ANO
BRASIL PORTUGAL - Acompanhe a programação neste site:
Últimos eventos –
realizados e programados para próximos dias
Em dezembro, Portugal vai conhecer mais
um espetáculo teatral da programação do Ano do Brasil em
Portugal. Em Oxigênio, um homem e uma
mulher falam, pensam, discutem, esbravejam, cantam, dançam, especulam, se
buscam, se torturam, se provocam e amam, em torno da fábula de Saniok, que mata sua mulher por “falta de oxigênio”.
Este projeto compreende a tradução e montagem do
texto “Kislorod” (Oxigênio - 2004)
do autor Russo Ivan Viripaev, inédito no
Brasil. Ele é o dramaturgo que hoje mais perturba a paisagem teatral russa.
Diretor de cinema e roteirista, ator, dramaturgo e diretor teatral, nasceu na
Sibéria, em Irkustsk, em 1974. Agora, através do viés da música, o espetáculo
pretende se aproximar de um público jovem e inquieto, apontando caminhos
teatrais irreverentes, como a busca por espaços menos convencionais.
Oxigênio
8 e 9 de dezembro | Teatro Nacional Dona Maria II – Sala Garrett – Lisboa
8 e 9 de dezembro | Teatro Nacional Dona Maria II – Sala Garrett – Lisboa
16 - 10 - 2012
O início do Festival
Gastronômico no Ano do Brasil em Portugal, em Lisboa, foi um grande sucesso e a Revista de Vinhos, de Portugal, foi mais uma a noticiar as maravilhas com sabores amazônicos que os
irmãos Thiago e Felipe Castanho apresentaram no Restaurante Belcanto. Confira a
matéria e clique para ampliar.
PROGRAMAÇAO ANO BRASIL PORTUGAL17 out
“A NATUREZA DO OLHAR” - Companhia da Outra
Teatro do Bairro - R. Luz Soriano, 63, Lisboa
- sob consulta
- teatro\
- 18 out
“A NATUREZA DO OLHAR” - Companhia da Outra
- Teatro de Bairro - Lisboa
- sob consulta
- teatro
19 out
Recital à Brasileira - COMPANHIA DA OUTRA
- 18h30
- Casa Fernando Pessoa - Lisboa
- 10€
- debate
***
PORTUGAL – VISÕES
Origem: Wikipédia, a
enciclopédia livre. - Imagens clique wikipedia
Mosteiro dos
Jerónimos em Belém, exemplo mais emblemático da arquitectura manuelina,
encomendado pelo rei D. Manuel I
pouco depois de Vasco da Gama ter regressado da Índia, em 1502, Santa Maria de
Belém, Lisboa,
O Estilo manuelino, por
vezes também chamado de gótico português tardio ou flamejante, é
um estilo decorativo, escultórico e de arte móvel que se desenvolveu no reinado de D. Manuel I
e prosseguiu após a sua morte, ainda que já existisse desde o reinado de D. João II.
É uma variação portuguesa do Gótico final, bem como da arte luso-mourisca
ou arte mudéjar, marcada por uma sistematização
de motivos iconográficos próprios, de grande porte, simbolizando o poder régio.
Incorporou, mais tarde, ornamentações do Renascimento italiano. O termo "Manuelino" foi criado por Francisco Adolfo
Varnhagen na sua Notícia Histórica e Descriptiva do Mosteiro de
Belém, de 1842. O Estilo desenvolveu-se numa época
propícia da economia portuguesa e deixou marcas em todo o território nacional.
|
Características
Coluna no
Claustro do Mosteiro dos Jerónimos.
A característica dominante do
Manuelino é a exuberância de formas e uma forte interpretação
naturalista-simbólica de temas originais, eruditos ou tradicionais. A janela,
tanto em edifícios religiosos como seculares, é um dos elementos
arquitectónicos onde melhor se pode observar. Estes motivos aparecem em
construções, pelourinhos, túmulos ou
mesmo peças artísticas, como em ourivesaria, de que a Custódia de Belém é um exemplo.
