio do Público no Enfoque Film, em Porto Rico. O realizador português prepara-se agora para apresentar outra curta, “Vicky and Sam”, no Festival Pontino del Cortometraggio, que se realiza em Janeiro, em Itália. A curta-metragem “Momentos”, produzida pela FilmesDaMente, foi realizada para a campanha “Lifes Good” da LG Portugal em 2010, e conta actualmente com trinta selecções para festivais e sete prémios dos quais se destacam o Peoples Choice no Naoussa Film Festival (Grécia), o Prémio do Público no Honfleur Film Festival (França), e agora o Prémio do Público no Enfoque Film, em Porto Rico. A lista dos restantes premiados no Enfoque Film poderá ser consultada em www.enfoquefilm.com.
Acumulando sucessos, as atenções de Nuno Rocha e da FilmesDaMente, da qual é sócio, estão agora voltadas para a apresentação da curta-metragem “Vicky and Sam” no Festival Pontino del Cortometraggio, que se realiza em Itália de 4 a 6 de Janeiro de 2012. “Vicky and Sam” totaliza cinquenta e duas selecções (nacionais e internacionais) e dezoito prémios.
A produtora FilmesDaMente promove, em 2011, cinco curtas-metragens seleccionadas para mais de 80 festivais em todo o mundo.
Por este andar, Nuno Rocha vai acabar no Guiness por ser o realizador de cinema com mais curtas-metragens premiadas, sem ter ainda realizado uma longa...
www.filmesdamente.com
Esse curta metragem ganhou prêmio recentemente.

Sem uma única palavra .......

Mas... palavras para que, quando as emoções falam?

Clique no link abaixo:

 Entrevista a Nuno Rocha
Nuno Rocha é um realizador português, premiado já por várias vezes a nível internacional pelas suas curtas-metragens. Estudou no Porto, tendo sido mais tarde aceite na Universidade do Texas, nos Estados Unidos. Com experiência em curtas-metragens e também em publicidade, onde realizou trabalhos para a ZON e EDP, por exemplo, Nuno Rocha pode estar agora a caminho da primeira longa-metragem.

Falámos com ele acerca do seu último trabalho, “Vicky and Sam”, totalmente gravado nos Estados Unidos, e sobre os seus projectos futuros. Pelo meio, tempo ainda para uma abordagem ao estado do cinema em Portugal e como é ser realizador neste país.

1. Passaram-se poucos anos desde que terminaste a licenciatura no Porto até alcançares enorme sucesso com a curta-metragem “Vicky and Sam”, premiada várias vezes mundialmente. Entretanto, tempo para o também premiado 3×3 e uma incursão na publicidade para grandes marcas. Qual a fórmula para teres este percurso ainda curto, mas tão cheio de sucesso? Penso que o sucesso é bastante relativo. No entanto, devo dizer que existindo ou não, depende de um conjunto de factores, que quando aliados da melhor forma, podem ser determinantes em qualquer área. A ambição, a paixão, o trabalho, o método, o timing; diria até que a sorte tem a sua pontinha de importância, ainda que não determinante a longo prazo. O talento, que muitos apontam como a maior causa do sucesso de alguém, não é mais do que a combinação equilibrada de todos estes factores e como cada um consegue relacionar-se com eles.

2. “Vicky and Sam” é o teu mais recente trabalho e foi recentemente disponibilizado para visualização na Internet. O que nos podes dizer sobre esta curta-metragem? Como chegaste àquele conceito? Ao contrário de outros trabalhos que tenho feito, quando me debrucei sobre esta história, estava apenas e só concentrado na criação do argumento que viria a realizar. Fiquei isolado em casa durante alguns dias onde esbocei várias histórias, mas nenhuma delas era suficientemente boa. Esta dificuldade levou-me intuitivamente a outra ideia que viria a intitular de ”Vicky and Sam”, onde se projecta de forma ligeiramente diferente a luta do argumentista na fase de criação. Apesar de eu estar sozinho nesta caminhada, “Vicky and Sam” teria vários protagonistas (argumentistas) debruçados no mesmo argumento, sentindo a mesma dificuldade característica de quem escreve.