O conjunto decorativo de um
elemento escultórico manuelino apresenta-se quase sempre como um discurso de
pedra, onde diversos elementos e referências se cruzam (pansemiose - ou
"todos os significados"), como o simbilismo cristão, a alquimia, a tradição popular, etc. O contexto tanto pode ser moralizante, como alegórico, jocoso (quando se aponta o dedo aos defeitos humanos ou a pormenores
obscenos, como a referência sexual numa gárgula exterior à capela de São
Nicolau, em Guimarães), esotérico
ou, simplesmente, propagandístico em relação ao poder imperial de D. Manuel I.
Note-se que esta simbologia está também muito ligada à heráldica.
Os motivos mais frequentes da
arquitectura manuelina são a esfera armilar, conferida
como divisa por D. João II ao seu primo e cunhado, futuro rei D. Manuel I, mais
tarde, interpretada como sinal de um desígnio divino para o reinado de D.
Manuel, a Cruz da Ordem de Cristo e elementos naturalistas: Corais, Algas, Alcachofras, Pinhas, animais vários e elementos fantásticos: Ouroboros, Sereias, gárgulas.
Iluminura do período manuelino do Livro 3 Místicos, Torre do Tombo.
O "discurso"
artístico presente no estilo manuelino, ainda que tenha começado a ser
construído ainda antes do reinado de D. Manuel, teve uma influência
considerável da própria personalidade do monarca, das suas aspirações no
contexto mundial, em especial o projecto de uma cruzada que unificaria o mundo cristão do ocidente com o mítico reino Cristão
oriental do Preste João, tornando-o
o "Rei dos Mares" (e foi, de facto, assim designado por
diversos autores estrangeiros).
O estilo manuelino transmite
em grande parte estas aspirações messiânicas de um rei
cuja ascensão ao poder foi, no mínimo insólita, depois da morte seguida de
outros herdeiros directos ao trono (como o príncipe D. Afonso e o seu irmão, D.
Diogo, assassinado). No entanto, desde a interpretação dada à expressão "Spera
Mundi", na esfera armilar, que lhe fora concedida como divisa, até à
interpretação do seu próprio nome, Emanuel ("Deus connosco", em
hebraico), dado por sua mãe quando este nasceu, após um trabalho de parto longo
e doloroso que só terminou quando a procissão do Corpo de Deus passava na
rua, vários foram os "sinais" que indicavam que este rei fora o
"Escolhido" por Deus para grandes feitos. A própria concepção
política deste rei, influenciada pelo seu perceptor Diogo Rebelo e pelo joaquimismo fá-lo-ia crer que estava destinado a fundar o Quinto Império da Profecia de Daniel.
Estas referências messiânicas
e apocalípticas estão
também presentes na pintura (como nos frescos das "Casas
Pintadas", em Évora e na "Aparição de Cristo à Virgem" de Jorge Afonso). Um
exemplo claro aparece também na representação do rei e da rainha D. Maria, em primeiro
plano, no quadro "Fons Vitae", pertencente à Misericórdia do
Porto, de pintor anónimo mas segundo alguns de Colijn de Coter, numa cena da crucificação e onde o sangue de Cristo escorre para
dentro de um gigantesco Graal.
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OUTRAS NOTICIAS
17.10.12 10:21
Carlos Fino e
Graciano Coutinho
a
haver autêntico desdém pelas coisas portuguesas.
Portugal
também é responsável por isso.
Não
é só o Brasil que nos esquece,
somos
nós que não nos fazemos lembrar.
Carlos
Fino
A realização do Ano de Portugal no Brasil e do
Ano do Brasil em Portugal, a decorrer entre 7 de Setembro deste ano e 10 de
Junho de 2013, torna oportuna uma reflexão sobre as relações entre os dois
países, ainda marcadas, apesar dos enormes progressos dos últimos anos, pelo
sentimento de alguma estranheza e distanciamento, que a retórica oficial da
fraternidade com base no sangue, na língua e na história comuns, disfarça mal e
pouco ou nada contribui para ultrapassar.
Entre a crítica e o esquecimento
Quando, pela primeira vez, entrei para abastecer
num posto de gasolina em Brasília, a jovem empregada, notando que havia algo de
diferente na minha pronúncia, perguntou, intrigada: “Você fala muito bem
português… De onde é que você é?”. Falando pausadamente, abrindo e destacando
as sílabas para ter a certeza de ser bem compreendido, respondi-lhe com outra
questão: “Sendo eu da Europa e falando esta língua, de onde você acha que eu
sou?”… Ela revirou os olhos, franziu a testa, reflectiu, e arriscou: “Da
França?” Percebendo que errara, ainda tentou uma alternativa: “Argentina?” E
mais não ousou. Portugal nem sequer lhe passou pela cabeça, tendo que ser eu a
dar-lhe a solução, que para ela não era óbvia.
Dias antes, ao desembarcar do avião ao cabo de
dez horas de voo, experimentara aquela sensação, misto de orgulho e conforto
(que os ingleses devem sentir um pouco por todo o mundo) de quem vê a sua
língua falada noutro continente. Caramba! – Ali estava a minha pátria
projectada do outro lado do Atlântico!
Agora, e como que em contraponto, apercebia-me
com espanto de uma outra realidade: por norma, Portugal não está no radar do
Brasil e o comum dos brasileiros, o chamado Povão, nem sequer relaciona a
língua que fala com o país que somos.
Essa foi a primeira de uma série de lições que
iria receber sobre as relações luso-brasileiras. Outra foi constatar que os
Portugueses não são apenas a grande vítima das anedotas (ainda que bastante
menos do que no passado), mas também verdadeiro bombo da festa sempre que se
trata de apontar responsáveis pelos males do Brasil. Da burocracia à corrupção
e ao nepotismo, da destruição da mata atlântica ao dizimar dos índios, passando
pela escravidão e o atraso económico e social, não há grande problema passado
ou presente do Brasil que não tenha a sua raiz na colonização portuguesa.
Cultivada nos meios académicos por uma sociologia
de inspiração marxista e nacionalista que há muito desconstruiu e destronou a
lusofilia de Gilberto Freyre, a ideologia que atribui os males do Brasil aos
Portugueses está largamente disseminada entre as elites, cristalizou nos media
e passou, por essa via, a integrar o senso comum da população.
Dos inúmeros exemplos que poderia citar, recordo
três, ocorridos ao logo do período que vivi no Brasil, que traduzem bem este
tipo de atitude.
Logo que comecei a trabalhar como conselheiro de
imprensa na embaixada de Portugal, em 2004, deparei com uma entrevista de Dom
Paulo Evaristo Arnes ao jornal O Globo, em que, a propósito do lançamento da
sua autobiografia, o arcebispo emérito de São Paulo, referindo-se aos erros que
o país não deveria voltar a cometer, concluía: “Esses erros foram cometidos a
partir dos Portugueses que descobriram o Brasil e mandaram para cá a escória da
sociedade, os menos preparados, os menos desejados em Portugal. (…) “Portanto,
acho que Portugal tem tanta culpa como o Brasil.” (sic!).
No Verão de 2010, em visita à Europa poucos meses
antes de ter sido eleita, a actual Presidente Dilma Rousseff, quando os
jornalistas brasileiros que a acompanhavam lhe disseram que haviam passado por
ali uns portugueses que os confundiram com argentinos, comentou: “Só mesmo
portugueses para confundir brasileiros com argentinos…”.
Finalmente, pouco antes de regressar a Portugal,
já no começo deste ano, ouvi na rádio CBN, da rede Globo, um dos seus
principais colunistas, Arnaldo Jabor, afirmar, a propósito da crise na Europa,
que “Os Portugueses são preguiçosos”… Apenas mais um dos seus costumados
apartes pouco lisonjeiros para com o nosso país.
Em suma: sempre que a ocasião se apresenta,
intelectuais, académicos, jornalistas, responsáveis religiosos e políticos
brasileiros de diferentes quadrantes raramente perdem a oportunidade de lançar
mais uma acha para a fogueira de um certo “anti-lusitanismo” difuso, prontos a
evocar a herança negativa da colonização portuguesa e só muito raramente
lembrando o seu legado positivo – um país imenso e rico, unificado sob a mesma
língua, que soube evitar a fragmentação da América hispânica.