O guião foi escrito em português, e depois traduzido logo a seguir para Inglês, com a ajuda do meu assistente de realização Adam Morgan. Em relação à produção propriamente dita, foi tranquila apesar de cansativa. Foram vários dias de rodagem com uma equipa americana em solo americano. O sound design masterizado em 5.1 foi conduzido pelo Marco Conceição já em Portugal. Tive uma equipa excelente a todos os níveis em toda a fase de produção.

3. É notório que valorizas muito a criatividade nos teus vídeos. Onde encontras a tua inspiração para o que realizas e escreves? Um mau argumento dificilmente dará um bom filme, como tal, sou capaz de passar tanto tempo em volta de uma história, como na produção dela. É preciso que o guião que tenho à frente, justifique todo o trabalho que vou ter a seguir.

Tenho uma certa tendência para dar um carácter fantástico às histórias que escrevo, mas tem a ver sobretudo com a grande influência que tenho neste tipo de narrativa.

4. Em 2009 partiste para os Estados Unidos para estudar na Universidade do Texas, acabando por filmar lá o teu mais recente trabalho. Achas que é no estrangeiro que está a solução para realizadores portugueses que não se conseguem mostrar em Portugal? Isto é, é fácil ser realizador em Portugal? Qualquer pessoa que pegue numa câmara com um propósito de filmar alguma coisa já se pode considerar um realizador. No entanto, viver desta função é uma realidade bem diferente. Em Portugal não há espaço para realizadores, ou melhor, esse espaço existe mas é muito restrito. Em dois anos que a Produtora FilmesDaMente está no activo, apesar das centenas de currículos que recebemos, ninguém se identificou como sendo apenas e só, realizador. Simplesmente porque os poucos que existem estão em Lisboa a trabalhar em publicidade ou a aguardar subsídios para fazer cinema.

A situação económica do país também não ajuda esta área e se já era difícil alguém chegar a realizador a tempo inteiro, agora essa tarefa torna-se ainda mais complicada. A solução poderá passar de facto por uma solução fora do país, dependendo é claro da vontade e ambição que cada pessoa tem para a sua carreira como realizador.

5. Pretendes realizar, no futuro, algo em Portugal e/ou em Português? Sim, está nos meus planos realizar um trabalho de ficção em Portugal e em português, mas não vai ser para já. Actualmente estou a desenvolver um projecto que não será feito nem na lingua portuguesa nem com actores portugueses.

6. O que achas da indústria do cinema em Portugal? Que razões apontas para a dificuldade de Portugal em obter o reconhecimento que outros países europeus já vão tendo? O grande problema que se põe para o cinema português não evoluir, ou evoluir de forma lenta, tem a ver sobretudo com a mentalidade das pessoas que estão à frente dos projectos. O nosso cinema é normalmente egoísta, desprovido de sensibilidade e afastado do público, e quando o tenta ser, são cópias vergonhosas do cinema de Hollywood. O cinema Português não tem de ser nem virado para o umbigo dos realizadores, nem uma tentativa desesperada de chamar espectadores. Ele deveria ser algo ali no meio, altruísta, sensível, à procura de um público que quer ver uma boa história e tecnicamente bem feito, seja ele nacional ou internacional. Felizmente há uma nova geração de realizadores que já se apercebeu que este é o caminho, e apesar de lento, o progresso está a acontecer; vejo essa vontade nos novos estudantes de cinema e jovens realizadores a dar os primeiros passos. No entanto, vão continuar a haver realizadores que vão manter a sua linha de raciocínio em relação aquilo que pensam que é o cinema e como ele se deve comportar.

7. Depois de duas curtas-metragens premiadas e de alguns anúncios publicitários, faz parte dos teus planos realizar uma longa-metragem? Sim, estou neste momento a escrever a minha primeira longa-metragem de ficção.