Mas a crítica jocosa ou ressentida – em que nos
atribui grande importância, ainda que negativa – é apenas um dos pólos entre os
quais o Brasil oscila em relação a Portugal. O outro é o permanente
esquecimento, consciente ou inconsciente, da sua raiz portuguesa. Em Brasília, vi
um dia uma exposição sobre o barroco brasileiro, patrocinada pelo Ministério
das Relações Exteriores, em que não havia uma única referência a Portugal! Como
se não tivesse ido daqui o barroco do Brasil e o seu principal expoente se não
chamasse António Maria Lisboa!
Em situações semelhantes, para que não se diga
que se está a omitir a verdade, o subterfúgio muitas vezes utilizado pelas
entidades brasileiras responsáveis dos diferentes eventos é substituir a
palavra “Portugal” pela palavra “Europa”. Onde deveria estar “influência
portuguesa” passa a figurar “influência europeia”… Operação que aos olhos dos
brasileiros tem uma dupla vantagem – oculta a raiz portuguesa e dá mais brilho
à sua herança.
Para se avaliar até que ponto vai esse rasurar da
memória portuguesa, basta lembrar, como assinalou Eduardo Lourenço em Imagem e
Miragem da Lusofonia, que “o Brasil não celebra, nem nunca celebrou, a data da
sua descoberta, como os Americanos festejam Colombo, que nem os “descobriu”. O
Brasil – nota – “parece assim cometer um parricídio, mesmo inconsciente,
vivendo-se, como realmente se vive, nos seus textos, nos seus sonhos, nas suas
ambições planetárias, como uma nação sem pai.”
“Tupi or not tupi, that is the question”
Tentando explicar esta atitude, a psicanalista
brasileira Maria Rita Khel afirmou que, no fundo, o Brasil gostaria de ter tido
um pai rico – França, Holanda, Inglaterra, por exemplo – países europeus
centrais e desenvolvidos, ao contrário do que aconteceu com Portugal, pai
falido, que entrou em decadência menos de um século depois de Pedro Álvares
Cabral ter chegado a terras de Vera Cruz…
Ditado pela natural necessidade de construir a
sua própria identidade nacional, tanto mais precisa quanto a identificação com
Portugal sempre foi muito forte, tendo-se mesmo prolongado muito para além da
independência formal, em 1822, esse distanciamento em relação ao nosso país
começou a afirmar-se no século XVII e atingiu o seu ponto culminante em 1922,
na Semana de Arte Moderna de São Paulo, que marca a aberta e declarada
construção de uma nova auto-imagem do Brasil.
Inspirado na história real do bispo Sardinha, de
Salvador, devorado pelos índios caetés no século XVI, Oswald de Andrade, um dos
epígonos do modernismo, lança, em 1928, o Manifesto Antropofágico, em que a
indianidade é erigida em matriz da nacionalidade – os nativos vão devorar os
que vieram de fora, os colonizados devorar os colonizadores, assim se tornando
melhores e mais fortes: Brasileiros! Para que não restem dúvidas, Oswald
enfatiza: “Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.
Filosoficamente. (…) Tupi or not Tupi, that is the question”. E ainda: “Nunca
fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval”.
A partir daí, no processo de elaboração da
identidade brasileira, passam a ser valorizadas todas as outras raízes que não
a portuguesa: a índia, a negra, a europeia de diferentes proveniências
(italiana, espanhola, alemã, polaca…), a árabe (sírio-libanesa) e até a
japonesa. Quanto ao Português, pior do que ter isso comido e reassimilado,
passou a ser sistematicamente desvalorizado, chegando por vezes a ser colocado,
como fazem os Estados Unidos com os imigrantes hispânicos, europeus e
asiáticos, no mesmo plano de qualquer outro “grupo étnico”! Isto num país em
que a maioria da população tem sangue português, fala, ainda que de outro modo,
a língua portuguesa, cujo território foi desbravado, alargado e defendido por
portugueses e cujo património histórico e cultural de maior valor é, ainda
hoje, na sua esmagadora maioria, de origem portuguesa. Como também assinalou
Eduardo Lourenço, chegámos assim à situação paradoxal de Portugal, no Brasil,
estar ao mesmo tempo em todo o lado e em lado nenhum.