8. Fala-nos um pouco do que é e de como surgiu o Filmes da Mente. A produtora FilmesDaMente surgiu da necessidade de criar um projecto que já vinha desde os tempos de faculdade. Começou por ter diversas pessoas envolvidas coma paixão mutua pelo cinema, mas com o tempo algumas pessoas foram saindo até ficar apenas eu e o Victor Santos (co-fundador). Acreditamos neste projecto desde o início, e sentimos que fazia falta algo assim no Porto, com competências na área de publicidade e de ficção. A empresa foi criada há dois anos em plena crise, mas como se costuma dizer, aquilo que não nos mata, torna-nos mais fortes, e felizmente o balanço tem sido bastante positivo.

9. Quais os teus planos para um futuro mais próximo? O desenvolvimento da minha primeira longa-metragem já está a decorrer, no entanto ainda não tenho datas de rodagem, mas acredito que se iniciará já em 2013.

Entrevista por Sandro Cantante

 





NOTICIAS -
Azeite : Nem tão virgem assim
Em novo livro, o jornalista americano Tom Mueller revela como os maiores produtores do mundo ganham muito dinheiro misturando óleos de variados tipos com o caro azeite de oliva. Adulteração também ocorre no Brasil
Marco Túlio Pires
Mercado de adulteração do azeite pode ser tão lucrativo quanto o da cocaína, sem os riscos
Mercado de adulteração do azeite pode ser tão lucrativo quanto o da cocaína, sem os riscos (Hemera/ThinkStock)
Em agosto de 1991, um cargueiro turco levou 22 toneladas de óleo de amêndoas do porto de Ordu, na Turquia, à região de Puglia, no sul da Itália. Os documentos oficiais diziam que o navio trazia o mais puro azeite de oliva grego. Possivelmente com a ajuda de oficiais, o óleo de amêndoas passou pela alfândega e foi entregue à refinaria de Riolio, um produtor de azeite italiano. Misturado ao produto legítimo, foi vendido para o comércio local como azeite de oliva da mais nobre categoria: extravirgem.
O caso do cargueiro turco integra um milionário esquema de adulteração de azeite montado na Itália, um dos maiores consumidores do produto no mundo. Os bastidores das fraudes são descritos com detalhes pelo jornalista americano Tom Mueller no livro Extra Virginity: The Sublime and Scandalous World of Olive Oil, publicado em dezembro de 2011, ainda sem edição brasileira. Doutor em história medieval pela Universidade de Oxford, Mueller escreve para grandes veículos americanos, como as revistas The New Yorker e National Geographic, e para o jornal The New York Times.
Azeite virgem e extravirgem
Como são produzidos?
A maior parte dos óleos vegetais é extraída em uma refinaria, a partir de sementes ou castanhas, usando solventes, calor e pressão. Contudo, os melhores azeites de oliva são feitos usando uma simples prensa hidráulica ou centrífuga, num processo semelhante ao de espremer uma fruta para retirar seu suco. Este óleo extraído a frio da azeitona recém-colhida é o azeite extravirgem. Com o que sobra das azeitonas faz-se outra extração usando uma temperatura mais elevada e solventes. Este é o azeite virgem ou puro. As azeitonas são extraídas quando trocam de tonalidade, da verde para a mais escura. Idealmente são colhidas à mão e espremidas em até algumas horas, para minimizar a oxidação e as reações enzimáticas, que deixam o óleo com gosto e odor ruim.
No livro, que mistura cultura gastronômica com reportagem, Mueller aponta os dois principais vilões da indústria do azeite italiano: Leonardo Marseglia, um dos maiores importadores do país, acusado de falsificar documentos para burlar impostos e vender óleos feitos fora da Europa como se fossem italianos; e Domenico Ribatti, um dos mais importantes atacadistas do mundo, que já foi preso por, entre outras coisas, fraudes como a descrita no início do texto: vender óleo de amêndoas da Turquia como azeite de oliva.
De acordo com Mueller, o óleo adulterado por Ribatti foi parar nos estoques de grandes empresas, como Nestlé, Unilever e Bertolli. Para tanto, o governo italiano teria feito vista grossa ao esquema de Ribatti. As empresas citadas por Mueller vendiam o azeite fraudado e ainda recebiam 12 milhões de dólares como subsídio da UE (União Europeia). Em resposta às investigações de Mueller, as companhias afirmaram que foram enganadas por Ribatti.