Mais do que do que preconceito ou estranheza,
chega mesmo, por vezes, a haver autêntico desdém pelas coisas portuguesas, como
reconheceu um dos articulistas do jornal Folha de São Paulo, quando, em 1999,
assinalou a publicação de Mitologia da Saudade, primeiro livro de Eduardo
Lourenço publicado no Brasil. Antes de assinalar a inteligência e a subtileza
sóbria “desse grande ensaísta”, o crítico brasileiro sentiu necessidade, para
se legitimar perante os seus pares e o público intelectual para quem escrevia,
de dizer o seguinte: ”Um livro sobre a saudade, escrito por um intelectual
português, tem tudo para provocar reacções alérgicas no público brasileiro. Não
há coisa a que sejamos mais refractários do que à cultura portuguesa. Para nós,
é quase uma contradição nos próprios termos. Fernando Pessoa e José Saramago só
passaram por nossa alfândega porque recalcámos a lusitanidade deles” (Marcelo
Coelho, in Folha de São Paulo, caderno Mais, 5 de Setembro de1999).
Media lusa ausente, Portugal invisível
Este quadro, que só surpreenderá quem nunca tenha
saído das águas plácidas do tautológico discurso oficial de uma nota só – que
glosa até à saciedade a ideia de que Portugal e Brasil são “países irmãos
unidos por uma amizade histórica” – não se fica entretanto a dever apenas aos
brasileiros. Portugal também é responsável por isso. Não é só o Brasil que nos
esquece, somos nós que não nos fazemos lembrar.
Antes de mais, porque conhecemos mal e nunca
verdadeiramente valorizámos a nossa própria história no Brasil, talvez pelo
facto de a epopeia portuguesa na América não estar nos Lusíadas. Camões morreu
em 1580, assinalou que Portugal chegou à quarta parte nova “onde os campos ara”
e que, “se mais mundo houvera, lá chegara”. Mas, praticamente toda a saga
portuguesa do outro lado do Atlântico – da fundação das grandes cidades ao
desbravamento e povoamento do território, da corrida ao ouro (que precede de
dois séculos a sua similar do farwest), à defesa do país contra os invasores
estrangeiros e, mais tarde, o abnegado trabalho de sucessivas gerações de
emigrantes- tudo isso estava ainda por acontecer quando o poeta faleceu. Toda
essa história está estudada nos seus diferentes e mais marcantes episódios, mas
nunca foi compilada num só volume pela pena de um artista da dimensão de Camões
que a fixasse para sempre na memória do país. Não estando nos Lusíadas, não
está no imaginário nacional.
Depois, porque tem faltado, em particular na
última década, uma estratégia devidamente articulada para nos tornarmos
visíveis no Brasil, o que se traduz num comportamento casuístico e muitas vezes
errático, em particular no plano mediático e cultural.
Desde finais da década de 90 para cá, o capital
português começou a afluir ao Brasil, e Portugal chegou mesmo a ser, durante
alguns anos, o terceiro maior investidor internacional no país, onde começaram
a actuar algumas das maiores empresas nacionais, a maior parte delas com
assinalável êxito. Hoje, para cima de 600 companhias com capital de origem
portuguesa estão presentes no mercado brasileiro e o stock de capital português
no Brasil ultrapassa os 15 mil milhões de dólares, assegurando para cima de 100
mil postos de trabalho directos.
Mas os media portugueses não acompanharam este
movimento. Cabe, com efeito, perguntar: onde estão os media portugueses no
Brasil? Onde estão os acordos de jornais com jornais, rádios com rádios,
televisões com televisões, agências de notícias de um e outro país? Onde está o
esforço da agência portuguesa de notícias para se afirmar no mercado
brasileiro?