A situação chegou ao ponto de, no fim da década de 1990, o azeite de oliva ser considerado o produto agrícola mais adulterado na UE. Criou-se então uma força-tarefa para investigar a indústria do azeite. De acordo com um dos investigadores entrevistados por Mueller, o lucro da adulteração do azeite era comparável ao tráfico da cocaína, só que sem os riscos. Com o tempo, a UE diminuiu os subsídios para tentar reduzir o crime. Contudo, a fraude do azeite ainda é um grande problema e já atinge outras fronteiras.
Biblioteca
Extra Virginity
A jornada que leva o azeite às mesas de todo o mundo está tomada pela fraude e pela adulteração. O jornalista americano Tom Mueller mostra como o mercado internacional de azeite pode ser tão lucrativo quanto o de drogas - só que sem os riscos.

Autor: MUELLER, TOM
Editora: W. W. NORTON & COMPANY
Fraude no Brasil — De acordo com Rafael Barrocas, técnico do Ministério da Agricultura, a questão é matemática. "Há mais azeite no mercado do que todas as oliveiras no mundo conseguem produzir", diz em entrevista a VEJA. O técnico coordenou a elaboração do novo regulamento sobre o azeite de oliva no Brasil que entrará em vigor nos próximos meses. Barrocas conta que a Espanha pressionou o governo brasileiro no fim de 2007 para que o país tomasse alguma atitude contra o comércio de azeite fraudado. O país europeu é o segundo maior produtor de azeite do mundo, atrás apenas do Egito. O resultado foi a criação de uma regulamentação mais dura.
Com a legislação atual, o azeite importado é submetido a exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, do Ministério da Saúde. Com a nova regulamentação, o azeite terá de passar pelo crivo do Ministério da Agricultura, assim como frutas e cereais, por exemplo. Haverá então uma pré-avaliação para determinar o seu tipo.
A preocupação espanhola não é injustificada. Entre os integrantes dos Brics, o Brasil tem o maior mercado de azeite. Desde 2005, as vendas do produto tiveram crescimento de 235%, contra apenas 20% nos Estados Unidos, o segundo maior mercado mundial de azeite, atrás da União Europeia. Segundo o Conselho Internacional da Oliva, que supervisiona o mercado mundial de azeite, o Brasil foi o país que teve a segunda maior taxa de importação em 2011, 7%, entre os países que não são produtores tradicionais de azeitonas, atrás apenas da Rússia, com 9%.
O crescente mercado brasileiro atraiu grandes grupos produtores de azeite, como o espanhol Borges, que abriu uma filial no Brasil em 2009, mas também atraiu produtores criminosos.
Consumo de azeite de oliva em 2011
Mesmo sem ter uma produção significativa de azeitonas, o Brasil está entre os maiores consumidores do produto em 2011
País/região
fatia de mercado
União Europeia
26%
Egito
13%
Turquia
12%
Estados Unidos
10%
Síria
5%
Algéria
6%
Brasil
4%
Rússia
3%

Fonte: International Olive Council
Nelson Sakazaki, diretor técnico da Oliva (Associação Brasileira dos Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira), diz que a associação faz 40 análises de adulteração de azeite por ano. "Já encontramos uma marca no Nordeste que vendia 95% de óleo de soja com corante em uma embalagem que diz 'azeite extravirgem'". Sakazaki explica que a adulteração do azeite é bastante simples. "Ele se mistura com qualquer óleo. Já encontramos até óleo de girassol sendo vendido como azeite de oliva", diz.
Sakazaki estima que 20% do azeite vendido no Brasil sofreu algum tipo de adulteração. As fraudes mais comuns são as misturas de óleos menos nobres, como soja e girassol, com o azeite de oliva ou com o óleo do bagaço da azeitona. A fraude, contudo, não é encontrada apenas nos produtos vendidos em supermercados. "Em muitos restaurantes, os proprietários misturam outras óleos diretamente na lata de azeite extravirgem e o consumidor, desavisado, não percebe", diz Sakazaki.

Jeito brasileiro - A detecção da fraude mais grosseira — quando o produtor mistura outros óleos com o azeite — é facilmente detectada. O problema, diz o químico Rodinei Augusti, é quando a adulteração mistura azeite extravirgem com azeite comum (
saiba a diferença no quadro). "Como os dois azeites possuem as mesmas moléculas, o trabalho de identificação é mais difícil", diz. Augusti coordena o laboratório de Espectrometria de Massa da Universidade Federal de Minas Gerais. O grupo é especialista em técnicas para detectar alteração em produtos como cachaça, biodiesel e, mais recentemente, o azeite.
Fórmula do sabor
Entenda o que caracteriza os melhores azeites.
O verdadeiro azeite de oliva extravirgem é de difícil fabricação. As azeitonas são colhidas à mão, e cada pessoa consegue colher, no máximo, 80 quilos de azeitonas por dia, o suficiente para preparar 16 litros de azeite extravirgem. Existe um sem número de variedades de azeitonas que podem ser cultivadas em diferentes regiões - a combinação confere sabores únicos ao produto final, a exemplo dos vinhos. Um azeite de oliva extravirgem tem acidez máxima de 1%. Os melhores têm valores ainda mais baixos: até 0,5%. Conforme Tom Mueller, os melhores azeites italianos têm sabores que podem lembrar alcachofra, erva-doce, tomate verde, pimenta e até kiwi. São 'picantes' na garganta, frutados e levemente amargos. As cores também variam, dependendo do tipo e do local onde a azeitona foi cultivada, de cor de palha até verde esmeralda.
Usando uma espécie de balança de moléculas, chamada espectrômetro de massa, Augusti consegue identificar com apenas um mililitro de azeite, e em apenas um minuto, se o produto foi misturado a outras substâncias, inclusive azeites menos nobres. Mesmo que o óleo seja 99,5% puro, explica o químico, a técnica consegue detectar o 0,5% adulterado.

O espectrômetro de massa poderá se tornar uma alternativa viável para a fiscalização do azeite, analisa Augusti. O preço e o tamanho dessas balanças de moléculas vêm diminuindo nos últimos anos. Nos Estados Unidos, por exemplo, é possível encontrar modelos de tamanho semelhante ao de uma caixa de sapatos. As análises poderiam ser feitas diretamente em restaurantes e supermercados. De acordo com Barrocas, técnico do Ministério da Agricultura, o método desenvolvido na UFMG está sendo validado. "Temos interesse em técnicas mais simples e baratas", disse. "Porém, outros laboratórios precisam fazer o mesmo tipo de análise para que possamos adotar a metodologia."
Ouro líquido - A expansão do comércio do azeite é acompanhada de sucessivas descobertas dos seus benefícios à saúde. Pesquisadores espanhóis descobriram que o líquido contém substâncias que combatem a gastrite. Nos Estados Unidos, cientistas encontraram no azeite uma molécula que tem ação idêntica a de analgésicos. Outros estudos acharam evidências de que o azeite está associado à menor incidência de fraturas e tem ação preventiva contra tumores, como o de mama. Não é a toa que o azeite é apelidado pelos mediterrâneos de 'ouro líquido'.
 