E as questões poderiam continuar: Porque é que a
RTP tem, há anos, estruturas e investimentos importantes em todos os países de
língua portuguesa, excepto no Brasil, onde se limita a ter um correspondente no
Rio de Janeiro? Porque é que há uma RTP-África e não há uma RTP-Brasil? Porque
é que a agência Lusa, que chegou a ter uma forte delegação em Brasília e já
teve até uma Lusa-Brasil, sediada em São Paulo, agora tem apenas
correspondentes locais que se limitam a mandar informação do Brasil, mas não
fazem qualquer esforço para penetrar no Brasil? Porque é que o sítio da agência
portuguesa de notícias é um dos mais fechados de todas as agências similares
que estão presentes no Brasil? Porque é que a BBC tem uma parceria com uma
grande rádio brasileira, a CBN, da rede Globo, a Radio France Internacional um
acordo com a empresa pública brasileira de comunicação EBC e outro com a rede
de rádios Radioweb e Portugal não tem nada disso?
A Aicep e o Turismo de Portugal promovem visitas
regulares de jornalistas brasileiros das áreas do turismo e dos vinhos ao nosso
país. Mas não existe, até agora, nenhuma acção semelhante dirigida aos
colunistas e líderes de opinião brasileiros, nem qualquer programa de
intercâmbio regular entre redacções dos dois países.
O apagão mediático português no Brasil que assim
se prolonga e amplia tem já consequências estratégicas: as notícias de Portugal
no maior país de língua portuguesa do mundo são dadas, cada vez mais, pela
agência espanhola EFE!
Estratégia precisa-se
Apesar do inestimável serviço da TAP, hoje com 70
voos semanais unindo Lisboa e Porto com 10 das maiores capitais brasileiras, a
verdade é que Portugal e Brasil ainda se ignoram muito: o Brasil não conhece ou
conhece mal o Portugal mais moderno e Portugal desconhece o Brasil emergente e
conhece mal, ou tem bastante esquecida e subvalorizada, a sua própria história
no Brasil.
Dada a nossa proverbial escassez de meios, agora
agravada pela crise, e na ausência de qualquer organismo encarregado da
projecção externa do Estado, que a democracia portuguesa nunca criou,
equacionar uma estratégia de continuada projecção de Portugal no Brasil é certamente
uma missão difícil. Mas alguma coisa se poderia, mesmo assim, fazer, tendo em
conta as imensas possibilidades abertas pelas novas tecnologias e o facto de
Portugal poder contar no Brasil com uma grande comunidade de origem lusa, a par
de uma vasta estrutura de representação diplomática, consular e comercial. E
isso é tanto mais urgente quanto é certo que aos poucos vai saindo de cena todo
um conjunto de personalidades tradicionais amigas de Portugal com cuja boa
vontade o nosso país pôde contar para promover iniciativas que melhor ou pior
iam mantendo viva uma certa presença cultural portuguesa no Brasil.
Talvez se pudesse começar por promover um
Encontro Media/Negócios que colocasse frente a frente os principais
responsáveis e órgãos de comunicação dos dois países, com o objectivo de se
estabelecerem acordos cruzados capazes de potenciar as enormes possibilidades
de cooperação que estão por explorar. O Ano de Portugal no Brasil e o Ano do
Brasil em Portugal, que agora se iniciam, fornecem um bom contexto para
promover uma iniciativa conjunta do género.
Com efeito, mais do que celebrações pontuais, que
cíclica e ritualmente nos aproximam , mas são no fundo ilhas no mar de um
afastamento cultural que permanece profundo e tende a alargar-se, valeria a
pena tentar lançar as bases de uma aproximação mútua estruturante, capaz de
permanecer de forma continuada e desenvolver, na base de intenso diálogo, o
enorme potencial das nossas relações bilaterais. Mas isso terá de ser feito
partindo do reconhecimento da distância e do “estranhamento” que entretanto se
instalaram e que não vale a pena disfarçar com o discurso onírico da retórica
oficial. Como também já assinalou Eduardo Lourenço, a narrativa do “país irmão”
visa, no fundo, esconder a relação de origem país colonial/país colonizado que
os brasileiros não querem evocar, como se fossem filhos de si mesmos,
recalcando sempre o acto fundador português. Insistir nesse discurso equivale a
um diálogo de surdos institucional assente na invisibilidade mútua, uma desfocagem
de visão: por excesso (de Portugal em relação ao Brasil) ou por escassez (do
Brasil em relação a Portugal).