PORTUGAL E A CRISE : MEMÓRIA E ANÁLISES

Um entendimento elementar\
 VASCO GRAÇA MOURA

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2777785&seccao=Vasco Gra%E7a Moura&tag=Opini%E3o - Em Foco&page=-1

Neste tórrido final de Verão do nosso descontentamento, toda a gente está de acordo sobre a violência inusitada da austeridade e das medidas que lhe correspondem. O próprio Governo o reconheceu e a situação entretanto agudizou-se a um ponto tal que uma dinâmica colectiva gerada na rua pode ter as mais sérias consequências no funcionamento das instituições, sem que seja possível reflectir com serenidade sobre a situação que o país atravessa, sobre aquilo que deve ser feito e sobre as consequências de se enveredar por este ou por aquele caminho.

Foram impressionantes as manifestações, mas não menos impressionante foi a enorme disparidade das motivações e das finalidades que, ao longo da tarde de 15 de Setembro, as inúmeras entrevistas dos repórteres de serviço iam registando pontualmente na televisão. Certamente que a nota mais pungente era o beco sem saída em que uma grande quantidade de seres humanos se sente em termos pessoais, profissionais e familiares, num buraco sem esperança e sem emprego, sem recursos e sem horizonte de futuro, tendo sido sem conta os casos e circunstâncias testemunhados em concreto por quem está a vivê-los. Todavia uma outra nota, com idêntica relevância e, por sinal, a que correspondia à palavra de ordem principal das manifestações, era a da ruptura sem rodeios com a troika e com o memorando a que Portugal está vinculado. Esta orientação radical que parecia seriamente interiorizada pela opinião pública é extremamente preocupante.

Toda a gente viu que aquela massa humana desfilava sem grande enquadramento. Muitos tinham ar de pertencer à classe média, iam pela primeira vez na vida a uma manifestação e exprimiam com razoável propriedade os seus problemas, o seu protesto e os seus anseios. A palavra de ordem da ruptura parece ter sido subscrita com grande veemência por muita gente que não tem nada a ver com a esquerda propriamente dita, nem com as organizações partidárias ou sindicais, embora também lá houvesse sinais da preocupante presença delas. E essa generalização transversal do protesto é provavelmente o facto que gera mais inquietação, uma vez que não traduz apenas o imediatismo acrítico de uma reacção popular inorgânica, mas envolve também a rejeição de uma situação que é inescapável, independentemente da questão da TSU.

O grau de envolvimento popular, sistemático pelo menos nas dezenas de cidades em que teve expressão e, em particular, mas mega-manifestações de Lisboa e Porto, põe outros problemas. Desta vez, não houve perturbações da ordem, nem grandes problemas com a segurança de pessoas e bens. Mas da próxima vez pode haver. Escutaram-se apelos à revolta, ao derrube revolucionário do Governo, à solidariedade entre polícias e populações, à democracia directa, pondo em causa o modelo representativo.

Se viesse a gerar-se um clima pré-revolucionário, ele acarretaria consigo um terrível potencial de destruição das estruturas políticas e da própria organização social, com não menos terríveis consequências no plano da situação de Portugal face à União Europeia e aos seus credores e, na prática, carências tremendas e insolúveis de toda a ordem, susceptíveis de afectar ainda mais gravemente o bem-estar das populações e de pôr a democracia em crise em termos irreversíveis.

As coisas chegaram a tal ponto que, neste momento, interessa menos a questão de saber se as medidas anunciadas foram bem ou mal servidas politicamente, do que avaliar e reflectir naquilo que pode acontecer, se se vier desagregar a coligação e o país se converter numa espécie de barco à deriva num tsunami de conflitualidade social.

A situação tornar-se-ia desse modo cada vez mais explosiva, uma vez que a solvabilidade e a credibilidade do Estado acabariam por entrar em colapso, o auxílio externo ficaria ipso facto irremediavelmente comprometido e a satisfação das necessidades colectivas essenciais tornar-se-ia ainda mais deficiente do que é hoje, de nada valendo o ressentimento, a indignação ou a revolta das populações.

É por tudo isso que a situação política e institucional pede uma clarificação tão rápida quanto possível e, sobretudo, um entendimento elementar dos partidos do arco do poder.

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

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