Se nada for feito, arriscamo-nos a que se possa
dizer de Portugal e do Brasil o que certa vez Bernard Shaw afirmou sobre os EUA
e a Inglaterra – serem dois países separados pela mesma língua. Daí para cá,
América e Grã-Bretanha souberam construir uma special relationship. O crescente
imbricar de interesses de empresas portuguesas com brasileiras – PT com Oi,
Camargo Correa e Votorantim com Cimpor, Galp com Petrobras… – talvez forneça o
terreno para que entre Portugal e Brasil venha também um dia a existir uma
idêntica relação especial. Tanto mais que o Brasil, à medida que se desenvolve
e perde o “complexo de viralata” de que falava Nelson Rodrigues, tenderá a ser
mais generoso para com a sua própria história, e portanto, também para com
Portugal.
Mas não podemos esperar que isso aconteça por
geração espontânea. Temos que agir nesse sentido, encarando as coisas como elas
são, assumindo um relacionamento descomplexado e realista e sobretudo
garantindo uma muito maior projecção da nossa cultura no Brasil. Dada a
desproporção existente entre os dois países, haverá sempre uma diferença de
impacto assinalável. Para já não falar das telenovelas, é garantido que
qualquer acção cultural do Brasil em Portugal, ainda que pouco relevante, terá
sempre assegurada ampla repercussão, enquanto a inversa não é verdadeira.
Qualquer acção nossa, mesmo de mérito internacional reconhecido, se não for
acompanhada por intensa acção mediática, passará despercebida do grande público
brasileiro, como aliás aconteceu o ano passado, por exemplo, com a exposição de
Paula Rego na pinacoteca de São Paulo.
Em 2000, ao fazer o balanço das comemorações dos
500 anos da Descoberta do Brasil, Eduardo Prado Coelho escreveu que se o nosso
país quisesse assegurar uma presença relevante além Atlântico teria de “actuar
em termos muito intensos de indústria cultural e ocupação mediática”. De então
para cá, alguma coisa se fez. Para além do culto a Pessoa e a reverência para
com Saramago, que continuam muito presentes, um punhado de autores portugueses
contemporâneos – Miguel Sousa Tavares, Inês Pedrosa, Gonçalo M. Tavares, José
Luís Peixoto, valter hugo mãe… – são hoje conhecidos no Brasil e a presença da
Babel e da Leya introduz uma nota de prestígio no mercado editorial brasileiro.
Os acordos de cooperação no cinema e no teatro, lançados pelo Tratado de
Amizade e Cooperação de 2000, produzem também os seus frutos. No fado, Mariza é
nome consagrado e, mais recentemente, Kátia Guerreiro, António Zambujo e
Carminho, entre outros, também abrem caminho. Largas centenas de estudantes
brasileiros fazem os seus cursos em universidades portuguesas e mantém-se
intenso o diálogo académico a diferentes níveis.
Continua, entretanto, a faltar a tudo isso
expressão mediática. Em 2004, a Globo retirou a RTP da sua rede de distribuição
por cabo e a estação pública portuguesa perdeu, de um dia para o outro, 2/3 da
sua audiência no Brasil. As emissões da SIC, que a substituíram, baseadas que
são na programação interna portuguesa, não dialogam verdadeiramente com os
diversos públicos do Brasil e a generalidade da imprensa brasileira continua a
ignorar Portugal, excepto pelas más razões.
O alerta lançado há doze anos por Prado Coelho
continua, portanto, actual. E a construção de uma relação especial entre os
dois países permanece um desígnio por cumprir. O desafio é imenso e os meios
são escassos, o que nos leva logo a pensar em Chico Buarque: “Tanto mar, tanto
mar…”. Mas, como lembrou Mia Couto, “O mar foi ontem o que o idioma pode ser
hoje – basta vencer alguns adamastores”.
Carlos Fino, jornalista, com Portugal Digital
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